Por Paulo Cezar S. Ventura (pcventura@gmail.com - @paulocezarsventura)(Nova Lima, MG)
Todos os finais de ano e início do ano novo as histórias se
repetem. Sempre queremos algo novo, perspectivas novas, alegrias novas: desejos
que quase nunca são satisfeitos, porque a mesmice reaparece depois da Folia de
Reis. Retiram-se as luzes extras colocadas nas praças, as vitrines das lojas
readquirem seu aspecto anterior. O que muda é o barulho das ruas, agora com os
ensaios exaustivos das escolas de samba e dos blocos de carnaval que cresceram
como pragas (muitos gostam) pelo Brasil afora. Depois do Ano Novo, espera-se o
Carnaval chegar. E quem sabe a vida volta ao normal de antes. Mas as nossas
esperanças permanecem. Ainda bem.
Principalmente dos amantes idosos e das amantes idosas. De
todos os gêneros. Afinal, o que todos desejam, por direito adquirido, é viver,
amar, aprender e deixar um legado. Frase que, originalmente publicada em
inglês, carrega uma sonoridade maravilhosa (live, love, learn, and leave a
legacy) todas com a letra l.[i] É
exatamente o que nós, pessoas idosas, também queremos para nossas vidas: viver
em paz, dar e receber amor, ainda aprender e cuidar daquilo que queremos deixar
para as gerações futuras, muito além dos patrimônios materiais.
Sim, um dia ela vem. Para todos. Tive a honra de acompanhar
o meu pai durante o período crítico de sua vida, justamente na terminalidade
dela. Foi um dos maiores aprendizados que tive ao longo de minha existência. E
dele também. Eu, amante dos Beatles, usei a música dos rapazes de Liverpool
como trilha sonora, principalmente Yelow Submarine. Mas poderia ser
outra música. Trilhas sonoras são colocadas a gosto do diretor de cena, sempre
com o intuito de, através da emoção, sugerir novos olhares.
É o que a gente sempre espera das mulheres: que elas
iluminem nossas vidas e nos guiem nos principais momentos de tomada de
decisões. O que devemos fazer é criar as condições necessárias para que elas
exerçam seus poderes de magia com alegria e serenidade. O que todo homem deve
almejar na vida é uma parceira, ou um parceiro, feliz. Porque a felicidade se
expande, seduz e atrai outras pessoas felizes.
O racismo ainda está longe de
deixar de existir. Ele é estrutural em nossa sociedade, ainda escravocrata.
Algumas mudanças começam a acontecer através de algumas redes de comunicação.
Nunca vimos tantas pessoas pretas nas telas de televisão brasileiras, tanto nas
novelas e séries quanto na publicidade. Antes eu pensava que algumas coisas
eram privilégios de brancos: comprar um imóvel, por exemplo. Outras ainda são.
Ser atendido com dignidade nos serviços de saúde ainda é diferenciado pela cor
da pele. Gostaria que toda pessoa idosa preta fosse vista, e atendida, com
alegria nos olhos, pois ela trás a sabedoria dos ancestrais, sabedoria adquirida
no sofrimento da vida.
Só a indignação pode levar à
frente um projeto de verdadeira mudança no caos da vida. Porque as pessoas se acomodam
e começam a acreditar que é normal o sofrimento, é normal a dor do outro, é
normal a luta anormal empreendida pela maioria. O que nos salva é nossa
indignação.
Nossas esperanças sempre são
colocadas nos ombros de nossas crianças. Sempre colocamos em questão que mundo
deixaremos para elas, mas precisamos pensar também em que crianças queremos que
cresçam em nosso mundo. Se temos a mínima ideia do que queremos para o mundo e
para elas no futuro, coloquemos todas as nossas fichas na educação delas.
Qualquer gasto com a educação é pouco, porque educação tem que ser analisada
como investimento para o futuro, não como gasto.
Botas e luvas são símbolos de
minha trajetória e de minha luta nesses mais de setenta anos em que permaneço
neste planeta. Já caminhei muito e já dei muita porrada na vida (ambos literal
e metaforicamente). Foi pouco? Deveria ter feito mais? Perguntas sem respostas
adequadas. Briguei muito para ter acesso àqueles quatro direitos fundamentais
de todo ser humano: viver, aprender, amar e deixar um legado. Porque a
indignação permanece. Porque vi o mundo mudar tanto e tão pouco ao mesmo tempo.
Fisicamente tanto, mentalmente e espiritualmente tão pouco.
Que venha um ano novo com
renovadas esperanças, porque esta não morre, segundo o ditado popular.
[i] Covey, Stephen R.; Merril, A. Roger; Merril,
Rebecca R. First
Things First: To Live, to Love, to Learn, to Leave a Legacy. New York, Francis
Covey Co, 1996.
Obrigado pela publicação, meu caro. Para o ano novo desejo também que nossa missão de escreventes se cumpra cada vez mais.
ResponderExcluir