Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
‘’E a coisa melhor do mundo?
É pensar em você, todos os dias...
Acho isso tão perfeito, ficarmos juntos...
Do jeito que eu quero, te admiro...
Gosta de mim, me adora, sorrindo...
Prometemos juntos
Até quando eu não sei!
Mas sonhar com o futuro a dois...
Como convém ser, é definitivo
Por toda a eternidade! ’’
Patrícia Raphael
O som do martelar, nas teclas da máquina de escrever continental, subiam as
escadas, como se fosse uma metralhar de uma bateria de antiaérea, Dórian estava
deitado na cama, estava exausto. O notório professor universitário de
comunicação, olhou para a porta do quarto e viu Luen. E como ela estava
deslumbrante, usando o uniforme de trabalho, ela estava com um cigarro
mentolado na mão e ela estava rindo, por dentro e por fora.
Para Luen, as rupturas do espaço e tempo, eram somente atos naturais, coisas da
vida e sempre em companhia de sussurros astrais. Agora de pé, olhando o marido
deitado, combalido e fatigado, a fazendo Luen lembrar do que ela nunca foi, não
queria e nem desejava ser. A realidade, o tempo contínuo e limitado ao entorno
dela, nunca foi uma opção de fato, não para Luen.
No ateliê de Dórian, Luen reescrevia a hirta realidade de Dórian, com se ventos
siderais, como uma explosão de uma supernova a atingia frontalmente, não era um
incômodo para Luen compor assim. Para Luen, a primeira secretária da câmara
alta, era como um ato final, era como estar diante de um pelotão de
fuzilamento, com armas sendo, engatilhadas, apontadas, disparadas depois do
comando de um militar de média patente. Tinha o som de mosquetes sendo
disparados, o cheiro de pólvoras queimadas, o impulso de ser jogada para trás,
o ser levada ao chão, perder todos os sentidos e depois recomeçar de novo e
novo, rompendo leis naturais, de uma realidade limitada, em um perpétuo ciclo.
O matraquear, das teclas da máquina de escrever continental, inundavam a casa
na Ruas das flores, Dórian de olhos fechados, lendo as páginas que brotavam da
máquina de escrever, cada palavra envenenada, cada infernal negra linha
composta, eram adagas afiadas que rompiam o corpo incorpóreo de Dórian. Ele
quis gritar, gritou alto, mais alto, os desesperos galgaram as imensidões
cósmicas infindas, eram sacrossantas oferendas aos imortais deuses e deusas
exteriores.
Luen Di Santis, caminhou anômala e lentamente, como se os pés não tocassem o
chão, flutuou para junto do leito de Dórian La Verdi, era como um astro em
total colapso fosse de encontro com um astro menor. Mas não houve nenhuma
explosão cósmica aos corpos celestes se conflagraram, somente o álgido vácuo
celestial, o nada absoluto entre o casal improvável.
— Agora,
meu querido, eu vou trabalhar e só posso dizer um breve adeus, meu
amor! — Sussurrou Luen, para o marido sem abrir a boca.
E Dórian aterrado, sentiu Luen, se retirar do quarto, que estava na completa
escuridão, então aladas criaturas negras, vaporosas e indescritíveis adentraram
no quarto, flanavam no teto, nas paredes e no chão e Dórian gritou apavorado.
Sons metálicos e estridentes vieram do ateliê, o martelar da máquina de
escrever continental, enquanto Luen, soberana e dona se si, ganhava as ruas
dissolutas, era o alvor rubro de um novo dia. Luen indo trabalhar, plena,
sabendo que o marido estava em boa companhia. As criaturas, presas na mente de
Dórian estavam livres afinal.
Fragmento do livro Sono Paradoxal, de Samuel da Costa, poeta, contista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.
Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br
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