segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

O LAGO (QUINTA A SÉTIMA PARTES)

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)


QUINTA PARTE

         Lucas não apareceu há dois meses e só ficava mais triste a cada dia. Saudades, do homem que se tornou o meu alicerce, inútil, procurá-lo agora, eu estava numa fase conturbada com o divórcio.

      Basta, sairei para passear, com meus filhos, quem sabe, uma viagem, pensei. Adoro Petrópolis, é uma cidade turística, mas pensei em ir para Búzios. E então arrumei as minhas malas e a das crianças, liguei para um serviço de táxi, que nos levasse até o aeroporto. Falei da viagem que iriamos fazer para as crianças que transbordavam alegria.

            E eis que surge na minha porta Lucas, entrou para porta adentro sem nada dizer e ficou na minha frente, ele estava assustado.

         — Ei, onde pensas que vai? — Era Lucas, me interrogando.

         — Para Búzios, com os meus filhos. — Respondi em seco.

         — Estou com saudades, precisa ir agora? — Retrucou Lucas, de forma sedutora.  

         — Preciso tirar os meus filhos, de perto do pai deles! — Expliquei a situação, em que estava.

         — Calma, vamos dar um fim nisso tudo, mas antes, seguiremos a saudade, no nosso esconderijo! — Disse Lucas tentando me abraçar, me desvencilhei, pois os meus filhos estavam no andar de cima e poderiam descer a qualquer momento. 

— Não! Não posso, os meus filhos estão, lá em cima com as malas prontos, sinto muito. — Tentei explicar, pois a cara de Lucas me transpareceu não entender

— Estava com problemas com a ex-mulher, sabe disso! — Disse Lucas.

— Sim, eu sei, mas a minha prioridade são os meus filhos, entenda meu amor. — Disse eu, e abracei Lucas com terno carinho.

— Escuta, não me deixe…

Larguei-o, falando sozinho, subi as escadas, apressei os meus filhos, desci as escadas e para o meu alívio Lucas não estava mais lá. O táxi estava na frente da minha casa, o motorista ajudou com as malas e fui viajar com meus filhos.  Mas a saudade de Lucas só aumentava, dia a dia. Enfim decidi assim, que eu voltar para casa, volto a procurá-lo o mais rápido possível

 

SEXTA PARTE

          Talvez, fosse uma forma de me vingar de Luan, mas não, tudo aconteceu naturalmente, entre mim e Lucas. Enfim, tudo foi se encaixando, eu realmente estava apaixonada por Lucas. Os meus filhos não sabiam desta relação clandestina e não podiam contar para ninguém.

         O desejo consumia a ambos, alugamos um quarto barato, para ficarmos juntos, o lugar era em um bairro periférico, mas não muito afastado. Assim acontecia, depois que eu as levava as crianças à escola. Eu estava me sentindo uma adolescente, com aquela aventura insana, mas como eu estava feliz. Em relação a Luan, o meu marido, ele continuava a se relacionar, com mulheres jovens e vulgares e farreando com os antigos amigos boêmios. Tudo em plena luz do dia e aos olhos vistos de todo mundo.

         Certo dia, em casa, na cozinha, eu nos meus afazeres domésticos, ouvi Luan ao telefone, ele estava no andar de cima, não resisti, fui até a sala de estar e peguei o telefone. E percebi que Luan, estava conversando com uma das garotas, uma adolescente, presumi pelo tom de voz e o linguajar. Tive um súbito, acesso de raiva, quando percebi, que tipo de conversa, que eles estavam tendo, era muito obscena a conversa deles.

         Sai da casa, sem olhar para trás, partir à procura de Lucas, o encontrei no trabalho, ele aflito ao me ver, me pegou pelo braço e fomos tomar um café, em uma padaria colonial, não longe do trabalho de Lucas. Nos acomodando na última mesa e olhei bem nos olhos de Lucas e contei o ocorrido.

        — Não procure ninguém, apenas se cale, ou colocará os seus filhos em risco. — Disse Lucas e continuou — Precisas ter a guarda das crianças e imagine como as crianças cresceriam, criados por Luan?  

           Bom, ele estava correto, pois a relação que tinha com Lucas também era proibida, ciente da situação, calada pensei em dar um basta, largo Lucas e procurar os meus direitos e me divorciar de Luan. Também tinha o fato de Lucas ser bem mais novo do que eu. Fiquei intacta diante da situação, preciso pensar. Continua...

 

SÉTIMA PARTE                 

     

       — Como assim, Luan partiu? — Perguntei a Meire e continuei — Eu preciso de uma resposta! — Disse eu incisiva, olhando para a minha colega de cárcere.  

       — Seu esposo, abusava de garotas menores de idade, não minta, sei de muita coisa. — Disse Meire com desdém.

       — Sabe, então me diga! — Esbravejei, quebrando uma regra do cárcere, a discrição   

       — Seus atos seus, atos insanos, nos quais praticava com garotas inocentes, perto dos filhos pequenos. — Disse Meire que corria à boca pequena.

        — Acha que estou bem? Ele me agredia, o meu psicológico e fisicamente. Falaste o que todo mundo já sabe. — Respondi, falando baixo a Meire, chegando bem perto dela.       

         — Demorou para chamar as autoridades! Não foi? — Disse Meire sorrindo de canto de boca e tentando me provocar.           

         — Mantinha contato, ou conheceu alguma das infelizes das garotas? — Perguntei friamente para Meire.  

          — Sim, minha filha, tinha apenas treze anos, seu esposo a matou, prefiro não contar detalhes. — Respondeu Meire, olhando para a parede, tentando evitar o meu olhar.               

          — Sinto muito, nunca imaginei que ele poderia chegar a tal ponto. — Menti para Meire e para mim mesma ao mesmo tempo, tentei pelo mesmo e falhando miseravelmente. Coloquei-me no lugar de Meire, afinal, sou mãe também. Então, na minha mente, tudo se encaixava perfeitamente. Meire, matou Luan e também me culpava pela morte da filha. Preciso sair daqui e voltar para a minha família, sinto falta de meus filhos, mas que ela me conte detalhes. Refleti a minha situação infeliz, e como sinto falta dos meus filhos, e ela, Meire que perdeu a filha?

          Perdi a fome, mas estava feliz, por saber que Luan não respirava mais, sim, eu estava feliz. Não consegui dormir naquela noite e ao amanhecer de um novo dia, fiquei sabendo, que a levaram Meire, para se consultar um psiquiatra, para diagnosticá-la. Visivelmente a minha colega de cela não estava bem, à beira de explodir.

          No dia seguinte, Meire voltou para a cela, caindo e dopada de remédios, calculei. Calada, visivelmente sob efeito de remédios fortes, me calei também, mas pelo menos eu sabia quem era o assassino de Luan: — Meire! Como mãe, faria o mesmo que ela, não a culpo.

          Lucas, está com as minhas crianças e ele é um bom homem. Assim que amanhecer, os guardas a libertarão. Senti no meu íntimo.           


 

Fabiane Braga Lima, poetisa, novelista, contista e cronista em Rio Claro, São Paulo.

Contato: debragafabiane1@gmail.com

 

 

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