quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

A UNÇÃO (OS ANJOS CAEM PRIMEIRO)

 Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

A unção (Os Anjos Caem Primeiro)

 

— São só vinte quilômetros meu bom amigo! — Disse a figura ao volante.

— Que bom! — Respondeu de imediato o passageiro bem alinhado, não escondendo o mau humor, pois ele não gostava muito das cidades grandes. Achava-as barulhentas, congestionadas e onde tudo é distante. Ao contrário das cidades pequenas e médias, que para ele eram as ideais de se viver.

 E o fato de estar ali, naquela situação absurda, era um calvário e um alívio ao mesmo tempo. Há muito queria que aquilo acabasse logo, então mil coisas passavam pela cabeça dele naquela altura. Mas, tinha decidido ir até o fim com a coisa toda e de uma vez por todas. O fato dele ser pastor de profissão e, acima de tudo, por fé. E ter que lidar a toda hora e todos os dias, com a ideia do pecado de si mesmo, e das outras pessoas, não alterava o fato em nada para ele àquele momento.

E uma simples olhada do motorista de táxi, pelo retrovisor, foi o bastante para acabar com a agonia iniciada, quando ele saiu do hotel e embarcou naquele veículo de aluguel. O olhar cínico do chofer de praça denunciava a ambos.

— Posso fazer uma pergunta pro doutor? O que o senhor veio fazer aqui na capital? — Pergunta afinal o taxista, com seu sotaque inconfundível do nordeste do país.

— Vim procurar um pouco de diversão meu bom amigo, só um pouquinho e mais nada!

 E ambos deram risadas juntos durante um certo tempo, que parecia que iria durar para sempre. Daí para parar em um motel barato, de quinta categoria, em uma parte suspeita da cidade foi um pulo. E tudo estava indo como ele, o pastor, bem imaginava que seria. Tudo muito bem rápido e também impessoal. E a garota, com a descrição que ele encomendada estava lá esperando-o no quarto. Ao bater com força na porta da pocilga três vezes, como o instruíram e a mesma se abriu. E lá estava ela, como ele bem imaginava que seria, jovem, linda, cálida, decadente e toda sorridente como um anjo que perdeu as asas.

— Vim te buscar filha, vamos voltar para casa! Tua mãe te espera...  

 Samuel da Costa é poeta em Itajaí, Santa Catarina

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

 

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