Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)
Por hora meu
Sinto-me completamente abandonada
Deixada sozinha à mercê
Dos meus pensamentos, sonhos e desejos
Mais impróprios e inadequados
***
Olhei no espelho côncavo
Bem na minha frente
E tudo o que eu pode ver
É que a imagem refletida não é minha
***
Trabalhei nos teus pensamentos convexos
Disse-me o psiquiatra gestaltiano
Emprestado de mamãe
***
Sei que o psiquiatra gestaltiano nunca entenderá
Os meus muitos motivos
Quando disse que eu encontrei
No meu mundo de fantasias
O meu verdadeiro propósito de vida
***
Deixe florescer o meu corpo
E a partir daí ficou estranho
Todas às vezes que eu adensava
E adormecia
Deixava o mundo em vigília
E flanava na terra dos sonhos
***
No coração do meu reino nevoento
A cidade das nuvens
Onde as poeiras estelares
Consagram os sacrossantos rios e lagos
E os antigos deuses e deusas astrais
Sussurravam os seus sigilos
Nos bosques encantados
Onde nasceram os meus místicos estros
As minhas míticas prosas
***
Dispensei o psiquiatra gestaltiano
De mamãe
Agora equilibrada eu regresso
A minha noturna paz desarmônica
Ser uma pessoa razoavelmente feliz
E ter calma ao caminhar pelo campo santo
Rumo a eternidade
Fragmento do livro, Sustentada no ar por negras asas fracas, texto de Clarisse Cristal, poetisa, cronista, contista, novelista e bibliotecária de Balneário Camboriú, Santa Catarina.
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