quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

DOSTOIÉVSKI: 200 ANOS

 Dostoiévski: 200 anos 

Gustavo Dourado (Taguatinga, DF)

 

Eis Fiódor Dostoiévski

A dissecar a alma humana

Do funesto ao solitário

De uma realidade insana

Beleza e humanitismo

Com uma ação des.umana

 

Os Irmãos Karamazóv

Dostoiévski em ação

Dilemas da humanidade

Co'a a mente em ebulição

O dinheiro que avassala

Mundos em transformação

 

Smierdiákov, Raskolnikov

Em estilo arrevesado

De compreensão difícil

Tempo desarticulado

Entre o tosco e o natural

Que soa multifacetado

 

Tem tensão na narrativa

No diálogo cultural

Interação no romance

Dialógica crucial

Religioso-filosófico

Com o psico-social

 

Linguagem cheia de vida

Tem arte, engenhosidade

O movimento do tempo

Com pressa e agilidade

Drama da sobrevivência

Luta, universalidade

 

Urdidura inteligente

Temática universal

Do Socialismo Utópico

Domínio do capital

O sentimento de culpa

Com conflitos da moral

 

Rússia dos Karamazóv

Subversão, filosofia

O diabo que em pessoa

Na trama mal se anuncia

Justiça cega, incrimina

Tem bebedeira e orgia

 

Do evangélico ao satânico

Ecos da duplicidade

As contradições do ser

Constante dualidade

Da pureza à heresia

Conflitos da humanidade

 

Crítica ao capitalismo

Com desejos de utopia

Socialismo distante

Que o sonho já prenuncia

Contradições, paradoxos

Falam na polifonia

 

Foi Fiódor Dostoiévski

Romancista-Escritor

Retratou o povo pobre

Com seu gênio criador

Foi preso e perseguido

Pelo czar-ditador

 

De "O Idiota"  e "Os Possessos"

Também de "O Jogador"

De "O Duplo", "Crime e Castigo"

"Diário de um Escritor"

De Irmãos Karamazov

Dostoievski é grande autor

 

"Memórias do Subterrâneo"

"Noites Brancas",

"Pobre Gente"

"Humilhados e Ofendidos"

Verve de "O Adolescente"

"Memórias, Casa dos Mortos"

Dostoievski ferve a mente

 

Mestre russo do romance

Leu Vítor Hugo e Cervantes

Byron, Shakespeare, Homero

Schiller-Balzac triunfantes

Leu teatro, mil romances

Foi de Édipo às Bacantes

 

Polifonia romanesca

A dor e prisão sexual

Dicotomia na trama

Peleja de bem e mal

Dialética presente

Romance fundamental

AMOR E PECADO

AMOR E PECADO 

Por Tiago Martins Koeler (Brasília, DF)

-           Amo... - disse ao vigário.
-           Como? - indagou o outro.
-           Amo... - tornou a dizer.
-           Ora! E onde o pecado? Por que te confessas? Do que devo absolvê-lo? - interpelou, confuso
-           Ela é casada.
-           Hum!...
-           Eu sou casado.
-           Ah!...
-           Amo, todavia... - enfatizou.
-           Planejaste isso?
-           Não!
-           E ela?
-           Muito menos.
O padre, agora em silêncio, movimentava, ciclicamente, indicador, médio e anular, numa estereotipia peculiar.
Decorrido, porém, breve intervalo, o vigário rompera o silêncio, recomendando em seguida:
-           Dez rosários, meu filho.
-           Dez rosários?
-           Sim! Isso! Dez rosários.
-           E conseguirei deixar de amá-la?
-           É provável que não. Quiçá, seja tão improvável quanto provocar uma fenda numa rocha, lançando-lhe pétalas.
-           Então... Por que não me condenas em definitivo?
-           Ora! Se não tenho do que absolvê-lo, porque o teria de condená-lo?
-           Não me condenas, então?
-           Por amar?
-           Sim...
-           Meu filho - disse o confessor - se for para atirar a primeira pedra, que eu a atire diante do espelho. Ademais - prosseguiu - se amas, filho meu, por amor não te condenaria; e se tivesse do que condenar-te, por amor te absolveria.
-           Amo-a profundamente, padre... É tanto amor que não sou capaz de contê-lo no próprio peito.
O sacerdote contemplou demoradamente o interlocutor.
-           Como condenar-te?
-           Sou um pecador - insistia.
-           Por amar deveras?
-           Sim. Meu pecado é amar...
O vigário, no limiar da paciência, penetrando, paternalmente, o olhar daquela ovelha, arrematou compassivo:
-           Filho, acalma-te, vá e ama em paz.
 
(O poeta, contista e compositor Tiago Martins Koeler é autor do livro ‘Veredas Poéticas’. Escritor Imortal e Membro Efetivo da Cadeira no 57 da Academia de Letras do Brasil/DF).
 

A SERENATA

Por Dias Campos (São Paulo, SP)

A serenata.

            D. Amélia e seu Deodato conheceram-se em noite de gala, quando da inauguração do Clube Pinheiros, em São Paulo, no Réveillon de 1957.

            Naquela noite, ele, médico em ascensão, apaixonou-se pela linda estudante secundarista assim que a viu, tão deslumbrante estava.

Só havia um único senão que o impedia de ir convidá-la para dançar: a carranca paterna...

Esse obstáculo, contudo, foi superado graças a um providencial engasgo.

E como Deodato era o único médico disponível, tratou de abraçar o pai da adolescente por trás, ao mesmo tempo em que pressionava repetida e violentamente o seu abdômen.

Isso fez cuspir o camarão que entalara na garganta.

Essa façanha não apenas garantiu ao jovem clínico vários agradecimentos, como lhe franqueou a mão da filha à próxima dança.

Três anos depois, aproveitando-se da recém-escrita letra à valsa Rapaziada do Brás, Deodato e alguns amigos acordaram Amélia em serenata, aos pés da janela do sobrado onde morava. – É claro que seus pais também despertaram. Mas se mantiveram escondidos, quietos e na torcida.

Ao final, ele a pediu em casamento.

Ela aceitou, e os futuros sogros vibraram de alegria.

Mas se é verdade que o galanteio por meio das serestas foi-se apagando com o passar dos anos, também é exato afirmar que a lembrança daquela noite jamais se extinguiu com o transcurso das décadas.

E foram tantas!...

Nenhuma deixou de ser comemorada. Aliás, a cada decênio alcançado, Deodato fazia questão de presentear sua esposa com um objeto recomendado pela tradição.

Até hoje ela guarda, e com todo o carinho do mundo, a taça de estanho, o bibelô de porcelana, o colar de pérolas, os brincos de esmeraldas e o bracelete de ouro 18K.

Depois das bodas de ouro, ninguém na família ousou imaginar que o casal comemoraria sessenta anos de matrimônio. Afinal, pode-se contar nos dedos os sortudos que conseguiram atingir essa marca.

Ademais, a saúde de seu Deodato não ia lá muito bem... E houve até quem dissesse que ele não chegaria aos noventa.

Ledo engano.

Daí que os eternos namorados cumulavam cãs, rugas e uma vontade crescente de cortarem o bolo nas bodas de diamante.

Essa possibilidade, que se transformara em certeza aos corações avoengos, já era antegozada por boa parte dos familiares, tamanho o otimismo a que se entregavam os esposos.

E como esse estado de espírito anda de braços dados com a paciência e com o bem-estar, os anos passaram aos cônjuges sem os grandes problemas da velhice.

Faltava só um ano para que seu Deodato presenteasse D. Amélia com uma aliança cravejada de brilhantes, quando os ventos do infortúnio sopraram impiedosos...

Um derrame aconteceu e abafou a luz que irradiava do semblante da matriarca.

            D. Amélia foi internada às pressas!

Mesmo assim, as sequelas foram muito além da atrofia do lábio inferior.

            Cerca de meses foram necessários à adaptação à nova realidade, que não prescindiu da mudança para a casa do filho, da cadeira de rodas, de duas cuidadoras revezando-se dia e noite, das sessões de fisioterapia, e da abnegação de seu Deodato a tentar reviver a esperança naqueles olhos entrefechados.

            Nesses momentos, o marido lia poemas para a enferma, mostrava álbuns de família, comentava as notícias dos jornais, e criticava algumas cenas das novelas.

            Essa amorosa terapia, que na verdade não passava de um monólogo, às vezes precisava ser interrompida, pois seu Deodato percebia um fio de lágrima a escorrer no rosto da companheira.

            A uma semana das bodas, seu Deodato inspirava dó. Estava magérrimo, não se lembrava mais como era sorrir, e já não fazia questão de esconder a vermelhidão dos olhos com os óculos escuros.

            Mas quando perambulava pelo escritório, procurando um livro em que pudesse refugiar-se, o passado resolveu estender-lhe a mão...

            E os olhos nonagenários brilharam de esperança!

Sem pensar em mais nada, ele caminhou como pôde em direção ao quarto onde D. Amélia ficava. E adentrou tão esbaforido, que a cuidadora até tomou um susto, pensando que enfartava.

Ele, então, sentou-se defronte à amada, segurou-lhe as mãos, fixou-a enternecido, e deixou que um jovem trovador, há muito esquecido do Brás, devolvesse o frescor ao rosto mais lindo que já conhecera:

“Lembrar, deixem-me lembrar, meus tempos de rapaz no Brás

As noites de serestas, casais de namorados

E as cordas de um violão cantando em tom plangente

Aqueles ternos madrigais...”

            Quando terminou a serenata, os olhos dos amantes marejavam saudades...

E confirmando os votos de uma vida, seu Deodato beijou o seu eterno amor; que sorriu, e adormeceu. 

A INEVITABILIDADE DA MORTE

Por Marcelo de Oliveira Souza, IWA (Salvador, BA)

A Inevitabilidade da Morte

Diante da inevitabilidade da morte, as pessoas caem no desespero perante um poder muito maior que a gente, em que não suportamos quando a dona da foice passa a sua sentença.

Como faz parte de todo o desenvolvimento da vida, ela vem naturalmente, imponente, muitas vezes sem a gente perceber; outras vezes ela manda o convite que as pessoas teimam em não receber, onde viramos um paciente impaciente, sofrendo com uma doença terminal.

Nesse caso não é apenas o enfermo que sofre, a família toda sente o impacto, onde esse doloroso tombo aos poucos vai corroendo as nossas resistências, da mesma forma que destrói o senso lógico de cada um.

Uns perdem até a fé em Deus, chegando até a amaldiçoá-lo, outros se apegam mais ainda por um milagre que poderá não vir e depois do tombo vira-se contra o ser celestial, pois a intensa dor os impede de concatenar suas ideias.

Tem outros que mudam a sua religião na hora final, passa a aceitar dogmas totalmente contrário à sua experiência de vida.

Mesmo a morte nos traz muitas lições, muitos aprendizados são adquiridos diante dela, onde na maioria das vezes as pessoas depois de um tempo se resignam, tentando lembrar da época boa em que esse ente querido estava vivo, das mensagens que ele tentou enviar na sua passagem para o além; outras vezes o falecido é o alicerce de uma família que por sua vez se desmorona e não tem mais como reconstruir, mesmo diante de tanto sofrimento as pessoas não aprendem nada.

A inevitável morte nos intriga, tem cientista que estuda isso há anos, uns dizem que num futuro distante ela terá dificuldades de vir  ceifar as almas, mas enquanto isso não acontece, temos que estar preparados para ela, mesmo que seja uma retórica, é a mais perfeita verdade, principalmente nessa época aqui no Brasil, onde o valor da vida está menor a cada dia, onde saímos e não sabermos se voltamos, em que o consumismo virou uma religião e o amor perante o nosso Criador caiu no ostracismo.

ORAÇÃO DE SEXTA-FEIRA!

 Por Marcelo de Oliveira Souza, IWA (Salvador, BA)

Oração de sexta-feira!


Hoje é sexta-feira

Da mesma maneira

Que lembramos da súplica

Lembremos de agradecer.


Na convulsão social

Passamos por intempéries

Que não é normal.

No mundo de expiações

No obscuro de situações,

Não nos abandonastes

Na agonia, na alegria,

Tem sempre nos dado a mão.

 

Auxilia-nos a aconselhar

Flores no caminho a derramar...

Ao levantarmos, ao nos deitar...

 

As tribulações do passarinheiro,

No auxílio do dinheiro,

A vitória vem certamente,

Tu estás em nossa mente,

E a sexta-feira vem contente,

Para outra vez descansar,

Seguindo a nossa vida,

Pagando a nossa dívida,

Para um dia nosso mundo conquistar...

NOVEMBRO AZUL

 Por Marcelo de Oliveira Souza, IWA (Salvador, BA)

Novembro Azul


Um medo constante

Da invasão adiante

O preconceito doravante

Da piada insistente.


O toque retal

Da forma correta

A entrada que desconserta

Que poderá  salvar a vida

Incerta.

 

A bolinha que prende

A circulação

Ela cresce, cresce...

Com insistência.

 

Até que em  uma tarde

O juízo arde !

Em uma  operação

Sem solução...

 

Tudo isso

Porque um homem

Grandão

Tem medo de fazer

Um teste

Que salvará  sua vida

Te livrando de preocupação.

FINADOS

 Por Marcelo de Oliveira Souza, IWA (Salvador, BA)

Finados


Mortos, tranquilos, acabados
descansando a sete palmos finados
deixando sua herança ou endividado,
Espíritos puros, azulados
ou espíritos impuros obsidiados,
Precisando de oração os desesperados
Os alegres e tristes enterrados
com morte apressada ou forçados,
Os que amavam a vida
e os amargos e chateados.
Todos com uma vida passada
ou com uma vida a passar.

O ouro puro na mão, indignado
Brincando com este bem, iluminado
Vivo, deveras respeitado
Morto, nunca lembrado...

O drama do sepultado
com a imensidão da vida acabada
depois de tanta luta desvairada,
Restando cinzas e mais nada!

ENTRE MÃE E FILHA

 Por Samuel da Costa (Itajaí, SC) e Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)

Entre mãe e filha

 

           Margô mãe de três meninas, ela a caminho da meia idade, trabalhava muito para dar sustento para as filhas ainda pequenas. A família há pouco tinha se mudado do interior para a capital, Margô, mãe solteira, pretendia dar uma vida melhor para as filhas.

          As pequenas gêmeas Lara e Clara, de oito anos, eram alheias às muitas dificuldades em que viviam, que as circundavam. Mas Luci, a filha mais velha de doze anos de idade, era rebelde e não se conformava com aquela situação, com a penúria da família. Entristecendo o coração ferido, da exausta Margô quando chegava do trabalho tarde da noite. Luci perguntava com arrogância, o que a mãe tinha trazido para o jantar. Tendo como resposta com poucas variações que aquilo era que se tinha para comer graças a Deus! A mãe respondia para a Luci com os olhos rasos de lágrimas. Logo depois, cansada, tomava um banho rápido e preparava o jantar para as filhas.

          Assim eram os dias de Margô se passavam, de muita tristeza pois, a sua filha mais velha, não perdia as oportunidades de demonstrar que não suportava a situação da família. Então um dia, a mãe de Luci, decidiu dar um basta na situação! Estava mais do que na hora de mostrar para a filha tudo o que passa nas ruas e no serviço. No outro dia chamou a filha mais velha, Luci.

          — Sabe filha! Tenho um dinheiro guardado, quero te levar pra comprar roupas novas.

           — Lógico que quero mãe, vamos se divertir muito.

           — Claro que vamos! — Mal sabia a pobre garota o que a mãe estava preparando.

            — Escuta filha, logo depois, vou lhe contar um segredo que é só meu. E você verá com os teus próprios olhos.

            — Então, vamos mamãe, estou louca para escolher roupas novas.

            E assim pegaram o ônibus bem cedo, partiram rumo ao centro comercial da cidade e foram a um shopping. Luci se espantou ao ver o ônibus enchendo de gente em cada parada. A jovem também notou que alguns falavam rápido e outras línguas estrangeiras e vestiam roupas estranhas. Algumas pessoas com cara de sono bocejavam, outras dormiam e outras falavam sozinhos. Barulhos, sussurros, risos e cheiros que se misturaram naquele microcosmo tão novo para a jovem.  

               O ônibus parou ao lado do shopping e pequena Luci mais se espantou com o número de pessoas que desciam dos ônibus que não paravam de chegar e despejar pessoas e mais pessoas. A jovem nem teve tempo de notar as estruturas em volta, o enorme e moderno ponto de ônibus e nem a arquitetura envidraçada do shopping. Duas ciganas, uma idosa e outra bem jovem, com suas roupas extravagantes que liam a sorte, um senhor de idade avançada que vendia passes de ônibus e um vendedor de doces e salgados em uma pequena barraca improvisada. O barulho do trânsito também chamou a atenção da jovem mulher, subiram a rampa de acesso do centro comercial, a mãe segurando a mão da filha, o que seria constrangedor para Luci, mas não era.          

          — Mamãe olhe!? Quero entrar nessa loja...

          — Fique à vontade minha filha!

           A menina entrou na loja e logo foi barrada por dois seguranças, elas eram monitoradas desde da entrada, no centro comercial, primeiro pelos atentos olhos eletrônicos de câmeras ao alto e depois seguidas por seguranças.              

          Logo chegou o falante subgerente seguido pelo arrogante gerente da loja, ambos bem vestidos.

          — Aqui é uma boutique de roupas finas, não há nada que lhe sirva aqui! —  Bradou o gerente, da famosa loja, como se discursasse para uma multidão. Depois olhou para a menina malvestida, com seu jeito superior, como se estivesse com nojo da menina com leve tom escuro de pele e os cabelos encaracolados.  

         — Mas senhor por que?

         — Não trabalhamos com crediário, sai daqui por gentileza.

         Margô com os olhos cheios de lágrimas viu o preconceito que sua filha passava naquele momento. Mas, criou forças, sem nada dizer pegou a filha pelos braços e a afastou da situação embaraçosa que estava passando. As duas mulheres caminharam para longe da loja, foram parar em um local comum de descanso do shopping.

             Margô teve a ideia de levar Luci ao seu local de trabalho, lá onde sua filha poderia ver o desprezo e preconceito, no qual passava para poder sustentá-las. Luci já estava entristecida, pois sentiu na pele o descaso naquela boutique.

             — Mamãe é aqui que a senhora trabalha?

             — Aqui está o segredo que eu queria te contar.

             Então, chegou a chefe de Margô arregalou os olhos e toda sorridente

             —  Mas quem é a garota linda!?”

             — É a minha filha mais velha. — Margô era toda orgulho.

              — Vou pegar uma cadeira, mais confortável para a mocinha linda, não quero que suje o banco do shopping. — brincou a senhora que gerenciava o restaurante onde Margô trabalhava  

                Luci tomou a sério a brincadeira e ia sair correndo, mas, Margô a pegou firme pelo braço.

                — Lembra do segredo que ia te contar!?”

                — Lembro sim, pode me contar.

               — Tudo isto que você passou hoje, estou mais que acostumada a passar.

               —  Me perdoa mãe…!? — Luci abraçando sua mãe, chorou.  

               — Escuta filha! Para eles somos diferentes. Sofremos preconceitos.

               — Venha filha, não se culpe, erga a tua cabeça, estude muito. Tenha um outro rumo na vida.

               A partir daquele dia Luci viu o mundo totalmente diferente, mais cruel, infelizmente. Mas aprendeu a valorizar sua mãe! A população brasileira é miscigenada em razão da mistura de diversos grupos humanos. Indígenas, africanos, europeus e asiáticos… O preconceito está na pessoa que nunca estudou a história do Brasil!


Fabiane Braga Lima texto e argumento

Contato: bragalimafabiane@gmail.com

Samuel da Costa texto e revisão

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

A UNÇÃO (OS ANJOS CAEM PRIMEIRO)

 Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

A unção (Os Anjos Caem Primeiro)

 

— São só vinte quilômetros meu bom amigo! — Disse a figura ao volante.

— Que bom! — Respondeu de imediato o passageiro bem alinhado, não escondendo o mau humor, pois ele não gostava muito das cidades grandes. Achava-as barulhentas, congestionadas e onde tudo é distante. Ao contrário das cidades pequenas e médias, que para ele eram as ideais de se viver.

 E o fato de estar ali, naquela situação absurda, era um calvário e um alívio ao mesmo tempo. Há muito queria que aquilo acabasse logo, então mil coisas passavam pela cabeça dele naquela altura. Mas, tinha decidido ir até o fim com a coisa toda e de uma vez por todas. O fato dele ser pastor de profissão e, acima de tudo, por fé. E ter que lidar a toda hora e todos os dias, com a ideia do pecado de si mesmo, e das outras pessoas, não alterava o fato em nada para ele àquele momento.

E uma simples olhada do motorista de táxi, pelo retrovisor, foi o bastante para acabar com a agonia iniciada, quando ele saiu do hotel e embarcou naquele veículo de aluguel. O olhar cínico do chofer de praça denunciava a ambos.

— Posso fazer uma pergunta pro doutor? O que o senhor veio fazer aqui na capital? — Pergunta afinal o taxista, com seu sotaque inconfundível do nordeste do país.

— Vim procurar um pouco de diversão meu bom amigo, só um pouquinho e mais nada!

 E ambos deram risadas juntos durante um certo tempo, que parecia que iria durar para sempre. Daí para parar em um motel barato, de quinta categoria, em uma parte suspeita da cidade foi um pulo. E tudo estava indo como ele, o pastor, bem imaginava que seria. Tudo muito bem rápido e também impessoal. E a garota, com a descrição que ele encomendada estava lá esperando-o no quarto. Ao bater com força na porta da pocilga três vezes, como o instruíram e a mesma se abriu. E lá estava ela, como ele bem imaginava que seria, jovem, linda, cálida, decadente e toda sorridente como um anjo que perdeu as asas.

— Vim te buscar filha, vamos voltar para casa! Tua mãe te espera...  

 Samuel da Costa é poeta em Itajaí, Santa Catarina

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

 

A MULHER PRETA NA LITERATURA

 Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

A Mulher Preta na Literatura

O assunto é a mulher preta na literatura, mas antes de tudo quero contar a minha experiência. Primeiro que a literatura entrou na minha vida como uma obrigação na escola, não como algo prazeroso. Na escola a gente era obrigada a ler os autores apresentados. Não tínhamos a liberdade de escolha. Além da falta de liberdade, não tínhamos referência na nossa literatura brasileira. Era como se a população negra não existisse para além da escravidão.

Eu tive conhecimento de Machado de Assis e Lima Barreto como autores brancos, só aos 35 anos descobri a verdadeira origem dos dois escritores negros. Clarice Lispector era a minha autora preferida, eu não conhecia outra mulher na nossa literatura. Uma escritora negra estava fora da minha realidade. Clarice Lispector deixou de fazer parte da minha vida literária quando fui atrás de minhas origens.

Quando criança me apresentaram Monteiro Lobato através do Sítio do Pica Pau Amarelo, uma negação de nossas origens e histórias. Dando para a sociedade estereótipos negativos referente ao negro. A família do escritor pelo que descobrir através de relatos históricos tinha em sua casa escravos negros. O livro escrito por ele considerado o clássico da nossa literatura brasileira é literalmente composta de palavras racistas que diminui o negro. Fatos que estão nas entrelinhas, negado por inúmeras emissoras de televisão e academias.

Voltando ao assunto, em questão, as mulheres, as negras em especial, em todas as áreas abrangentes sempre foram consideradas inferiores ao sexo masculino. E, como bem sabemos, a mulher foi silenciada pela política do patriarcado. Na verdade, durante anos a mulher teve a sua vida aprisionada. A mulher existia apenas para os afazeres domésticos, para o papel de mãe e o de esposa.

Mas bem sabemos que nem todas as mulheres durante muito tempo não tinham o mesmo papel na sociedade. As mulheres pretas tinham o papel de escravas e com o fim da escravidão o papel de empregada doméstica e babá. Ver a mulher preta em outra função sempre foi um sonho para outras mulheres.

Estar na função de escritora para mim é quebrar a barreira do negacionismo imposto pelo racismo.

Eu ouvi muitos não antes de chegar até aqui. Ser escritora não é uma decisão, é uma escolha para a vida. Primeiro que quem vem antes de você se julga superior a você e coloca imposições. Numa sociedade racista onde ser negro é inaceitável.

Hoje podemos dizer que a literatura brasileira se divide em duas partes, a literatura brasileira em si, onde somente os autores brancos fazem parte e a literatura afro-brasileira. A literatura afro-brasileira é composta por escritores e escritoras negras, onde é muito falado o resgate da nossa cultura afro, nossas origens, religiosidade, nossos direitos humanos e o preconceito racial e social sofrido há décadas por nós.

O marco da nossa literatura são mulheres ocupando esse espaço e dando voz ao nosso povo. Temos como pioneiras Maria Carolina de Jesus, Conceição Evaristo, Antonieta de Barros, Sueli Carneiro e tantas outras mulheres escritoras.

O mundo literário feminino, assim podemos dizer, é como se existissem dois mundos, os das mulheres brancas e os das mulheres pretas.

A começar pela vida de ambos. Ambos tinham vidas completamente diferentes, era visível a desigualdade social. A mulher branca tinha privilégios independentemente da sua classe social, a mulher preta sempre teve que lutar para garantir seus direitos e seu respeito como mulher. Mas ambas vivem numa sociedade que séculos atrás a mulher em nenhum momento podia falar sobre determinados assuntos, ela nem sequer podia estudar, nesse caso o estudo sempre foi algo inútil. Mulheres sem conhecimento era o que a sociedade formada por homens queria.

As mulheres pretas chegaram na literatura para falarem sobre todos os abusos sofridos por conta da cor da pele. Chegaram a dar voz a tantas mulheres que viviam sem apoio até mesmo da família, mulheres que tinham seus sonhos apagados pelo preconceito de toda sociedade brasileira e a falsa democracia existente no Brasil.

Na verdade, a mulher preta veio para desconstruir a literatura feminina brasileira até então feita por mulheres brancas. Os medos, as rejeições, esse lance da beleza padrão imposta pela sociedade machista, a sexualização da mulher preta e o estereótipo da mulata faceira, veio junto com ela, trazendo a nossa literatura questões sociais, raciais e emblemáticas.

A sua luta não para. A minha luta não para. Estamos aqui para derrubar todos os preconceitos. Como diz a grande escritora Conceição Evaristo: Hoje a escrita da mulher negra tem essa função de adormecer a Casa Grande. Pelo contrário, é uma escrita que incomoda, que perturba.


Clarisse da Costa é poetisa e cronista, em Biguaçu, SC

Contato: clarissedacosta81@gmail.com

PÉROLA NEGRA

 Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

Pérola Negra

Para Rute Margarida Rita

 

Pérola negra

De um Brasil chamado África

Porém eles e elas choram

Todos os Orixás choram

Mas o poeta sorriu

***

Pérola negra de um...

Brasil que chora pela África

Pelo Velho Continente Negro

***

Pérola negra que sonha com a liberdade

Em um país chamado Brasil/África...

De um país que sorri para o Continente Negro

Ao som dos tambores

Ele chora

Eles choram

Eles dançam

Eles cantaram

Ao som dos atabaques

***

Ela sorriu!

Ela sorriu para mim

Pérola negra

De um Continente!

Chamado África!


Samuel da Costa é poeta em Itajaí, Santa Catarina

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

 

PARA A MÃE ÁFRICA (E O POVO AFRO-BRASILEIRO)

 Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

Para a mãe África (e o povo afro-brasileiro)

Para José Bento Rosa Da Silva

 

É jangada de pedra...

São as pesadas correntes

Nos meus pés...

E sou o eu acorrentado...

Na realidade que vivo!

E subjugado...

É jangada de pedra!

É o navio negreiro!

O tumbeiro...

São os negros nos cativeiros,

A encher os camburões.

É casa de pedra!

É fuga na certa!

Quilombos nas matas?

Correntes nos pés?

É fuga na certa!

Pois são séculos

E mais séculos da negra escravidão


Samuel da Costa é poeta em Itajaí, Santa Catarina

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

 

 

A PROCISSÃO DOS NEGROS (A LITANIA DOS POBRES)

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC) 

A procissão dos negros (A litania dos pobres)

Para  Zumbi dos Palmares

 

 

Cristo de bronze

Cristo de mármore

Cristo de madeira

Cristo de aço

Cristo calado

Oh Santo Calvário

Já não devo chorar...

Mesmo humilhado

Banido

Expulso

Já não vou chorar

Devo continuar...

Já perguntei a todos os Orixás

Que nessa hora se calam

Nada falam

Velhos mestres

De eras remotas

Já não choram

Calam-se

Agora eu!

Grito

Esbravejo

Em prantos

E os outros?

Calam-se

Nada falam

Simples servos

Nada pensam

Nada falam

Nada vêem

Simplesmente se calam

Cristo de barro

Cristo de ouros

Cristo de prata

Cristo de bronze

Mudo!

Calado!

Nada fala

Deuses imortais

De dias remotos

Os pobres?

Os negros?

Os trabalhadores?

Nada sabem

Nada falam

Simplesmente, se calam...

Inutilmente sofrem

Cristo negro

Cristo pobre

Martirizado

Banido

Expulso

Há muito humilhado

Crucificado

Cristo de barro

Terra negra

Molhada

Olhos azuis

Pele branca

Santa cruzada

Tudo fala

Tudo sabe

Deuses imortais da onisciência

Onipresentes

Os canhões?

A terra arrasada

A muito calada

Nada sabe

Nada fala

O poder?

A muito arrebatou

Os justos

Os pobres

Os negros

Os operários

Os miseráveis

Os escândalos?

As balas?

Os crimes?

O poder?

A muito desafiado!

Nada abala

Nada fala

Somente se cala

Nada sabe

Tudo pode

Nada sobra

Tudo acaba

Nada muda

Tudo acaba

Samuel da Costa é poeta em Itajaí, Santa Catarina

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

 

 

SIDERAÇÕES À MEIA-LUZ

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC) 

Siderações à meia-luz

 

‘’Eu nem imaginava que

Eu fazia parte das tuas fantasias,

Das tuas noites em claro

Onde a excitação

Toma parte do seu corpo.’’

Clarisse da Costa

 

Em algum lugar...

Repousa o meu coração partido

Chego a ter pena dele!

Pois não sabe como separar,

A minha vida da tua vida!

***

Mas como separar...

A realidade liquefeita?

Do quimérico mundo encantado de sonhos...

Que é estar sempre ao lado teu?

De forma tão clara...

Tão simples e tão hialina.

Sem quaisquer atropelos...

Ou mesmo múltiplos excessos?

***

Em algum desértico lugar

Adormece devastado

O meu despedaçado coração partido

Samuel da Costa é poeta em Itajaí

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

 

 

O DERRADEIRO FIM...

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC) 

O derradeiro fim...

Para o poeta João da Cruz e Sousa

 

A caminho do martírio

Ninguém ouviu seus gritos

De dor

Muito menos seus álgidos prantos...

***

No lago o Cisne Negro

E as límpidas águas

Cristalinas...

***

No céu: as nuvens brancas

Os astros-mortos... A alabastrina lua...

E as estrelas

***

Na terra: os lamentos

Os gritos de dores

O martírio... Do negro

Do pobre

Do nefelibata

Do trabalhador

Samuel da Costa

Samuel da Costa é poeta em Itajaí, Santa Catarina

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

 

 

 


CABÍSTICA

 Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

Cabística

Para a poetisa Fabiane Braga Lima

 

‘’Deixa sucumbir seus desejos.

Vestido de matéria,

Despido de espiritualidade,

Morre na sua falta de amor.’’

Clarisse da Costa

 

Oh sereia dos mares, dos rios

E dos lagos...

Docíssima serpente...

A banhar-se

E a mirar-se nas águas.

Vem me seduzir!

Embair-me!

***

Oh Quianda sagrada!

Quero naufragar

E morrer em teus braços!

***

No pelágio mais profundo

Eu quero evanescer

Sucumbir e morrer ao lado teu...

Ouvir os teus cânticos

Mais profanos...

Viver e morrer nos braços teus...


Samuel da Costa é poeta em Itajaí

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

AS NEGRAS SOMBRAS, AS ÁLGIDAS LUZES E AS TRÁGICAS EMOÇÕES

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

Arte mural (poesia vívida suspensa no ar)

 

São dois textos absurdos

Em dois multi-versos contíguos

Hão de ser duas vidas

Em duas linearidades

Difusas 

***

Em dois lugares

Em duas cidades

Abstratas

***

Em duas verves

Hão infinitos vorazes desejos

Rápidas, velozes

E atrozes 

***

Em dois convulsos poemas

Pós-impressionistas

Que eu procuro

Em vão 

Te procura 

***

São dois opúsculos inexatos

A vagar

No multi-verso digital

***

São duas obras inacabadas

Em dois tempos atemporais 

Que procuro te encontrar

E que vou te encontrar

Samuel da Costa é poeta em Itajaí SC

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Crisálida

Para Mari Gomes

 

Na hora máxima

Na hora mágica

Na nossa hora extrema

***

É tua figura angelical fulgáz

De tu menina/mulher

Que sibilina brota na minha

Imaginação em desalinho

Com o tempo presente

Vem-me a tu delicada imagem

Postada ad eternum na janela digital

No tempo abstrato

Que é atemporal

No múlti-verso binário

Pós-contemporâneo

***

Na nossa hora máxima

Na nossa hora mágica

Na nossa hora máxima

Somos então somente

Nós nevoenta infanta minha

Samuel da Costa é poeta em Itajaí SC

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Coroada com flores raras (seductus voluptatibus carnis)

Para Caroline Severino

 

‘’Meu corpo fica sedento de desejo e amor,

Não nego. Controlo-me, só quero senti-lo!

Sentir cada toque de sua mão sobre o meu corpo.

Do nada me faz sentir amada! Não há cobranças....’’

Fabiane Braga Lima

 

Por onde tu desterrada...

Sonolentamente vagavas?

Antes de seres coroada!

Em um celestial conclave notívago 

Com dadivosas ebúrneas

Flores raras

E cândidos louvores

A soberana suprema imperatriz

Dos vagos estribilhos

Do negro poeta atemporal 

***

Tenho que sofrer

Todas as dores do mundo 

Profundamente e sozinha

Antes da minha eminente

Queda para o alto 

Antes de adentra nobilíssima

Na sidérea câmara ardente

***

E tu lápida seduzida 

Pelos prazeres da carne

E tu fúlvida conduzida

Pela mítica lira do aedo de ébano

***

Apátrida por escolha minha 

Da realidade liquefeita reinante

Em que vivo 

Emparedada fico

Nas decadentes ruinas decrepitas

Do palácio das memórias perdidas

Samuel da Costa é poeta em Itajaí SC

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br  

 

Destino/manifesto

 

Manifesto

Não ser igual a todos e todas

Levados sem resistências alguma

 Pelas oceânicas marés

Das ocasionalidades momentâneas

Das fluidas ocasiões

Da contemporaneidades afins

Não ser internado

Não deixar ser interditado

Não querer ser interditado

Por quem quer que seja

Em qualquer hora

Em qualquer tempo

Em qualquer lugar

***

Destino!!!

Não ser igual a quem quer que seja

Lançados aos sabores dos ventos alísios

Não ser exilado

Não deixar ser exilado

Por qualquer um

Por quem quer que seja

Em momento algum  

***

Destino/manifesto

Não ser igual as outras pessoas

Não se autoexilar

Não preferir se auto-exilar

Não deixar ser exilado

Não deixar ser interditado

Não querer ser interditado

Não se render aos tédios liquefeitos

Não ceder aos caprichos

Dos momentâneos detentores

Do poder 

Samuel da Costa é poeta em Itajaí SC

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br  

 

Dorsal oceânica (Repousa em mim todas as águas)

 

‘’Todos os mares, todos os estreitos,

Todas as baías, todos os golfos,

Queria apertá-los ao peito,

 Senti-los bem e morrer!’’

Álvaro de Campos

 

 

Que repouse em mim

Todas as límpidas águas

Bravias e retificadas

Tranquilas e cristalinas

Dulcíssimas e salgadas

Hialinas e impuras

E aéreas 

***

Que repouse ad aeternum

Na minha negra imaginação sublevada

O grande rio-açu

O rio retificado

O rio mirim

                                                                     ***        

Um decadente atracadouro

Há muito abandonado

 A própria sorte

Uma pequena e frágil embarcação qualquer

Que sei vai lenta e lânguida

A navegar rumo ao indefinido

No horizonte azul sem fim  

Foi navegar no Atlântico alvaresiano

Foi encontrar a Dorsal oceânica

Nos mares do sul 

Para nunca mais voltar

Para nunca mais ser visto

***

Há um atracadouro

Clandestino em mim

Há um abissal trágico naufrágio

Sentimental em mim

De alguém que partiu

Para nunca mais voltar

Samuel da Costa é poeta em Itajaí SC

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br