quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

ENTRE MÃE E FILHA

 Por Samuel da Costa (Itajaí, SC) e Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)

Entre mãe e filha

 

           Margô mãe de três meninas, ela a caminho da meia idade, trabalhava muito para dar sustento para as filhas ainda pequenas. A família há pouco tinha se mudado do interior para a capital, Margô, mãe solteira, pretendia dar uma vida melhor para as filhas.

          As pequenas gêmeas Lara e Clara, de oito anos, eram alheias às muitas dificuldades em que viviam, que as circundavam. Mas Luci, a filha mais velha de doze anos de idade, era rebelde e não se conformava com aquela situação, com a penúria da família. Entristecendo o coração ferido, da exausta Margô quando chegava do trabalho tarde da noite. Luci perguntava com arrogância, o que a mãe tinha trazido para o jantar. Tendo como resposta com poucas variações que aquilo era que se tinha para comer graças a Deus! A mãe respondia para a Luci com os olhos rasos de lágrimas. Logo depois, cansada, tomava um banho rápido e preparava o jantar para as filhas.

          Assim eram os dias de Margô se passavam, de muita tristeza pois, a sua filha mais velha, não perdia as oportunidades de demonstrar que não suportava a situação da família. Então um dia, a mãe de Luci, decidiu dar um basta na situação! Estava mais do que na hora de mostrar para a filha tudo o que passa nas ruas e no serviço. No outro dia chamou a filha mais velha, Luci.

          — Sabe filha! Tenho um dinheiro guardado, quero te levar pra comprar roupas novas.

           — Lógico que quero mãe, vamos se divertir muito.

           — Claro que vamos! — Mal sabia a pobre garota o que a mãe estava preparando.

            — Escuta filha, logo depois, vou lhe contar um segredo que é só meu. E você verá com os teus próprios olhos.

            — Então, vamos mamãe, estou louca para escolher roupas novas.

            E assim pegaram o ônibus bem cedo, partiram rumo ao centro comercial da cidade e foram a um shopping. Luci se espantou ao ver o ônibus enchendo de gente em cada parada. A jovem também notou que alguns falavam rápido e outras línguas estrangeiras e vestiam roupas estranhas. Algumas pessoas com cara de sono bocejavam, outras dormiam e outras falavam sozinhos. Barulhos, sussurros, risos e cheiros que se misturaram naquele microcosmo tão novo para a jovem.  

               O ônibus parou ao lado do shopping e pequena Luci mais se espantou com o número de pessoas que desciam dos ônibus que não paravam de chegar e despejar pessoas e mais pessoas. A jovem nem teve tempo de notar as estruturas em volta, o enorme e moderno ponto de ônibus e nem a arquitetura envidraçada do shopping. Duas ciganas, uma idosa e outra bem jovem, com suas roupas extravagantes que liam a sorte, um senhor de idade avançada que vendia passes de ônibus e um vendedor de doces e salgados em uma pequena barraca improvisada. O barulho do trânsito também chamou a atenção da jovem mulher, subiram a rampa de acesso do centro comercial, a mãe segurando a mão da filha, o que seria constrangedor para Luci, mas não era.          

          — Mamãe olhe!? Quero entrar nessa loja...

          — Fique à vontade minha filha!

           A menina entrou na loja e logo foi barrada por dois seguranças, elas eram monitoradas desde da entrada, no centro comercial, primeiro pelos atentos olhos eletrônicos de câmeras ao alto e depois seguidas por seguranças.              

          Logo chegou o falante subgerente seguido pelo arrogante gerente da loja, ambos bem vestidos.

          — Aqui é uma boutique de roupas finas, não há nada que lhe sirva aqui! —  Bradou o gerente, da famosa loja, como se discursasse para uma multidão. Depois olhou para a menina malvestida, com seu jeito superior, como se estivesse com nojo da menina com leve tom escuro de pele e os cabelos encaracolados.  

         — Mas senhor por que?

         — Não trabalhamos com crediário, sai daqui por gentileza.

         Margô com os olhos cheios de lágrimas viu o preconceito que sua filha passava naquele momento. Mas, criou forças, sem nada dizer pegou a filha pelos braços e a afastou da situação embaraçosa que estava passando. As duas mulheres caminharam para longe da loja, foram parar em um local comum de descanso do shopping.

             Margô teve a ideia de levar Luci ao seu local de trabalho, lá onde sua filha poderia ver o desprezo e preconceito, no qual passava para poder sustentá-las. Luci já estava entristecida, pois sentiu na pele o descaso naquela boutique.

             — Mamãe é aqui que a senhora trabalha?

             — Aqui está o segredo que eu queria te contar.

             Então, chegou a chefe de Margô arregalou os olhos e toda sorridente

             —  Mas quem é a garota linda!?”

             — É a minha filha mais velha. — Margô era toda orgulho.

              — Vou pegar uma cadeira, mais confortável para a mocinha linda, não quero que suje o banco do shopping. — brincou a senhora que gerenciava o restaurante onde Margô trabalhava  

                Luci tomou a sério a brincadeira e ia sair correndo, mas, Margô a pegou firme pelo braço.

                — Lembra do segredo que ia te contar!?”

                — Lembro sim, pode me contar.

               — Tudo isto que você passou hoje, estou mais que acostumada a passar.

               —  Me perdoa mãe…!? — Luci abraçando sua mãe, chorou.  

               — Escuta filha! Para eles somos diferentes. Sofremos preconceitos.

               — Venha filha, não se culpe, erga a tua cabeça, estude muito. Tenha um outro rumo na vida.

               A partir daquele dia Luci viu o mundo totalmente diferente, mais cruel, infelizmente. Mas aprendeu a valorizar sua mãe! A população brasileira é miscigenada em razão da mistura de diversos grupos humanos. Indígenas, africanos, europeus e asiáticos… O preconceito está na pessoa que nunca estudou a história do Brasil!


Fabiane Braga Lima texto e argumento

Contato: bragalimafabiane@gmail.com

Samuel da Costa texto e revisão

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

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