quinta-feira, 1 de julho de 2021

QUADRILOGIA: NEGRAS LINHAS EM PÁGINAS EM BRANCO

 

Quadrilogia: Negras linhas em páginas em branco

 

Poliedro (cadê o meu blush)

Um tributo para Rute Margarida Rita

 

Em uma tela

Existe o eu traída

 Abstraída, dividida

E subtraída

Em uma tela em HD

***

Mas cadê o meu rímel?

Cadê o meu blush?

Cadê o meu batom?

Cadê as minhas palhetas esmaltas...

Multicores?

E a minha meia arrastão?

***

O eu delimitada

E internalizada

Enquadrada

Em clausura eterna

Em uma surreal tela digital

Que é de alta definição

***

O eu escandalizada...

Imortalizada

E sem filtros algum

E sendo arquivada

No final da história pós-moderna  

***

But I've never been to Brooklyn

In Harlem

Or in Queens

***

I've never been to Seattle

I've never been to the Bronx

I've never been to the South Center in LA

***

I never dreamed of higher flights

I've never been to the West end

***

O eu supra-real

O eu sendo passional

Um ser ficcional

Emoldurada para sempre

Em uma rede digital social

Superficial

Sendo uma pessoa irreal

Que não sou eu

De verdade

Por Samuel da Costa e Clarisse Cristal

 

Algaravia

 

Encontrei as chaves perdidas de papai

Estavam lá, estáticas e bem seguras

 Na algibeira interna

 Do meu sobretudo negro  

***

Agora sou eu que não me encontro mais 

Acordo pelo amanhã

E contiguo a mim

Uma angustia

Infinda

De ser uma outra pessoa

Alheia do que fui até a pouco

***

Desaprendi

 A compor em versos com poesia 

Desaprendi a contemplar o vago

E o vazio inquebrantável

Do noturno silêncio oblíquo

Em noite perdida no campo santo

***

Encontrei as outrora chaves perdidas de papai

Agora a luz do dia faina

O meu corpo oco e insípido

Inerte em duas rodas velozes

***

Encontrei as chaves perdidas de papai

E minha nova paixão

Surge sempre benfazejo

Ao final do expediente

Clarisse Cristal

 

Tessituras

 

Just don't try to forget

My beloved ivory like poet

I love you

***

Definitivamente

O nosso trágico idílico

Caso de amor ultra-romântico

Não é um grave problema

Não é uma sintéctica

Chaga pós-moderna na minha opinião

***

Que me perdoem

Todas as sacrossantas Valquírias

Todas as devassas Tíades,

As místicas Sereias

Todas as bravias Amazonas,

Todas as sedutoras Yaras e Kiandas

De todos os mares, de todos os oceanos

 Em todas as bucólicas enseadas

De todos os mortais rios

E abissais lagos distantes  

De todas as perdidas ilhas longínquas  

E de todas as florestas encantadas  

Em todos os tempos em todos os lugares

Pois eu simplesmente amo você

Imortal ebúrnea poetisa atemporal 

***

Neste arremate final

Nas nossas cosmovisões  

Convulsas

 Perco-me nas nossas

Supra-reais negras fluídas linhas 

Nas nossas sinfônicas tessituras

Intertextuais

A nossa edênica divinal morada

Para o além dos astros 

Onde vamos nos amar

Para todo o sempre

Meu nefelibata aedo de ébano

Por Samuel da Costa e Clarisse Cristal

 

Afagos

 

A despeito

De todos os nossos grandes gestos

E de todas

As nossas pequenas delicadezas

 Nos nossos cotidianos na pós-modernidade 

Peço-te que jamais desapareça

Da minha vida desapareça

***

Só agora que eu percebi

O quanto tu me fazes falta

Nestes dias desolados

E confusos

***

Não! Não se vá embora

Venha para perto de mim

 Por favor 

Vem e pegue na minha mão

Minha dulcíssima ebúrnea poetisa

Que vive em límpidas águas tranquilas

De um rio claro

***

Então simplesmente

Vamos despir

Os nossos sapatos apertados  

E vamos dançar no meio da rua

Vamos ser felizes

Aos meios dias

E as meias noites

Samuel da Costa

 

Clarisse Cristal é bibliotecária e poetisa em Balneário Camboriú SC

Samuel da Costa é funcionário público e poeta em Itajaí SC

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