Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
PRIMEIRA PARTE
— Querido, preciso sair! — Disse Laura a Luan, seu esposo.
— Poderias me informar, sobre o destino a ser percorrido? — Perguntou Luan, não disfarçando ao mal humor, que se misturava com o machismo impregnado em cada palavra.
Assim que Laura saiu, sem dizer para onde iria, o tempo mudou. E de repente começou a chover. Laura ficou intacta, parada, porém a chuva parecia limpar, a sua alma carregada, de tanto guardar os desaforos, acumulados por anos e anos, de abusos, por parte do marido. Então Laura se moveu, e começou a dançar na chuva, parecia uma outra mulher, feliz e sozinha, longe dos desaforos de Luan e da família do marido.
Ao voltar para casa, subiu as escadas, se banhou, um banho bem demorado, trocou de roupas e desceu as escadas e se sentou no sofá, Laura estava exausta. Luan, olhou profundamente para a esposa, como se tentasse encontrar algo, que não está ali anteriormente, mas que agora estava.
— Onde estava, parece estar feliz em demasiado, chegou toda molhada, entrou no lago? Não foi! — Perguntou Luan por fim.
— Não, peguei chuva! — Respondeu Laura complacentemente.
— Os nossos filhos, perguntaram sobre o misterioso sumiço da mãe deles! — Esbravejou Luan.
— Desculpe-me...
— Cale-se! — gritou Luan com muita força, a pegou pelos braços e a jogou no chão.
— Reflita mulher! E fique em casa para cuidar dos teus filhos! — Gritou a plenos pulmões, enquanto Laura chorava e se contorcia no chão.
— Os nossos filhos, se esqueceu...
— Cale-se! Luan
gritou novamente.
SEGUNDA PARTE
Caída na orla do lago, eu só conseguia pensar em meus filhos. A água do lago estava suja e não era cristalina como antes. Entre nas águas e fiquei ali, no lago por duas horas. Maldito lago, era praticamente perto da minha residência, morávamos em áreas de terra, e sempre havia desabamentos. Peguei a toalha, que estava na minha bolsa de praia, me sequei, calcei os meus chinelos, peguei as minhas coisas e retornei à minha residência. Luan estava se banhando, calculei, já as crianças, jogadas pela casa, famintas como sempre.
— Mamãe, onde estava? — Aflito perguntou Richard, meu filho mais velho. Ele estava na frente de casa, me esperando.
— Estava pagando a mercearia, meu filho! — Foi necessário mentir.
— Papai, não está bem, chamou uma enfermeira! — Disse Richard com medo no olhar.
Enfermeira? Estranhei! Corri para dentro da casa, sem olhar para trás, subi correndo as escadas e fui para o nosso quarto. Luan estava deitado na cama, estava semi-nu e suando. Uma enfermeira? Não poderia ser uma enfermeira, o quarto estava desarrumado, os lençóis estavam desarrumados e amassados. Irada, me controlei, uma outra mulher no meu quarto? Queria pegá-los em flagrante.
— Querido, precisei ir à mercearia, logo, logo estou em casa. — Relembrei da nossa conversa de antes de eu sair de casa rumo ao lago.
— Fique à vontade, meu amor, estarei lhe esperando! — Luan me disse baixinho e segurando minha nuca, com carinho.
Voltando ao tempo presente, olhando para Luan deitado na cama, pensei, mentiroso pensei, com o olhar e um sorriso de canto de boca, simulei acreditar no meu marido. Sai do quarto, lentamente desci as escadas, estava cansada de ser traída, decidi voltar ao lago, precisava pensar em algo, em alguma coisa.
Cheguei ao logo e estava me preparando para entra no lago e olhei para longe, Luan apareceu no lago? Suspirei, e pensei calada: — Esse é meu Luan, veio me buscar!
Mas, Luan não estava sozinho, estava acompanhado, com amigos e uma garota, deveria ter uns dezenove anos. O grupo de meu saudou, Luan nada disse, nem sequer me olhou, logo estavam todos em trajes de banho entraram nas águas do lago. Eu não conhecia nenhum deles.
A garota cheia de intimidades com Luan, eu fiquei furiosa com a situação. O meu coração acelerou, quis gritar, mas fiquei intacta. Uma hora foi o suficiente, já não suportava aquilo, conversas animadas e idas e vindas para dentro do lago.
— Some daqui! — De repente Luan gritou com a garota. Eu estava distraída e não vi a cena anterior.
— O senhor vai me procurar, novamente? — Perguntou a garota, molhada e usando um biquíni minúsculo.
— Some daqui! Sou um pai de família — Luan gritou novamente para a garota! Um silêncio constrangedor reinou no recinto e o grupo começou a dispersar.
Que cena patética pensei, Meu vínculo com ele, terminou ali
naquele momento. Sai dali, sem olhar e deixar tudo para trás. Chegando em casa,
subi as escadas, fui para o meu quarto, tomei o meu banho, me aprontei, desci
as escadas, me sentei no sofá. Esperei Luan voltar para casa, ao passar pela
porta olhei para ele, fingindo que nada aconteceu, sorri mais uma vez. Chegou a
minha vez disse para mim mesma!
TERCEIRA PARTE
Dois meses se passaram, e eu, fingindo que nada estava acontecendo. Luan estava cada dia pior, em altas horas, levando homens e mulheres vulgares, para dentro da nossa casa, dando pequenas recepções, que se avolumaram, regadas a bebidas, jogos e coisas piores. Calei-me, por amor aos meus filhos, infelizmente, necessitava dele, de seu maldito dinheiro.
E, assim, fui levando a vida, fingindo estar tudo bem. Não dormíamos juntos e mantinhamos contatos mínimos. Lucas, um dos poucos amigos de Luan que parecia ter um pouco de decência, e que frequentava a minha casa, percebeu logo o quanto Luan era falso.
Foi então que nos tornamos amigos, amigos íntimos, por assim dizer. Meu alicerce, nas horas em que queria gritar, mas por amor aos meus filhos, me calava. Enquanto Luan exibia vulgares mulheres jovens, onde quer que fosse eu e Luan, tínhamos uma relação sadia, entre homem e mulher. Deu um basta na minha relação com Luan e fui ser feliz, nos braços do meu novo amor.
Bom, Lucas e eu ainda estamos juntos e, a cada dia que se passa, o nosso amor e o nosso desejo mútuo, aumentam. Apesar de tudo, estou gostando da situação. Calada, pergunto-me: — Será que estou agindo certo? Pois ainda estou casada legalmente com Luan!
QUARTA PARTE
Aos gritos um guarda me acordou, me levantei da cama, um carneiro adentrou, me agarrou, me levaram da minha sela e me disse com ironia que tinha que eu ia conversar com o homem. Amedrontada, com os guardas me segurando, algemada, cheguei até a sala.
— Lucas cretino, suma daqui! — Falei assustada e com raiva.
— Não saia, até me escutar. — Disse a minha menção de sai dali
— Fale rápido. — Falei não conseguindo olhar para ele, eu sentia nojo, me sentei na cadeira e olhei para Lucas no outro lado da mesa. Enquanto os carcereiros saiam da sala.
— Laura, não há rastro de Luan, me escute, nunca imaginei que ele seria esse monstro...
— Acabou? Preciso ir. — Retruquei com indiferença.
— Laura, eu te amo, farei tudo que estiver ao meu alcance para te libertar. — Falou Lucas, enquanto eu me levantava e dava as costas para ele.
Percorri os corredores escuros, escoltada por guardas até a minha ala, paramos, as grades da minha cela se abriu automaticamente e entrei para a cela. Um dos guardas me avisaram, que eu não teria almoço, naquele dia que eu estava faminta. Ao entrar na cela, notei a presença de uma mulher, que deveria ter os seus vinte e cinco anos.
— Como se sente, Jane? — Ela me perguntou, sentada na cama de baixo
— Posso saber seu nome e o porquê está aqui? — Perguntei aos sussurros.
— Matei um homem, que abusava da minha filha. — Disse friamente, olhando nos meus olhos.
Fiquei em choque, me lembrei de Luan.
— Conheço bem Lucas, ele é um homem bom e se divorciou! — Disse a desconhecida sorrindo para mim.
— Quem? — Perguntei aflita.
— Ele tem três filhos e cuida com muito zelo. Me chamo Meire, conheci o seu esposo, o falecido, de muito valor, um homem que lhe amava muito! E um conselho, procure um outro advogado, logo estará com seus filhos. — Disse e se deitou na cama, estava sorrindo. Céus! Quem é essa mulher misteriosa? Lucas não é pai.
— Laura! Eu sei quem matou seu esposo! — Falou a desconhecida sonolentamente
— Quem é a
pessoa? Me diga! — Esbravejei, os meus gritos ecoaram pelos corredores na
semi-escuridão da prisão e uma onda de gritos e risos. Eu só pensava na tranquilidade do lago.
Fabiane Braga Lima, é poetisa, contista e cronista
em Rio Claro, São Paulo.
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