segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

O QUE É UMA CASA REAL EM EXÍLIO?

Por Dom Augustus de Saxe-Altenburg Bragança de Lucena (Rio de Janeiro, RJ)

Uma Casa (família) Real em Exílio, é uma Instituição Social, um Patrimônio Histórico e Cultural, que mantém seus costumes e tradições. Há aquelas que já possuem direitos e prerrogativas dinásticas, e outras que ainda terão estes mesmos direitos restaurados por autoridade competente, de acordo com o direito nobiliário e dinástico internacional.

A Casa e seus títulos são pró-memória, ou, para a "preservação da memória histórica"; além de, ter suas próprias tradições, costumes e normas. É uma dinastia totalmente independente, razão pela qual possui o Estatuto diferente das demais. Portanto, conforme o direito dinástico, tanto terceiros quanto seus primos reais, não têm qualquer poder para interferir em seus assuntos internos que são geralmente tratados pelo seu próprio conselho de família. A Corte apenas acata as decisões da família e as cumpre, sem qualquer questionamento.

 

A Diferença entre Casa Real e Principado

 

Uma "CASA" Real geralmente se refere à "FAMÍLIA" real em exílio que governou um país.

Um "PRINCIPADO", por outro lado, é um "TERRITÓRIO" (vassalo) governado por um príncipe ou uma princesa. Pode ser uma parte de um país maior ou um estado independente, dependendo do contexto histórico e político. Em resumo, a diferença está na governança e no status do território em relação à família real. Portanto, não se cria uma Casa Real do nada. Na verdade, existe atualmente uma má interpretação sobre isso. "Principados Vassalos" que faziam parte do Império Alemão, porém sempre foram mencionados como Grão-Ducado ou Principado, mas não como Casa.

1. Grão-Ducado de Baden

2. Grão-Ducado de Hesse

3. Grão-Ducado de Mecklemburgo-Schwerin

4. Grão-Ducado de Saxe-Weimar-Eisenach

5. Grão-Ducado de Oldemburgo

6. Principado de Lippe

7. Principado de Schaumburg-Lippe

É importante observar que a situação política e as entidades governamentais mudam ao longo do tempo. Essa lista reflete o período em que o Império Alemão existiu, principalmente entre 1871 e 1918.

 

Nota 1: Essa falta de observação e de conhecimento acaba por criar Casas sem qualquer nexo e a gerar debates entre a nobreza em exílio.

Nota 2: Precisamos entender que nem tudo se resume em Casa Real (família), pois pode estar havendo um mal-entendido quando na verdade deveria ser um Principado, que é geralmente governado por um príncipe.

Vassalo

O termo "vassalo" refere-se a uma relação de dependência política e militar que era comum durante a Idade Média na Europa. Em um sistema feudal, um vassalo era uma pessoa ou entidade que jurava lealdade e fidelidade a um senhor feudal ou monarca mais poderoso. Em troca, o vassalo recebia proteção, terras ou outros benefícios do senhor feudal.

Essa relação era geralmente formalizada por meio de um juramento de fidelidade conhecido como "homagem". O vassalo estava obrigado a prestar serviços militares e políticos ao senhor feudal, enquanto o senhor feudal oferecia proteção e apoio ao vassalo. Portanto, o vassalo reconhecia a autoridade do senhor feudal e se submetia à sua liderança em troca de segurança e recursos.

A Baviera

Quanto ao Reino da Baviera, entre outros, o termo "vassalo" não era apropriado, já que a Baviera era um dos estados constituintes do Império Alemão, e a relação entre eles não era de vassalagem, mas sim de integração política em uma união de estados independentes

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS (EM HAICAI)

 Por Leandro Bertoldo Silva (Padre Paraíso, MG)

Capítulos XI a XV


COMO ENTROU MARIA MATOS NO CONSERVATÓRIO

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)

 

Compareceu no Conservatório de Lisboa, frágil e deprimida rapariguinha, que vinha prestar prova da admissão.

Diante do ilustre júri, a garotinha, enfiada, permanecia constrangida, contrafeita, estática e de olhos assustadiços.

Nervosamente balanceava as vestes, como as quisesse compô-las, numa tremenda ansiedade.

Condoído pelo inopinado acanhamento, o júri, sussurra-lhe, em voz amiga:

- " Diga, por favor, um poema..."

Enrubesce de pejo, a menina, e erguendo a custo os embaciados olhos:

-" Não me recordo de nenhum..."

Compassivos, insistem, amaciando ainda mais a voz:

- " Pequeno texto, que goste. Qualquer coisa que conheça de cor:

-" Não me lembro de nada..."

Proferiu em voz apertada, temendo e tremendo, mormente os irrequietos bracitos.

Estupefactos perante o inesperado acanhamento, o júri já pensava vedar-lhe o ingresso, quando...

Mirando pensativo a rua, de olhar vago, olhando através da vidraça da janela, o dramaturgo Dom João da Camara – membro do júri, – presenciava, apreensivo, e em silencio a cena deplorável.

Acerca-se da retraída menina, e movido de comovida compaixão, enternecido, sugere:

- "Menina: diga a Avé – Maria..."

Empertiga-se a jovem, perfilha-se, enrija o peito, e em tom forte e sonoro inicia a invocação.

Foi a mais comovedora e terna invocarão à Mãe do Céu, que jamais se ouvira.

O escritor, poeta e dramaturgo, descendente do conhecido navegador João Gonçalves Zarco, num gesto de singular bondade, conseguiu que a inesquecível atriz Maria Matos, pudesse matricular-se no Conservatório.

Não devo terminar a crónica, sem contar a mais sublime faceta da atriz – a gratidão:

Em missiva, (*) datada a 28/06/1910, depositada na posta de Castelo Branco, endereçada a sua mãe, a Senhora Dona Emília da Camara Almeida Garrett, amiga de Maria Matos, escreveu:

(...) A atriz está aqui em "tournée" e parece-me muito atilada (baseava-se na conversa que teve, em sua casa, com Maria Matos,) e confessou-me, que sempre possível passa pelo cemitério, onde repousa Dom João da Camara e, junto do tumulo, reza e  pede-lhe conselhos.( Cito de cor.)

Maria Matos era de sensibilidade delicada e nunca olvidou quem lhe facilitara a fulgurante carreira artística.

*) Carta que minha querida amiga Dona Maria Eugénia da Camara Rebello de Andrade, neta do escritor, teve a gentileza de ma ler.

 

 

 

UMA ESTRELA VAI BRILHAR


Uma Estrela vai Brilhar - Música Natalina

Valéria Gurgel (Nova Lima, MG)

O Natal já vai chegar e uma estrela vai brilhar

Abra o coração, deixe o amor entrar, vem viver essa emoção.

A história é milenar, todos sabem recontar

Nos momentos de alegria ou de dor

Ele é nosso Salvador!

Nasceu pequenino, esse bom menino

Numa manjedoura em Belém

Jesus é um Ser peregrino, ele é tão cristalino

Sempre, rogamos a ele!

Não estamos sozinhos, ele veio pra nos ensinar

A partilha do bem, esse Bem Maior

Jesus é um Ser peregrino, ele é tão cristalino

Sempre, rogamos a ele!

O Natal já vai chegar e uma estrela vai brilhar

Abra o coração, deixe o amor entrar, em viver essa emoção.

A história é milenar, todos sabem recontar

Cante essa canção, vamos dar as mãos

Nos unir por um mundo melhor

Nasceu pequenino, esse bom menino

Numa manjedoura em Belém

Jesus é um Ser Peregrino, ele é tão Cristalino

Sempre, rogamos a ele!

Não estamos sozinhos, ele veio pra nos ensinar

A partilha do bem, esse bem maior

Jesus é um Ser peregrino, ele é tão cristalino

Sempre, rogamos a ele!

Uma Terra de paz, é a gente quem faz

Uma estrela vai brilhar!

A ARTE POÉTICA DE VALÉRIA GURGEL

Por Valéria Gurgel (Nova Lima, MG)





 

CORDEL DO ANO NOVO

Por Gustavo Dourado (Taguatinga, DF)

Feliz 2024

 

Festival do Ano-Novo

Desde a antiguidade

Na velha Mesopotâmia

Foi grande festividade

Quando ainda era criança

Festejei boa novidade

 

Em 2.000 a.C

Começou o Festival

Na antiga Babilônia

Foi festa primordial

Equinox primaveril

A Lua Nova magistral

 

Festejava-se em março

Uma festa de primeira

O povo aproveitava

Sacudia a pasmaceira

Saudava o Sol nascente

Depois de noite festeira

 

A 23 de setembro

Ano-Novo celebrado

Pérsia, Assíria, Fenícia

No Egito...sol adorado

E na Grécia em dezembro

Era bem comemorado

 

Na Roma antiga o festejo

Em março era bem dado

Depois passou a janeiro

Por ser Jano cultuado

Há muito o Ano-Novo

Pelo povo é celebrado

 

Em 25 de Março

Era o ano festejado

Chegava a primavera

No mundo do outro lado

Até primeiro de abril

Novo ano cultuado

 

Em 153 a.C

O ano-novo romano

A festa consolidou-se

No calendário juliano

Dia 1º de janeiro

Calendário gregoriano

 

Gregório XIII marcou

O primeiro de Janeiro

Hoje é comemorado

No Ocidente inteiro

E até pelo Oriente

Já é ato costumeiro

 

Mudou-se o calendário

O povo festeja a mil

Resquício da tradição

O primeiro de abril

É o Dia da Mentira

Na Europa e no Brasil

 

Na noite de São Silvestre

O povo fica acordado

Para a virada do ano

É preciso estar ligado

É noite de dormir pouco

É costume consagrado

 

O Ano-Novo chinês

É móvel no calendário

Em janeiro ou fevereiro

Li no Perpétuo Lunário

Lumes e pirotecnia

Fluem do vocabulário

 

A 19 de março

Do calendário atual

Ano-Novo esotérico

De cunho espiritual

Resgata-se a tradição

De um tempo imemorial

 

Hégira...Rosh Hashaná

Buda...Moisés...Maomé

Cristo Jesus em Belém

Menino de Nazaré

Harmonia para o mundo

Menos bomba, mais café

 

Pé de porco e lentilha

Gritar, correr e dançar

Bombom, balinha e doce

Festejos a beira mar

Oferenda para o santo

Fogos explodem no ar

 

Corte o mal pela raiz

Chega de insanidade

Vivemos a comunhão

Basta à barbaridade

Hora de ter união

Paz, amor e liberdade

 

Haja fogos, oferendas

E os gritos de alegria

Chega de guerra e terror

Fome, ódio, hipocrisia

Paz e amor para todos

Saúde e sabedoria

 

Sonhos, fé e esperança

Nossa alma renovada

Balas, fogos de artifício

Abraços e buzinada

Pelo fim da violência

Paz e amor na jornada

 

Deseje o bem a todos

Faça-se a renovação

Troque a roupa e os lençóis

Alivie a sua tensão

Sorria, se ilumine

Faça uma boa ação

 

5, 4, 3, 2, 1

A contagem regressiva

Um adeus ao ano velho

Viva a vida progressiva

Sem guerra, sem atormento

Consciência reflexiva

 

Depois das festividades

Volta-se à realidade

Pelejas, cotidiano

No campo e na cidade

Trabalhe com fantasia

Na busca da eternidade

 

Em tempo de conflito

Vamos todos nos cuidar

Pra não transmitir o medo

Sem ligar para o azar

Amor com mais consciência

Um novo ser despertar

 

Ser sábio e coerente

Saber conscientizar

Acordar para a verdade

A vil mentira evitar

Despertar cidadania

Conjugar o verbo amar

 

Que o Ano-Novo ilumine

Com paz e felicidade

Que o mundo evolua

E floresça a liberdade

Que o Amor prevaleça

E haja mais boa vontade

 

2023 dormiu

2024 raiou

Continuemos na luta

Novo sonho despertou

A musa renova o verso

Poesia transmutou

 

Agora é para valer

2024 vigora

A vida a nos guiar

Na poesia que aflora

Vamos todos navegar

Por universos afora

 

Novo ano que acorda

Vamos nos harmonizar

Cultivar a irmandade

Humanidade a cantar

Ser sol solidariedade

Os sonhos multiversar

 

Um Ano-Novo de luz

O novo sol vai brilhar

Pluriverse o dia a dia

O novo ano luz raiar

Que tudo se concretize

Possa a vida melhorar

 

Pra você tudo de bom

Saúde e Felicidade

Novo ano de harmonia

Luz.Solidariedade

Paz...Amor e Alegria

Sucesso...Fraternidade

 

Feliz 2024...

Feliz Ano-Novo

Gustavo Dourado

 

Reflexão de Ano-Novo

 

Chega de ódio e mal

Um basta à infelicidade

Cultivem amor e alegria

Melhorem a sociedade

 

O que deseja a outrem

A ti retornará adiante

Ame a paz, a natureza

Respeite o semelhante

 

Mais um ano q se finda

Um novo ano que vem

Manter a cabeça erguida

Sem fazer mal a ninguém

 

Perigo em cada esquina

Cuide dos seus e da rua

Fazer o bem é o caminho

Pois a luta continua...

 

 

 

 

NAMOROS PASSAGEIROS

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Esse negócio de ficar e,

não querer namorar nem casar.

Essa moda não é para mim.

Pois eu quero evoluir.

 

Essa moda de namorar,

e o namoro nunca acaba.

Esse negócio para mim não dar.

Namoro é para casar.

 

Esse enrolo sai para lá.

Não brinca nem joga com

os sentimentos dos outros.

Nem joga contra o vento.

 

De namoros passageiros,

meu coração está correndo.

Meus olhos já não estão brilhando.

E eu, não quero isso para mim.

FOI MELHOR ACABAR AQUI

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Foi melhor terminar aqui.

Você não fazia mais bem para mim.

Foi livramento esse fim.

Doeu mais eu superei.

 

Minha alma você,

só aborrecia.

E os meus olhos,

lágrimas escorria.

 

Foi libertador esse fim.

Sofri no início.

Superei no final.

Você não merecia minha amizade.

 

Some você é má.

Orgulhosa quero você,

fora da minha vida.

Fora da minha bela vida.

SELETIVA DEMAIS

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Seletiva demais é,

essa bela poeta.

Ela sabe o que quer.

Não perturba a bela.

 

A poeta é cara.

Doce e singela.

Romântica  e bela.

É essa poeta.

 

É muito exigente.

Cuidado homem imaturo.

Ela manda você voar.

Seletiva é ela.

 

A bela poeta.

É doce e singela.

Romântica e bela.

Cheia de princípios ela é.

 

Seus valores são

inegociáveis oh bela mulher.

Seletiva ela é.

Seletiva é.

 

O PROCESSO TE FERE, O PROPÓSITO TE CURA

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


A caminhada é longa.

As dores inevitáveis.

As angustias tomam,

contam da minha alma.

 

O processo fere sua alma.

Machuca, dói e sangra.

Você é capaz de superar,

toda essa dor.

 

O propósito é lindo.

Cura sua dor.

Renova o amor.

E te faz um glamour.

 

A ferida faz parte do processo.

A cura é a recompensa.

Você é capaz de suporta.

Vale apena aguentar.

 

Não desista siga.

Tenha fé.

Resiliência sua melhor,

amiga é.

 

 

 

ANO NOVO, VIDA NOVA

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)

Ano novo.

Vida nova.

Tudo novo agora.

Dois mil e vinte quatro chegou.

 

Novos sonhos.

Novas metas.

Novas oportunidades.

Seja bem-vindo senhor.

 

Quero te agradecer.

Pelo ano que chegou.

Louvar  e bendizer,

como é grande seu amor.

 

Meus sonhos te consagro.

Meus projetos te apresento.

Minha vida te entrego.

Quero está em seu altar.

 

Sua casa é o meu lugar.

Feliz vida nova.

Feliz ano novo.

Bem-vindo 2024.

 

CORDEL DO NATAL

Por Gustavo Dourado (Taguatinga, DF)

 

Que significa o Natal?!:

Solstício:Inverno/Verão

É uma festa litúrgica

Crística celebração

Luzes da cosmogonia

Na cidade e no sertão

 

O Natal é festa antiga

Tanto quanto o Carnaval

Na velha Mesopotâmia

Celebração cultural

Nos idos da Babilônia

Foi Zagmuk festival

 

Confraternizar a paz

Prazer e gastronomia

Baco-Dioniso, festa

Cristaluzes da alquimia

Pão e vinho consagrados

À divina eucaristia

 

Em família, paz e amor

Na cultura ocidental

É Zeus a lutar com Cronos

Vasto Olimpo sideral

Em Roma a Saturnália

Nas raízes do Natal

 

Jantares, festas nas ruas

Com velas e ornamento

Sol invitcus brilhante

Dá-se o grande nascimento

Com alegria e presentes

Grandioso movimento

 

Tinha jejum, comunhão

Um bom lanche era servido

Com o tempo evoluiu

Novo rito definido

Frutas, bolo, panetone

Bem assado, bom cozido

 

São Francisco fez presépio

Lutero a árvore enfeitou

Atos de ecumenismo

O costume prosperou

As meias e sapatinhos

Na chaminé nos chegou

 

Em 1881

Publicidade total

A Coca-Cola inventou

Papai Noel atual

E São Nicolau tornou-se

Um mito comercial

 

Jesus foi incorporado

Pelo Império Romano

Fizeram adaptação

Foi de Cristo, sol arcano

Alfa e Ômega que brilha

Multiverso soberano

 

Só depois veio o peru

Um hábito americano

Bacalhau e rabanada

Um costume lusitano

Biscoitos deliciosos

Desde o tempo romano

 

Uvas, vinhos e champanhe

Pinheiro, Árvore de Natal

Enfeites e ornamentos

Rito tradicional

Menino Jesus em cena

Missa do Galo ao final

 

Pra miséria sublimar

Consumálias e fartura

Ultrapassemos a cri$e

Divida-se a rapadura

Endurecer se preciso

Mas sem perder a ternura

 

Pra você tudo de bom

Saúde…Fraternidade

Um Natal de equilíbrio

Luz…Solidariedade

Paz…Amor e Alegria

Sucesso e Felicidade

 

Um Natal de paz e amor

Sua estrela vai brilhar

Que tudo se concretize

Possa a vitória alcançar

Realize os seus desejos

E conjugue o verbo amar

 

O QUE ESPERAR PARA 2024, VOVÔ?

Por Paulo Cezar S. Ventura (pcventura@gmail.com - @paulocezarsventura)(Nova Lima, MG)

 

Todos os finais de ano e início do ano novo as histórias se repetem. Sempre queremos algo novo, perspectivas novas, alegrias novas: desejos que quase nunca são satisfeitos, porque a mesmice reaparece depois da Folia de Reis. Retiram-se as luzes extras colocadas nas praças, as vitrines das lojas readquirem seu aspecto anterior. O que muda é o barulho das ruas, agora com os ensaios exaustivos das escolas de samba e dos blocos de carnaval que cresceram como pragas (muitos gostam) pelo Brasil afora. Depois do Ano Novo, espera-se o Carnaval chegar. E quem sabe a vida volta ao normal de antes. Mas as nossas esperanças permanecem. Ainda bem.

Para o ano novo, desejo:
— que o tempo não se meta
na vida dos amantes.
Nem dos velhos.

 

Principalmente dos amantes idosos e das amantes idosas. De todos os gêneros. Afinal, o que todos desejam, por direito adquirido, é viver, amar, aprender e deixar um legado. Frase que, originalmente publicada em inglês, carrega uma sonoridade maravilhosa (live, love, learn, and leave a legacy) todas com a letra l.[i] É exatamente o que nós, pessoas idosas, também queremos para nossas vidas: viver em paz, dar e receber amor, ainda aprender e cuidar daquilo que queremos deixar para as gerações futuras, muito além dos patrimônios materiais.

— Que o sofrimento não atemorize corpos.
Que morte chegue suave
aos doentes terminais,
ao som dos Beatles.

 

Sim, um dia ela vem. Para todos. Tive a honra de acompanhar o meu pai durante o período crítico de sua vida, justamente na terminalidade dela. Foi um dos maiores aprendizados que tive ao longo de minha existência. E dele também. Eu, amante dos Beatles, usei a música dos rapazes de Liverpool como trilha sonora, principalmente Yelow Submarine. Mas poderia ser outra música. Trilhas sonoras são colocadas a gosto do diretor de cena, sempre com o intuito de, através da emoção, sugerir novos olhares.

— Que a luz dos olhos de minha morena
brilhe como faróis em tempestades
e enxergue bem longe.
Guiando. Como sempre.

 

É o que a gente sempre espera das mulheres: que elas iluminem nossas vidas e nos guiem nos principais momentos de tomada de decisões. O que devemos fazer é criar as condições necessárias para que elas exerçam seus poderes de magia com alegria e serenidade. O que todo homem deve almejar na vida é uma parceira, ou um parceiro, feliz. Porque a felicidade se expande, seduz e atrai outras pessoas felizes.

— Que ninguém perceba o negro pela cor,
mas:
Pela beleza intrínseca. 
Pela inteligência tão normal de qualquer cor.

 

O racismo ainda está longe de deixar de existir. Ele é estrutural em nossa sociedade, ainda escravocrata. Algumas mudanças começam a acontecer através de algumas redes de comunicação. Nunca vimos tantas pessoas pretas nas telas de televisão brasileiras, tanto nas novelas e séries quanto na publicidade. Antes eu pensava que algumas coisas eram privilégios de brancos: comprar um imóvel, por exemplo. Outras ainda são. Ser atendido com dignidade nos serviços de saúde ainda é diferenciado pela cor da pele. Gostaria que toda pessoa idosa preta fosse vista, e atendida, com alegria nos olhos, pois ela trás a sabedoria dos ancestrais, sabedoria adquirida no sofrimento da vida.

— Que a indignação não desapareça
dos semblantes éticos.
São poucos.
Precisam crescer como pragas boas.

Só a indignação pode levar à frente um projeto de verdadeira mudança no caos da vida. Porque as pessoas se acomodam e começam a acreditar que é normal o sofrimento, é normal a dor do outro, é normal a luta anormal empreendida pela maioria. O que nos salva é nossa indignação.

— Que a vida, 
e a alegria de viver,
sempre renasça no sorriso das helenas,
tão pequenas, serenas.

Nossas esperanças sempre são colocadas nos ombros de nossas crianças. Sempre colocamos em questão que mundo deixaremos para elas, mas precisamos pensar também em que crianças queremos que cresçam em nosso mundo. Se temos a mínima ideia do que queremos para o mundo e para elas no futuro, coloquemos todas as nossas fichas na educação delas. Qualquer gasto com a educação é pouco, porque educação tem que ser analisada como investimento para o futuro, não como gasto.

— Que a minha poesia sobreviva
a minhas botas e a minhas luvas
(creio ser melhor poeta que boxeador)
e meu bom humor permaneça
além das memórias.

Botas e luvas são símbolos de minha trajetória e de minha luta nesses mais de setenta anos em que permaneço neste planeta. Já caminhei muito e já dei muita porrada na vida (ambos literal e metaforicamente). Foi pouco? Deveria ter feito mais? Perguntas sem respostas adequadas. Briguei muito para ter acesso àqueles quatro direitos fundamentais de todo ser humano: viver, aprender, amar e deixar um legado. Porque a indignação permanece. Porque vi o mundo mudar tanto e tão pouco ao mesmo tempo. Fisicamente tanto, mentalmente e espiritualmente tão pouco.

Que venha um ano novo com renovadas esperanças, porque esta não morre, segundo o ditado popular.



[i] Covey, Stephen R.; Merril, A. Roger; Merril, Rebecca R. First Things First: To Live, to Love, to Learn, to Leave a Legacy. New York, Francis Covey Co, 1996.