Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Estava aqui pensando sobre as nossas
referências de quando menina… Aí me perguntei quais. Infelizmente não tínhamos.
Tudo que a gente tinha era a ideologia do cabelo perfeito, cabelos longos,
lisos e com balanço. Tem uma cena minha que jamais fugiu da minha memória. Eu
menina, cheguei na casa da minha avó com uma toalha na cabeça e nos braços uma
outra toalha bem enrolada. Eu, no meu imaginário infantil, tinha essa toalha
como um bebê que eu segurava no colo.
Ter aqueles bebês grandes, com bochechas
rosadas e boca vermelha, era o sonho de qualquer menina negra. E devido às condições
financeiras, mamãe não podia me dar. Que referência a gente tinha? A gente
queria o cabelo liso não por influência das mulheres mais velhas da nossa
família e sim por causa das mídias e do preconceito que a gente sofria na
época. Não é diferente de hoje. Só que hoje a gente entende tudo e sabe se
defender.
Naquele tempo eu não tinha a mínima noção do
que era o racismo. Não se falava de raça, origens… Tudo que a gente sabia não
passava das histórias dos escravos. A literatura era direcionada a crianças
brancas. A gente conhecia bem as princesas brancas e queríamos ser como elas.
A gente desconhecia as nossas referências
negras. O motivo hoje sabemos. Durante anos esconderam de nós os escritores
negros e escritoras negras. Tanto que Lima Barreto até 2015, para mim era um
escritor branco da nossa literatura brasileira.
O reflexo da falta de referência também era
visto nos brinquedos. As bonecas eram brancas, todas padronizadas. O padrão era
olhos azuis, cabelos loiros e corpo esbelto. Ou você era uma Cinderela, ou
qualquer coisa insignificante. E para muitos brancos essa coisa insignificante
era ser empregada doméstica.
Clarisse da Costa é militante do movimento negro em Biguaçu,SC.
Contato:
clarissedacosta81@gmail.com
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