Por Pedro Barcellos (Bagé, RS)
Naquela noite
fantasmagórica, as luzes bruxuleavam como se brincassem de esconde-esconde com
suas próprias sombras. Não havia eco; pois não havia som, nem passos na água
fria que se acumulava na calçada. Não havia badalar de sino de igreja alguma.
Os postes riscavam a noite com linhas incandescentes, mas a escuridão do
silêncio era um manto que abafava até o farfalhar das folhas secas. Tudo estava
suspenso no tempo, como uma respiração presa, tomada por vapor de panela, em um
giro de desmaio, lento e infinito. Até que houve um respiro, um rasgo na noite
úmida, um estrondo à frente da igreja. As nimbus se chocaram. Uma faísca se
fez, um raio beijou a cruz; e o trovão se adonou de cada ruela, de cada casa e
de cada ouvido, em Bagé. As gotas caíram rápido; e o tempo andou. O relógio,
iluminado, como que para compensar o trabalho não feito, girou rápido, dando
tantas voltas quanto possível, enquanto as gotas martelavam o asfalto, o zinco
quente e o sono de quem acordou na calada da noite, sem saber que o tempo parara.
O coração descompensado, batendo rápido; não era susto do trovão que ressoava
no quarto, era o tempo se recuperando. Agora, o vento varre as ruas; e a chuva
limpa as janelas, horas passadas... A noite pariu, o dia pode chegar de
mansinho e tudo seguir na engrenagem da vida, sistêmica e perfeita.
(Pedro Barcellos é membro do Movimento dos Escritores Bageenses, MEB)
Obrigado!!!
ResponderExcluirParabéns pela tua revista.