Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
A
procissão dos negros (A litania dos pobres)
Para Zumbi dos Palmares
Cristo de bronze
Cristo de mármore
Cristo de madeira
Cristo de aço
Cristo calado
Oh Santo Calvário
Já não devo chorar...
Mesmo humilhado
Banido
Expulso
Já não vou chorar
Devo continuar...
Já perguntei a todos os Orixás
Que nessa hora se calam
Nada falam
Velhos mestres
De eras remotas
Já não choram
Calam-se
Agora eu!
Grito
Esbravejo
Em prantos
E os outros?
Calam-se
Nada falam
Simples servos
Nada pensam
Nada falam
Nada vêem
Simplesmente se calam
Cristo de barro
Cristo de ouros
Cristo de prata
Cristo de bronze
Mudo!
Calado!
Nada fala
Deuses imortais
De dias remotos
Os pobres?
Os negros?
Os trabalhadores?
Nada sabem
Nada falam
Simplesmente, se calam...
Inutilmente sofrem
Cristo negro
Cristo pobre
Martirizado
Banido
Expulso
Há muito humilhado
Crucificado
Cristo de barro
Terra negra
Molhada
Olhos azuis
Pele branca
Santa cruzada
Tudo fala
Tudo sabe
Deuses imortais da onisciência
Onipresentes
Os canhões?
A terra arrasada
A muito calada
Nada sabe
Nada fala
O poder?
A muito arrebatou
Os justos
Os pobres
Os negros
Os operários
Os miseráveis
Os escândalos?
As balas?
Os crimes?
O poder?
A muito desafiado!
Nada abala
Nada fala
Somente se cala
Nada sabe
Tudo pode
Nada sobra
Tudo acaba
Nada muda
Tudo acaba
Samuel da Costa é poeta em Itajaí, Santa Catarina
Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário