sábado, 1 de maio de 2021

GRITO INFINITO

 Por Ildefonso de Sambaíba (Brasília, DF)


Mesmo aqui, nestes sules

de uma Capital da Esperança, 

ela se apaga, depois rebrota

como o cerrado, das chamas,

para doar lobeiras ao guará.


Mesmo naqueles desnortes

de um Campo da Esperança,

encova-se, depois transcende

tal yaras que emergissem das

águas sagradas do Paranoá


- mais!mais!mais!


Quando chegar outubro,

sob a aula das aflitas cigarras,

saberemos romper o silêncio,

com um grito... ... ...infinito!


E quando chegar abril

(dia 21, ano 21, século 21),

no cenário de aniversário,

cá ainda estará, Esperança?


- Esperar, sem desesperar.


(Poema ganhador do "Prêmio Alan Vigiano de Literatura", promovido pelo Sindicato dos Escritores do Distrito Federal e pelo Instituto Fazer o Bem)

RUÍDOS


Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)




 

QUANDO TE CONHECI


Por Vânia Moreira Diniz (Brasília, DF)


 

LIVRO.LEITURA

Por Gustavo Dourado (ATL, Taguatinga, DF)


 

AMADA TERRA!


Por Maria Félix Fontele (Brasília, DF)



 

INDÍGENAS DA MINHA PAMPA

Por Fátima Fabiana (Bagé, RS)



 

MEU COMPANHEIRO

 Por Lúcia Oliveira (Bagé, RS)



TOSSORES DE LEITE

 

TOSSORES DE LEITE (adaptado)

(De Vagner Garcia “Seu Negro”)

     Por Severino Moreira (Bagé, RS)

Quem já me ouviu contar o causo das ovelhas do "Tio Negro", que findaram por pegar cria dos veados que existiam em qualquer quantidade no campo, há de lembrar que no dito causo, falei que esse vivente, hoje, é dono de uma "chacrita" perto da cidade de Bagé.

Para que melhor lhes explique, essa chácara foi comprada com a “plata” da venda do tal campito onde a história das tais ovelhas aconteceu. Aquele mesmo campo dos pajonais e dos sumidouros e que por sorte apareceu um caipora interessado em comprar, e até não pagou muito pouco.

A chácara que tem hoje é uma fração de terra com quase vinte braças de campo, boa aguada, boa pastagem e terra preta dessas que se pode plantar quase tudo, e em razão disso ele fez uma bela horta e o restante do campo encheu de vacas para tirar leite e vender na cidade.

Bueno, vacas no pasto, pastagem farta e tudo o mais para dar certo. Ou melhor quase tudo, pois as vacas não eram de raça leiteira, de modo que davam muito trabalho, e lucro quase nada, quando tirava dois litros de uma delas era uma glória.

Já estava quase desencantando mais uma vez, com o destino que sua vida tomava, pois desse jeito a produção não sustentava a família, quando descobriu um "lindeiro" que tinha, não uma chácara, mas um sítio com uma braça e pouco, e mesmo assim vendia “tossores” de leite.

Resolveu fazer uma visita ao dito vizinho, desconfiando que devesse haver no sítio alguma pastagem muito especial.

 Precisava saber o que era e plantar na chácara, para então se juntar com “as patacas” e tirar o "pé do barro".

Chegando ao local, lá estava o vivente tirando leite de uma vaquinha bragada. Um bichinho porqueira, miudinha, descarnada, pouco maior do que um cachorro, e sem querer fazer exagero já tinha ao lado um barril desses de duzentos litros acima do meio de leite, enquanto que o "ubre" da vaquinha de tão cheio, ainda, fazia arrastar a ponta dos tetinhos no capim.

O pobre do "Tio Negro" gastou um balde de saliva, conversando o homem para comprar a tal vaquinha, mas não ouve jeito. O argumento do dono foi um só. Essa vaquinha come por meia vaca e da leite por cinqüenta, portanto, não há dinheiro que pague.

Não vendeu a vaquinha, mas noticiou a origem do animal, de modo que pudesse, também, comprar uma vaquinha leiteira, desde que não fosse a sua que representava nada menos que o sustento da família.

Comprar uma vaca daquelas, já era uma questão de honra e sobrevivência, de modo que no primeiro canto dos galos, já estava com o cavalo encilhado, para em seguida montar e picar espora em direção do campo do criador da bendita raça.

 Ia formar o plantel de gado mais leiteiro de toda a região fronteira.

Chegou ao rancho do referido criador, já virado do meio dia, e se encantou olhando na mangueira aquele mundaréu de vaquinhas remoendo na maior calma do mundo enquanto a terneirada “escramuçava” na volta.

Eram todas bragadinhas, e quase iguais a tal vaquinha leiteira de seu "lindeiro".

Não fez rodeio, e apresentou-se logo após um “Oh de casa”, como interessado em comprar o gado.

Acontece que o preço das vacas era de fazer cruz, de modo que precisou vender mais de vinte das suas para pagar uma só mas, enfim, era questão de honra ter uma vaca daquelas no campo.

Comprou a vaca, e lhes digo era mansa que nem um cachorrinho. Foi só botar uma piola no pescoço e ela se foi cabresteando e a terneirinha da mesma forma a trotezinho do lado.

Chegou já de noite nas casas, amarrou a terneirinha e largou a vaca em um cercado de azevém, para depois desencilhar, dar uma bóia para o cavalo, e só então tomar o primeiro mate do dia. Ou seja da noite.

Levantou no dia seguinte, antes do Sol, tomou uns mates e depois pegando um cepo de cortiça, se abancou ao lado da vaquinha, apojou e começou a puxar os tetos.

O "ubre" da pobrezinha arrastava no chão, tinha amanhecido tão cheio que o animalzinho estava com as pernas “arqueadas” e o fio do lombo igual uma bacia. Digo mais, se demorasse mais meia hora, a vaca estaria com as patinhas no ar apoiada só no “ubre”.

Foi tirando leite e enchendo, um balde, dois baldes, três baldes...dez baldes,... quinze baldes, mais o balde do poço, o jarro, as panelas, as canecas, o tacho da marmelada, as gamelas, o penico... E a vaquinha cada vez dava mais leite.

Não tendo mais onde juntar, começou a despejar nos cochos dos bichos, eram porcos e cachorros empanturrados, de tanto leite e a vaquinha sempre com o "ubre" tão cheio que os tetinhos pareciam estaqueados, apontando os quatro pontos cardeais.

Foi, então, que lá pelas tantas a tia Ilma saiu lá fora e gritou.

"Virge meu véio, bombeia só o tamaínho da vaca”.

Lhes conto, e periga ser verdade, mas estava com menos de dois palmos de altura, pois tinha se esvaído em leite.

Para arrematar o causo, eu digo que levou dois meses, uma semana, três dias, cinco horas e alguns minutos para o pobre animal voltar ao tamanho normal.

 Vocês nem imaginam a trabalheira que deu para a terneirinha mamar, durante esse tempo todo.

                                         

 

 

A ERA DE OURO DO HIP HOP E RAP

 

Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

 

Eu nasci em 1980, na era de ouro do Hip hop, Rap, e o pouco que sei me diz que não importa o estilo a arte musical nos envolve. E nessa era de ouro a negritude fez toda a diferença. Mas vamos ao ponto da história, a origem dos fatos. Tudo começa com o movimento cultural entre os latino-americanos, os jamaicanos e os afro-americanos da cidade de Nova York precisamente no sul do Bronx, na década de 70 com o movimento Hip hop.  Precisamente no dia 11 de agosto de 1973. Esse estilo tem como pioneiro e criador o disc-jockey Afrika Bambaataa.

Podemos assim dizer que o Hip hop é o movimento social influente. A evolução da era musical, como uma manifestação social e luta. Chegando ao Brasil o berço deste movimento é São Paulo, onde surgiu por volta dos anos 80. Seus encontros aconteciam na Rua 24 de Maio e no Metrô São Bento. De lá saíram muitos artistas. Temos como exemplo Thaíde, DJ Hum, Racionais MC 's, Rappin Hood...

O DJ Hum iniciou sua carreira em 1985 e é considerado por muitos como um dos pioneiros do movimento aqui no Brasil em companhia do antigo parceiro Thaíde. Thaíde é o nome artístico deste rapper. Também é compositor, produtor, apresentador e ator brasileiro. Seu nome real é Altair Gonçalves.

Agora aportando na história do Rap vamos entender o significado dessa palavra. Pelo que conta a história esta palavra tem como significados ritmo e poesia. Praticamente uma poesia por ter rimas em cada linha musical, mas se não fosse o fato de que poesia não precisa ser rimada para ser uma, o rapper seria considerado um poeta. De qualquer forma ele não deixa de estar fazendo arte. E não para por aí, tem no seu contexto uma mistura de ritmos trazendo como sua marca o lado social, cultural e político onde é inserido.

Sua origem remonta à Jamaica de 1960, época em que surgiram os sistemas de som. Uma curiosidade é que estes aparelhos eram colocados nas ruas para animar os bailes que aconteciam nos guetos jamaicanos.

Esse estilo tem uma batida rápida e acelerada, contextualizando a própria letra em forma de discurso, mostrando para todas as pessoas a realidade do dia a dia. Não sei dizer se é de fato uma norma, mas em todas as letras se falam dos problemas dos habitantes pobres dos bairros e das grandes cidades. Talvez pelo simples fato de que muitos são excluídos pela sociedade.

Quanto a sua chegada no Brasil, o Rap foi chamado de Funk falado. E não diferente de outros lugares o Rap cresceu com a má fama. Este estilo nasceu na rua e cresceu na rua. Com isso ele foi marginalizado. Na visão de muitos o Rap é música de bandido.

No entanto ele é uma expressão artística urbana, mostrando os problemas que acontecem nas periferias. 

O ponto a se enfatizar é que, tudo que envolve realidade e não o mundo do faz de conta é visto como coisa de bandido. Independentemente de estar levando cultura para as comunidades pobres e tirando os jovens das ruas.

Agora que já sabemos um pouco da história do Hip hop, do Rap vamos ao ponto de partida onde a negritude fez a diferença.

A negritude sempre teve o papel fundamental em todos os estilos. No Rap temos como exemplo o Black Juniors. Muitos dizem que eles são os precursores do Rap no Brasil, mas há os que dizem que é o Miele e a grande maioria diz que foi o Pepeu e o Mike. Neste caso irei falar do Black Juniors, um grupo que marcou a história nacional desse estilo musical.

Nesse contexto também podemos inserir Jair Rodrigues, por uma razão. É que muitos acreditam que algo parecido com o Rap feito pela primeira vez no Brasil foi o clássico ‘’Deixa isso pra lá’’ do cantor, gravada no ano de 1964. Os autores desta obra são Edson Menezes e Alberto Paz.

Mas o importante é saber que Black Juniors marcou a era de ouro desse estilo. Black Juniors era o quarteto paulistano associado ao break. Break é uma dança de rua que se conecta com o movimento Hip Hop.

Clarisse da Costa é cronista, artista plástica e ativista do movimento negro em Biguaçu Santa Catarina 

Contato: clarissedacosta81@gmail.com

IN BLACK (ASHES OF THE HOURS)

 Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)


In the sunny morning I caught the ashes of the hours

On a sunny Monday morning I went to get my holy grail.

 I went to fetch the book the ashes of hours

 

Na renascença no novo mundo

No termino do baixo medievo

No meu encontrar comigo mesma

No meu abrigo seguro

Na volátil torres de marfim

Onde tudo fazia sentido

Até a pouco

***

O eu recoberta de negras vestes

O eu noturna ave rara

O eu rutila monja neurastênica

O eu a assídua do campo santo

Em desoladas em noites soturnas

Que em tediosas horas

Entre estridentes Evoés

Profundas lágrimas, intensos prantos

E sorumbáticas companhias outonais  

Eu quase morri uma noite por vez

***

Agora és tu

A minha mítica quimera

Meu etéreo mestre Adérito Muteia

Eu teu saúdo na alvorada

No início da minha manhã primaveril

És tu o meu idílico poema pastoril

O meu luminar ficcionista africano

O catedrático de ébano

Oriundo da sacrossanta mãe África 

***

Eu te saúdo

Eu te saúdo festivamente

No inverossímil texto meu

No meu santificado altar imaginativo

E sensacionalista

No meu abrigo mais que seguro 

Eu te saúdo

Imagético afro-literato Adérito Muteia



Clarisse Cristal é poetisa em Balneário Camboriú, SC.

 

 

A FALTA DE REFERÊNCIA DAS MENINAS NEGRAS

 Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

Estava aqui pensando sobre as nossas referências de quando menina… Aí me perguntei quais. Infelizmente não tínhamos. Tudo que a gente tinha era a ideologia do cabelo perfeito, cabelos longos, lisos e com balanço. Tem uma cena minha que jamais fugiu da minha memória. Eu menina, cheguei na casa da minha avó com uma toalha na cabeça e nos braços uma outra toalha bem enrolada. Eu, no meu imaginário infantil, tinha essa toalha como um bebê que eu segurava no colo.

Ter aqueles bebês grandes, com bochechas rosadas e boca vermelha, era o sonho de qualquer menina negra. E devido às condições financeiras, mamãe não podia me dar. Que referência a gente tinha? A gente queria o cabelo liso não por influência das mulheres mais velhas da nossa família e sim por causa das mídias e do preconceito que a gente sofria na época. Não é diferente de hoje. Só que hoje a gente entende tudo e sabe se defender.

Naquele tempo eu não tinha a mínima noção do que era o racismo. Não se falava de raça, origens… Tudo que a gente sabia não passava das histórias dos escravos. A literatura era direcionada a crianças brancas. A gente conhecia bem as princesas brancas e queríamos ser como elas.

A gente desconhecia as nossas referências negras. O motivo hoje sabemos. Durante anos esconderam de nós os escritores negros e escritoras negras. Tanto que Lima Barreto até 2015, para mim era um escritor branco da nossa literatura brasileira.

O reflexo da falta de referência também era visto nos brinquedos. As bonecas eram brancas, todas padronizadas. O padrão era olhos azuis, cabelos loiros e corpo esbelto. Ou você era uma Cinderela, ou qualquer coisa insignificante. E para muitos brancos essa coisa insignificante era ser empregada doméstica.

Clarisse da Costa é militante do movimento negro em Biguaçu,SC. 

Contato: clarissedacosta81@gmail.com