quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

A PROCISSÃO DOS NEGROS (A LITANIA DOS POBRES)

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC) 

A procissão dos negros (A litania dos pobres)

Para  Zumbi dos Palmares

 

 

Cristo de bronze

Cristo de mármore

Cristo de madeira

Cristo de aço

Cristo calado

Oh Santo Calvário

Já não devo chorar...

Mesmo humilhado

Banido

Expulso

Já não vou chorar

Devo continuar...

Já perguntei a todos os Orixás

Que nessa hora se calam

Nada falam

Velhos mestres

De eras remotas

Já não choram

Calam-se

Agora eu!

Grito

Esbravejo

Em prantos

E os outros?

Calam-se

Nada falam

Simples servos

Nada pensam

Nada falam

Nada vêem

Simplesmente se calam

Cristo de barro

Cristo de ouros

Cristo de prata

Cristo de bronze

Mudo!

Calado!

Nada fala

Deuses imortais

De dias remotos

Os pobres?

Os negros?

Os trabalhadores?

Nada sabem

Nada falam

Simplesmente, se calam...

Inutilmente sofrem

Cristo negro

Cristo pobre

Martirizado

Banido

Expulso

Há muito humilhado

Crucificado

Cristo de barro

Terra negra

Molhada

Olhos azuis

Pele branca

Santa cruzada

Tudo fala

Tudo sabe

Deuses imortais da onisciência

Onipresentes

Os canhões?

A terra arrasada

A muito calada

Nada sabe

Nada fala

O poder?

A muito arrebatou

Os justos

Os pobres

Os negros

Os operários

Os miseráveis

Os escândalos?

As balas?

Os crimes?

O poder?

A muito desafiado!

Nada abala

Nada fala

Somente se cala

Nada sabe

Tudo pode

Nada sobra

Tudo acaba

Nada muda

Tudo acaba

Samuel da Costa é poeta em Itajaí, Santa Catarina

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

 

 

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