Por Samuel da Costa (Itajaí, SC) e Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
Entre mãe e filha
Margô mãe de três meninas, ela a caminho da meia idade, trabalhava muito
para dar sustento para as filhas ainda pequenas. A família há pouco tinha se
mudado do interior para a capital, Margô, mãe solteira, pretendia dar uma vida
melhor para as filhas.
As
pequenas gêmeas Lara e Clara, de oito anos, eram alheias às muitas dificuldades
em que viviam, que as circundavam. Mas Luci, a filha mais velha de doze anos de
idade, era rebelde e não se conformava com aquela situação, com a penúria da
família. Entristecendo o coração ferido, da exausta Margô quando chegava do
trabalho tarde da noite. Luci perguntava com arrogância, o que a mãe tinha
trazido para o jantar. Tendo como resposta com poucas variações que aquilo era
que se tinha para comer graças a Deus! A mãe respondia para a Luci com os olhos
rasos de lágrimas. Logo depois, cansada, tomava um banho rápido e preparava o
jantar para as filhas.
Assim
eram os dias de Margô se passavam, de muita tristeza pois, a sua filha mais
velha, não perdia as oportunidades de demonstrar que não suportava a situação
da família. Então um dia, a mãe de Luci, decidiu dar um basta na situação!
Estava mais do que na hora de mostrar para a filha tudo o que passa nas ruas e
no serviço. No outro dia chamou a filha mais velha, Luci.
—
Sabe filha! Tenho um dinheiro guardado, quero te levar pra comprar roupas
novas.
— Lógico que quero mãe, vamos se divertir muito.
— Claro que vamos! — Mal sabia a pobre garota o que a mãe estava preparando.
— Escuta filha, logo depois, vou lhe contar um segredo que é só meu. E você
verá com os teus próprios olhos.
— Então, vamos mamãe, estou louca para escolher roupas novas.
E assim pegaram o ônibus bem cedo, partiram rumo ao centro comercial da cidade
e foram a um shopping. Luci se espantou ao ver o ônibus enchendo de gente em
cada parada. A jovem também notou que alguns falavam rápido e outras línguas
estrangeiras e vestiam roupas estranhas. Algumas pessoas com cara de sono
bocejavam, outras dormiam e outras falavam sozinhos. Barulhos, sussurros, risos
e cheiros que se misturaram naquele microcosmo tão novo para a jovem.
O ônibus parou ao lado do shopping e pequena Luci mais se espantou com o número
de pessoas que desciam dos ônibus que não paravam de chegar e despejar pessoas
e mais pessoas. A jovem nem teve tempo de notar as estruturas em volta, o
enorme e moderno ponto de ônibus e nem a arquitetura envidraçada do shopping.
Duas ciganas, uma idosa e outra bem jovem, com suas roupas extravagantes que
liam a sorte, um senhor de idade avançada que vendia passes de ônibus e um
vendedor de doces e salgados em uma pequena barraca improvisada. O barulho do
trânsito também chamou a atenção da jovem mulher, subiram a rampa de acesso do
centro comercial, a mãe segurando a mão da filha, o que seria constrangedor
para Luci, mas não era.
—
Mamãe olhe!? Quero entrar nessa loja...
—
Fique à vontade minha filha!
A menina entrou na loja e logo foi barrada por dois seguranças, elas eram
monitoradas desde da entrada, no centro comercial, primeiro pelos atentos olhos
eletrônicos de câmeras ao alto e depois seguidas por seguranças.
Logo
chegou o falante subgerente seguido pelo arrogante gerente da loja, ambos bem
vestidos.
—
Aqui é uma boutique de roupas finas, não há nada que lhe sirva aqui! —
Bradou o gerente, da famosa loja, como se discursasse para uma multidão. Depois
olhou para a menina malvestida, com seu jeito superior, como se estivesse com
nojo da menina com leve tom escuro de pele e os cabelos encaracolados.
— Mas
senhor por que?
— Não
trabalhamos com crediário, sai daqui por gentileza.
Margô com
os olhos cheios de lágrimas viu o preconceito que sua filha passava naquele
momento. Mas, criou forças, sem nada dizer pegou a filha pelos braços e a
afastou da situação embaraçosa que estava passando. As duas mulheres caminharam
para longe da loja, foram parar em um local comum de descanso do shopping.
Margô teve a ideia de levar Luci ao seu local de trabalho, lá onde sua
filha poderia ver o desprezo e preconceito, no qual passava para poder
sustentá-las. Luci já estava entristecida, pois sentiu na pele o descaso
naquela boutique.
— Mamãe é aqui que a senhora trabalha?
— Aqui está o segredo que eu queria te contar.
Então, chegou a chefe de Margô arregalou os olhos e toda sorridente
— Mas quem é a garota linda!?”
— É a minha filha mais velha. — Margô era toda orgulho.
— Vou pegar uma cadeira, mais confortável para a mocinha linda, não quero que
suje o banco do shopping. — brincou a senhora que gerenciava o restaurante onde
Margô trabalhava
Luci tomou a sério a brincadeira e ia sair correndo, mas, Margô a pegou firme
pelo braço.
— Lembra do segredo que ia te contar!?”
— Lembro sim, pode me contar.
— Tudo isto que você passou hoje, estou mais que acostumada a passar.
— Me perdoa mãe…!? — Luci abraçando sua mãe, chorou.
— Escuta filha! Para eles somos diferentes. Sofremos preconceitos.
— Venha filha, não se culpe, erga a tua cabeça, estude muito. Tenha um outro
rumo na vida.
A partir daquele dia Luci viu o mundo totalmente diferente, mais cruel,
infelizmente. Mas aprendeu a valorizar sua mãe! A população brasileira é
miscigenada em razão da mistura de diversos grupos humanos. Indígenas,
africanos, europeus e asiáticos… O preconceito está na pessoa que nunca estudou
a história do Brasil!
Fabiane Braga Lima texto e argumento
Contato: bragalimafabiane@gmail.com
Samuel da Costa texto e revisão
Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br
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