Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Eu estava
acostumado a vê-la brevemente todos os dias, como se fosse uma pintura vívida,
aquela jovem, ela era uma bela mulher, porém sempre estava triste. Logo de
manhã, bem cedo, saia apressada, com sua mochila nas costas, para enfrentar as
lutas diárias. Colocava o lixo no portão e respirava ofegante e seguia em
frente. E eu sempre apreciava essa cena tão comum para muitos, mas ela me
chamava a atenção. No final da tarde, estava ela de volta ao lar, parecia
chegar triste e muito abatida.
Em um novo dia, lá
estava ela, de novo segundo a mesma rotina, mochila nas costas, olhar triste,
partindo para o ponto de ônibus próximo. No começo de um dia, percebi que a
rotina tinha sido quebrada, ela demorava para ir ao trabalho. Tinha acostumado
vê-la partir e chegar todos os dias, apesar de não a conhecer pessoalmente.
Como moro ao lado, fui ver o que tinha ocorrido.
— Olá, tem alguém
em casa? — Resolvi chamá-la assim, eu não sabia sequer o nome da mulher, tive
um mal pressentimento. De repente ela aparece na porta. Estava machucada, havia
hematomas em seu rosto.
— Estou aqui, ando
gripada vizinho. — Constrangida me respondeu ainda dentro de casa.
Mas era
mentira dela, pois não estava com gripe. Ela, uma dedicada professora de
história, em início de carreira, que trabalhava em três escolas todos os dias,
mas estava sofrendo várias agressões. E eu, um completo estranho para aquela
mulher, um desconhecido qualquer, ela gentilmente me convidou para entrar em
sua casa. Era uma casa simples e modestamente decorada, mas tinha as melhores
de todas as decorações possíveis, livros variados e mais livros de todos os
gêneros e por toda a parte e em todos os cômodos da casa.
A
dona da casa, me conduziu para a sala de estar, ela tinha acabado passado um
café no coador de pano. Sentamos à mesa, ela me serviu uma xícara de café preto
e, sem sequer perguntar o meu nome, contou das agruras que estava passando
naquele exato momento da vida. Confidenciou-me que era de origem humilde e
conseguiu se formar em história a duras penas. E uma vez formada, fez concurso
público, foi dar aulas na rede pública de ensino e depois na rede privada de
ensino também. Depois, contou dos assédios morais e agressões sofridas, dentro
e fora da sala de aulas, por alunos, alunas e colegas de profissão. Ameaças de
morte e até uma agressão física, nas duas redes de ensino. E eu sem nada dizer
sobre isso, ouvi de tudo isso com profundo pesar no coração e na alma, depois
disto forjamos uma bela e profunda amizade.
Eu filho de
professora primária, além de vê-la partir e chegar do trabalho, agora no começo
da noite, eu vejo aquela mulher forte, sentada na varanda da casa, preparando
as aulas, corrigindo trabalhos, tão dedicada, ao mesmo tempo desvalorizada da
vida...!
Fragmento do livro:
Duas lágrimas, duas vidas e dois sorrisos. Texto e argumento de Fabiane Braga Lima, novelista,
poetisa e contista em Rio Claro, São Paulo.
Texto e revisão de
Samuel da Costa, novelista, poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina.
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