Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
sábado, 1 de outubro de 2022
Cultive: flores, cores, livros, amores. Primavere-se!
O EXEMPLO DE UM GRANDE FILÓSOFO
Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Dizer quem foi o filosofo e
ensaísta Jean Guitton, parece-me desnecessário, pois é sobejamente conhecido.
Escreveu vários livros; obras
dedicadas a " católicos inteligentes"; entre elas: " O Livro da
Sabedoria e das Virtudes Reencontradas", editado pela Editorial Noticias,
e o " Trabalho Intelectual" Coleção Universitária, da "
Logos".
Foi o único leigo a participar
no Concilio Vaticano II. Era professor da Sourbone e membro da Academia de
França.
Poderia escrever muito mais
sobre este Homem da cultura, amigo de Francois Mitterand e de vários Papas;
mas, o que pretendo levar ao conhecimento do leitor amigo, é o que se passou,
quando do foi incorporado no exército.
O jovem Guitton, que possuía
incomensurável fé, perguntou a conhecido sacerdote, se durante o tempo de
militar, deveria rezar, de joelhos, ao lado da cama, como era seu costume.
O padre, respondeu-lhe deste
modo: " É dever do crente, não se envergonhar da sua fé, e praticá-la
em público; mas, compreendo a sua posição..."
Jean Guitton, animado de fé
invulgar, indiferente aos camaradas presentes na caserna, ajoelhou-se e orou,
perante o respeito e admiração de todos.
Passaram-se longos vinte anos.
Guitton, já notável professor, soube que camarada de camarata tinha falecido.
Apareceu no funeral.
O pai do companheiro de
caserna, professor universitário, diretor da Faculdade de Ciência, logo
reconheceu Guitton. Agradeceu a presença e confidenciou-lhe:
Que o filho, que era ateu como
ele, falava-lhe muito de Guitton, e admirava-lhe a sua extraordinária cultura;
mas, principalmente, o que mais o surpreendera foi a coragem, o exemplo, que
deu, como crente, ao ajoelhar-se na caserna, para rezar.
Jean Guitton, desde jovem, não
se coagia, como católico, de se afirmar como crente, nos cargos que ocupava,
assim como nas numerosas entrevistas e conferencias, que concedeu.
Bem diferente de muitos, que
são crentes duplos: católicos no templo, agnósticos, na vida quotidiana – na política,
na empresa, na sociedade, – receando que a fé que professam, possa
prejudicar-lhes a careira profissional que iniciaram.
Jean Guitton, faleceu a 21 de
março de 1999, com 98 anos, confiante na misericórdia divina, pois receava não
ter posto todos os dons que recebera, ao serviço de Deus e da Igreja. -
Declarou numa entrevista concedida a revista francesa.
NÃO COMPREENDI, MAS VENEREI
Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Raposo, do nosso Eça, bacharel
em Direito, sobrinho de D. Patrocínio, ao chegar ao Egipto, exclamou perante o
companheiro, que com ele viajava:
- " Egipto! Egipto! Eu
te saúde, negro Egipto! E que me seja propícia..."
Mas Topsius, conhecedor que
Raposo tinha tanto de Dom João, como ele de historiador, voltou-se para o
companheiro, e retorquiu: " Não! que vos seja propicia D. Raposo Ísis,
a vaca amorosa!"
Raposo não compreendeu, mas
venerou!
Como Raposo, quantos de nós,
para não parecermos ignorantes, em determinado tema, não dizemos, também: venerei!...
Perante Arte Abstrata, diante
de cada borrão ou rabisco, que qualquer criança de tenra idade, executava, não
dizemos:
- "Que maravilha! Que
obra de arte! Que pintor genial"...
O mesmo sucede quando topamos
mamarrachos, na praça pública, assinados por artistas de gabarito, que qualquer
garoto talentoso, faria melhor, não exclamamos doutoralmente: " Que
imaginação!..." É que ninguém gosta de passar por ignorante, parecer
néscio, perante os outros...
Se os críticos entendidos, os
que conseguem, com palavras difíceis, explicar o que ninguém entende, nós,
simples mortais, homem comum, para não parecermos estúpidos, tomamos expressões
intelectuais, e dizemos enfaticamente: "formidável".
Se dissermos que é uma "
borracheira", palavra com que obteve muita antipatia o Mestre Soares dos
Reis, quando sinceramente apreciava obra que não gostava, os nossos amigos,
logo dizem ou pensam. " E eu que o julgava inteligente!..."
O que digo de artistas
plásticos, poderia dizer de certos escritores e poetas, premiados e ventilados
na mass-media.
A velha e relha história do:
Rei Vai Nu, está sempre atual.
Conheci amigo brincalhão, que
se gabava de ser muito letrado.
Certa ocasião, deixou velho
abade, atónito, ao discutir, com ele, teologia.
Decorara meia dúzia de nomes
sonantes, e quando pretendia embasbacar o velho sacerdote – pouco versado ou já
esquecido, – dizia-lhe: que o filósofo cristão ou teólogo tal, disseram, o que
eram apenas palavras suas...
O velho abade, não queria
parecer ignorante, e " engolia", como verdadeiras, as palavras
falsas.
Pobre abade!... O que se passa
para não se passar por pascácio!...
HOMENAGEM AO DIA DO CERRADO
Por Gustavo Dourado (Taguatinga, DF)
Cerrado da Calliandra
Das matas de galeria
Mata ciliar e seca
Sempre-viva à luz do dia
Campos sujos, cerradões
Mil veredas da poesia
Ação humana no Cerrado
Tem o risco de extinção
Os animais correm perigo
Fogo, morte, exploração
Natureza devastada
Em grave degeneração
Aqui é o chakra da Terra
Do mundo é o coração
Geologia bem antiga
De alta elaboração
Presença da divindade
No Planalto da Nação
O SONHO APENAS PASSOU POR NÓS...
Por Vânia Moreira Diniz (Brasília, DF)
Perdoem-me falar um pouco de
sentimentos pessoais, mas pela primeira vez tenho a impressão de que é proibido
sonhar. Estou em plena consciência, a lucidez completa que expulsa o devaneio.
Pensando num futuro objetivo, esquecida de muitas passagens que nos fizeram
andar com passos incertos. Agora sim. Pela primeira vez tenho a sensação de que
nada vai nos machucar. E isso porque chegamos a um tal ponto que só podemos
esperar pela reconstrução, reinvenção de nossos próprios valores exigindo de
nós mesmos atitudes serenas, porém firmes.
Outubro chegou hoje, o mês
mais encantador que conheço, com sua magia, encanto, relembrando-nos o mágico
poder das histórias de conto de fadas de nossa infância, a mês dedicado às
crianças e aos professores, mas entendo que já não se dá muito valor ao
“legítimo” no sentido amplo da palavra como é a missão dos professores e não se
pensa que a criança é algo importante demais para que deixemos que ela veja
como atualmente cenas tão cruéis. O que sabemos é que precisamos resgatar tudo
isso. Imediatamente, sem um segundo de espera para que todos possamos ser
felizes.
Estamos na primavera, flores e
plantas coloridas, a sensação de um aroma conhecido que se espalha e nos conduz
para essa natureza multicor. Tenho confiança que nosso sonho se foi, mas ficou
a certeza da beleza, da esperança e dos sentimentos, aqueles que vemos com
olhos da realidade encantadora e plena.
Estranho como apesar da
ausência de certas convicções somos capazes de buscar nessa estação delirante
de outubro a doçura de momentos que se aproximam. O céu muito azul, nuvens
esparsas e brancas, crianças espalhadas pelos parques, bebês nos carrinhos,
sorrisos quentes pela madrugada, a alma que vigiava alerta o amanhecer fogoso
para aproveitarem o dia que se estenderia doce e sedutor.
Nesse momento ali está o que
sempre admiramos: O céu parecendo se encontrar no horizonte com a luz amarela e
laranja em reflexos que nos fazem ter vontade de sentir entre os dedos essa
mágica da natureza. Desejamos sentir no rosto e no corpo esse sol de primavera,
deitar-nos ali, fechar os olhos admirando as flores nascendo viçosas e
perfumadas e então ansiar que todos possam usufruir esse momento mágico, sem
lembranças nem expectativas, sonhos esquecidos ou tristezas. Por um segundo
apenas.
O meu sonho se foi, mas ficou
a primavera. Agora sou eu que não quero sonhar, mas viver. E usufruir o hoje e
agora pelo menos nessa estação florida que acabou de chegar, desejo dar-lhe as boas-vindas,
saudá-la como sempre fiz e pedir que possa levar seu perfume a todos. Agora,
nesse momento de harmonia onde o arco-íris imprime alegria e deixa nos brilhos
dos olhos a marca de sua profundidade, não desejo sonhar, mas viver.
Não desejamos apenas sonhar,
mas viver...
E então amanhã será um novo
dia, mais consciente e lúcido, tranquilo e ameno baseado em verdades nada
contraditórias, mas coerentes e poderemos sentir que o sonho apenas passou por
nós, tocou-nos de leve e foi embora deixando por enquanto a primavera e depois
a felicidade. O sonho apenas passou por nós.
A primavera nos traz
lembranças, porém acima de tudo nos impulsiona para o amanhã como sempre
aconteceu e o tempo nos ensina cada vez mais o segredo do “saber viver” com
valores diversos, baseados na reflexão e nas experiências que o caminho ensina
e traduz. O sonho apenas tocou em nós.
O Portal Vânia Diniz, seu
editor e colunistas se erguem nessa primavera de outubro desejando e exigindo a
luta constante por “um mundo melhor”.
LARINHA
Por Dias Campos (São Paulo, SP)
Larinha
ainda não foi para o céu.
Há quase cinco
anos, meu filho ganhava o seu primeiro bichinho de estimação. Mas esse
presente não veio só porque fosse insistente. Decidimos, eu e minha
esposa, que ele deveria merecê-lo. Para isto, teria que passar por um longo
período de prova, de fevereiro até doze de outubro. E se até o Dia
das Crianças ele tivesse praticado mais atos meritórios do
que traquinagens, nossa família aumentaria de um pet. – imprimimos uma
tabela, a prendemos com ímãs na porta da geladeira, e nela ticávamos com tinta
azul ou vermelha, conforme fossem as ações positivas ou negativas.
Mesmo
não esperando que o leitor acredite, foi só no último dia do prazo que o
lado azul superou o vermelho! E uma vez cumprida aquela condição, o garoto fez
jus ao prêmio.
E se
é verdade que o guri não tinha certeza sobre qual a
raça que mais o agradava, se cachorro, gato ou furão,
também é exato afirmar que, por motivos particulares, fomos suficientemente
hábeis para convencê-lo a que escolhesse um bichano.
Foi assim que
Larinha entrou na nossa vida. Vinha adotada, filhote, castrada, e com
uma micose que a todos infectou e demorou para ser erradicada. – por
óbvio que não fomos nós quem escolhemos o seu nome e o
diminutivo carinhoso.
Nem
se precisaria dizer que nossa casa ficou de cabeça para baixo... Eram
brinquedos espalhados aqui e ali, mantinha estirada acolá, e
vasos de violeta deitados ao chão. Mas de todas as suas travessuras,
as que mais doíam aos nossos corações tinham por objeto um dos móveis da
casa. Ah! Por que será que os gatos preferem afiar as
garras em um sofá de couro a se
divertirem com um atraente e prático arranhador?
E por
falar em arranhadas, que também lembram mordidas, Larinha, como todo gato,
adorava brincar com minhas mãos e braços. Mas ao
contrário de minha esposa e filho, descobri que
era alérgico a esse tipo de passatempo. Sendo assim,
bastava um leve contato com suas garras ou dentes para que a vermelhidão, o
inchaço e, sobretudo, a coceira surgissem. E lá corria eu à procura de
água e sabonete.
Havia,
por certo, outros inconvenientes. E vomitar bolas de pelos em nossa cama, e
sobre o edredom branco, era um dos que mais me “comovia” ...
Mas
a alegria que Larinha nos proporcionava, seja se
apoiando nas patas traseiras para pedir carinho, seja brincando de correr
atrás de uma bolinha de papel
alumínio recém-amassada, atenuava a importância de toda
e qualquer surpresa desagradável.
Ocorre
que, com o seguir dos anos, começamos a perceber que o fiel da
balança passou a pender para os fatos indesejáveis. Os
vômitos, por exemplo, ficaram mais frequentes.
Foi
quando a veterinária, que há muito nos avisara que
os seus rins eram atrofiados, explicou que esses
órgãos já atingiam estágios crônicos.
É
claro que os expedientes ao nosso alcance foram utilizados; em
particular, a substituição da comida que oferecíamos
por outra ração, específica para gatos com problemas
renais.
Mas
isso também era paliativo.
Os
meses passavam, os rins filtravam cada vez menos, a quantidade
de ureia no sangue aumentava... E começamos a sentir um
forte odor a escapar pela boca da gatinha. Além do que, as sessões de
hidratação com soro aconteciam em intervalos regulares, e a perda de massa
muscular era visivelmente preocupante.
E como
se tudo isso não fosse suficiente, o ultrassom ainda identificou dois
cálculos no rim direito!
Prescreveram,
então, um medicamento para dilatar o ureter, na esperança de que as
pedras saíssem sem a necessidade de cirurgia.
E para
o nosso júbilo, as imagens posteriores revelaram
que elas estavam, sim, se movimentando!
No
entanto, mesmo que tivessem sido expelidas, isso
não alteraria a inexorabilidade do prognóstico.
Quando
Larinha se foi, um misto de tristeza e alívio tomou conta dos nossos corações.
Na
noite seguinte, meu filho perguntou se ela estava no
céu. Respondi que sim; se bem que respondesse menos por convicção do que
por esperança.
E
fomos dormir.
Lá
pela madrugada, acordei sobressaltado. Levantei-me e fui
ao seu quarto para ver se tudo estava bem.
Amigo
leitor, é provável que você não acredite, mas vi Larinha na cabeceira
da cama, enrolada em si mesma, e com os olhos brilhantes a me
fixarem.
Sonhava? Tenho
certeza que não. Tanto que voltei
para o quarto sereno e sorrindo.
Quando
me deitei, minha esposa abriu os olhos. E, sonolenta,
perguntou como estava o garotão. Respondi que dormia
profundamente, e que era velado por um anjinho.
Não
sei quando Larinha irá para o céu. E, para dizer a verdade, espero que não
tenha pressa.
BRAVA GENTE BRASILEIRA
Por Marcelo de Oliveira Souza, IWA (Salvador, BA)
Amazônia verde sem igual
Índios, agricultores longe do litoral
Cerrado, planície sensacional,
Quem não deseja conhecer
A ilha do Bananal?
Todo mundo louva o pantanal
Nordeste, sofrido e sertanejo
Desigual...
Bahia, a terra do Dorival.
Lacerda, pelourinho medieval
Praias e povo tradicional
Sudeste um mundo à parte
Todo lugar no Rio é arte
País do carnaval!
O outro país do Chimarrão
Lindas gaúchas de plantão
Esporas e churrasco no varal
Tudo nesse mundo brasileiro
é sensacional.
Essa Brava gente Brasileira
Tão diferente e tão igual
Todas elas na mesma
Unidade nacional.
DOR DE ONZE DE SETEMBRO
Por Marcelo de Oliveira Souza, IWA (Salvador, BA)
Lá de cima, no céu vem aquele imenso clarão
Acompanhado de um grande trovão
Colocando em desespero a população,
O povo correndo em comoção
Gritos de horror, salvem a multidão!
Tá tudo caindo, o mundo se destruindo
Terremoto se esvaindo
A torre se diluindo...
Aquele arranha céu lindo !
Agredido por monstros alados.
O fio dos desesperados
Pobres coitados !
Dentro dos dois paus gigantes viraram nada !
Esse nada que hoje é tudo
Que sobrou do fim do mundo...
A torre de babel bendita
Caiu na armadilha maldita,
Deixando como herança setembrina
Mais um exemplo que alucina...
A dor cravada no peito
Não cessou direito
E todo ano tem o mesmo efeito
De quem morre, sofre e carrega para sempre
A dor do luto no peito...
O AMOR E A CONSIDERAÇÃO
Por Marcelo de |Oliveira Souza, IWA (Salvador, BA)
Ouvi desde criança
Essas palavras a desfrutar
No redemoinho a sua pujança
Faz o substantivo, verbo conjugar.
Esse mundo ainda tem esperança
Mesmo com a perfídia
Com cara amiga acenar?
Pouco a pouco tem até vigilância,
Esperado o certo entortar,
Ninguém olha com a fragrância
da abundância,
Querendo o bem plantar?
Surpreendo-me nesse mundo estranho
De quem mais confia,
Um punhal faz-se atravessar.
As janelas da alma estão foscas
Para na penumbra atormentar,
Vejo mão que sempre aceno,
Não torna um coração ameno,
Porque ele é muito pequeno
Com tanto veneno a pulsar.
Os dias se arrastam
Com todo esse turbilhão
Faz-se de tudo
Mas os olhos foscos não vão brilhar.
Essas palavras bonitas
Que sempre são ditas
São poesias copiadas
Que não chegam a nenhum lugar.
Onde tudo ainda se arrasta
Mas as palavras escritas já basta,
Aqui nesse mundo
O que vale mesmo é o amor e a consideração,
O resto é malversação de sentimentos fora do lugar!
BRIAN
Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
Fui convidada para um jantar
especial, na casa de Brian. Chegando lá, não havia quase ninguém, a não ser,
seu pai que se encontrava doente. Bom, a mesa estava farta, estranhei!
Praticamente só havia somente nós os três, minutos depois o pai se recolheu aos
seus aposentos. Então Brian, colocou uma música romântica, e me convidou para
dançar, não recusei.
Meu coração ainda batia acelerado
de sentir sua pele sobre a minha, estava completamente excitada. Pedi licença,
e eu disse para ele que eu iria retocar a maquiagem. Era mentira, eu precisava
respirar para que pudesse voltar ao normal.
– Bom, chegou a hora do jantar! – Disse Brian com
sorriso malicioso nos lábios. Enquanto me segurava com seus braços másculos.
– Sim, estou faminta! – Eu sussurrei no ouvido dele.
– Humm.... que bom teremos uma noite longa.
De mãos dadas fomos para a sala de
estar, a mesa estava fartamente posta e sentamos. Eu senti o pé dele sobre
minhas pernas trêmulas. O pé de Brian, por debaixo da mesa, subia cada vez mais
alto. Ele estava passando de todos os limites, e sinceramente, estava adorando.
Brian abriu um vinho e encheu duas
taças, tomamos as duas taças sem tirarmos os nossos olhos famintos um do outro!
E de repente ele pegou a minha mão, me levou até a piscina, tirou meu casaco, e
disse- me:
– Entre, a água está morna, a piscina é aquecida! –
Disse olhando nos meus olhos.
Ele me despiu bem devagar deixando
seminua, ele se despiu diante de mim também ficando seminu e entramos na
piscina de águas mornas e eu com o meu coração acelerado. Brian estava lindo,
como resistir aquele másculo corpo
perfeito?
Enfim, ali sobre as bênçãos da noite
enluarada nos beijamos perdidamente e nós amamos intensamente.
Fabiane Braga Lima é poetisa e contista em Rio Claro, São
Paulo
Contato: bragalimafabiane@gmail.com
DOS MEUS SILÊNCIOS IMPOSSÍVEIS
Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)
Não venha com ramalhete
De negras flores
Pois lá fora há o tirano
Têm a tirania suprema
***
Hoje de noite fico em casa
Completamente sozinha
Não me telefone
Nem mensagens de voz
Quero escutar
***
Não deixe recados vagos
Na portaria do meu prédio
Nem vagas e eletrônicas
Juras de amor fluidas
Quero de ti
***
Não ouse pensar em usar
Das muitas lateralidades
Infindáveis
Das nossas vastas amizades
Poucos sinceras
Ocasionais e virtuais
***
No hoje ao cair da noite profunda
Em mim impera
A soberana harmonia de silêncios
Sepulcrais
Do sagrado campo santo
Sem métricas... Sem rimas
Sem vinhos
Sem velas
Clarisse Cristal é poetisa e bibliotecária em Balneário
Camboriú, Santa Catarina
ESTRANHAS COISAS
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
É estranho como algumas coisas acontecem!
Muitos de nós
Passam a vida a buscar um grande amor.
Passamos pelo renascer da vida,
A construção de muitas histórias,
O enfrentamento da perda…
A morte deixa um vazio,
Você está ali naquele lugar
E não encontra aquela pessoa,
Parece até que
Outra história é escrita,
Mas na manhã seguinte
Diante dos seus olhos
A vida se mostra de todas as formas.
É visível as borboletas amarelas
Voando sobre as flores.
O sol se posta no vidro da janela.
O coração por alguns minutos
Deixa a saudade de lado
E procura viver,
Mesmo que o peso da dor
Caia sobre os pés.
O caminhar desanda,
Mas todo andante caminha para frente
Sem se importar com o cansaço.
Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu, Santa
Catarina.
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
NÃO É APENAS UMA HISTÓRIA
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Essa não é mais uma daquelas histórias
que lemos por aí,
nem se pode dizer com tanta firmeza
que o amor é algo que
acontece de repente.
Há mais coisas nessa vida
que não tem explicação
e que talvez você não acredite.
Você pode ver as estrelas
e não se atreve a ver além delas.
O que acontece é que assim como você,
muitas pessoas não dão valor
às pequenas coisas.
Os detalhes são deixados de lado
e o tempo passa e só percebemos que
perdemos muitas coisas
quando nos vemos sozinhos.
Pela noite a solidão bate.
Com o silêncio podemos até ouvir
as batidas do nosso coração.
Quanto mais olhamos
para o nosso espelho parece que
estamos envelhecendo rápido,
mas na verdade só paramos
no mesmo lugar.
Não andamos com as estrelas.
E se no final da estrada existe o fim
eu não sei, histórias são para serem
vividas e escritas.
Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu, Santa
Catarina.
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
O GRANDE DEUS RAPTOR DE ALMAS
Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Para
Fabiane Braga Lima
Eu não
plantei flores!
E nunca
vou plantá-las!
Para não
vê-las morrerem...
Abruptamente!
Pisoteadas
cruelmente,
Pelas
botas asseadas...
E
lustradas.
Dos
soldados desumanizados!
Fortemente
armados,
Que
em descompassados...
E
uniformizados!
Passam em
marcha.
Ao chegar
no final da escada, um embrulho de estômago o fez sentir vivo de novo. O que
lhe passou pela mente sem aviso foi a lembrança amarga, de receber o trágico
relatório secreto, do núcleo de repressão Moreira César, por fim estava em suas
mãos. O relatório estava batido na máquina de escrever e estava bem resumido.
Não tinha fotografias dos elementos, só dados
básicos dos membros do aparato repressivo. E uma breve passada de olhos e ele
viu, lá estava o que ele suspeitava e temia. Estavam todos vivos, com as vidas
destroçadas por tragédias e mais tragédias. Pequenas e grandes tragédias se
abateram nos homens e mulheres que operavam no interior do núcleo de repressão
Moreira César. E as palavras de Aldo gritou bem alto na mente dele: — Vocês
vão morrer aos poucos e várias vezes! Eu juro!
Constavam no relatório: acidentes de trânsitos,
cânceres, suicídios, desaparecimentos repentinos, prisões, descaminhos e
falências empresariais e pessoais. Coisas que aconteceram com membros do núcleo
repressão e as pessoas que gravitavam ao redor, dos agentes.
Eram parentes e pessoas próximas de quem um dia
integrou o núcleo de repressão Moreira César. Dos elementos efetivos em si,
havia registros de passagem por clínicas psiquiátricas, centros de recuperação
para drogados e alcoólicos, internamentos prolongados em hospícios e clínicas
psiquiátricas. Estavam todos vivos, mas com as vidas arrasadas.
Fechou o relatório após as leituras e uma coisa
martelava na cabeça, ele sabia das atrocidades cometidas pelo núcleo de
repressão. E uma vez com a queda do regime autoritário e a posterior redemocratização
todos e todas do aparato repressivo voltaram para as suas lotações de origem.
Como se nada tivesse acontecido, sem responder pelos abusos que cometeram.
Ele era somente um escrivão da polícia civil há
época, voltou para a burocracia estatal e fez faculdade de direito, os demais
elementos dos porões da repressão ele cortou todos os laços pessoais e
profissionais.
E de repente recobrou a consciência, de onde estava
e o que deveria fazer, deveria sair dali o mais rápido possível e relatar tudo
que vira e ouvira para seus superiores.
Ao ganhar a luz do dia e no meio da
calçada, olhou para a entrada do prédio, a porta aberta surgiu como uma luz ao
final de um túnel escuro. E a cada passo que dava, uma coisa acontecia, algo
que simplesmente nunca havia acontecido antes. Eram os gritos de dores
infindas, choros angustiantes, soluços prolongados e clamores chorosos.
Suspensos no ar ficaram os cheiros devastadores de sangue fresco, carne
queimada, urina em brasa, vômitos e fezes. Nem em pesadelos sentira isso antes,
era como se estivesse de volta aos porões da repressão. Vozes gritando,
clamando, chorando e cheiro de carne humana queimada, coisas que preferiu
apagar das lembranças, deixar para trás e seguir a vida em frente.
Ao se distanciar do prédio um pouco mais, se
apressou em descer a rua, andou uns bons metros e olhou para cima do prédio,
uma luz negra atingiu o último andar, pequenos e finos feixes brancos de luzes
se destacaram em meio a escuridão. Olhou para frente e atravessou a rua, que estava
estranhamente vazia àquela hora da tarde. Uma viatura da polícia desceu a rua,
em altíssima velocidade e estava com a sirene desligada. Foi atingido ao tirar
os pés da calçada e pô-los na rua, o frágil corpo voou longe, subiu alto e caiu
na gramada a poucos metros de onde estava.
Acordou no hospital, em meio de gritos de horror,
choros e lamentos, abriu os olhos e tentou em vão se mover. Foi quando os
cheiros dos porões da repressão invadiram o ambiente. Um homem negro, alto,
vestido como um diplomata europeu apareceu na porta.
— Hora de ir chefe! O raptor de alma apareceu por
fim! — Era cordato o tom de voz do homem negro!
— O quê? — Sonolento o homem olhava para o teto do
leito.
Acordou cheio de vitalidade, cheio de energia,
estava de pé próximo a porta e não entendeu nada! Olhou para trás e viu seu
próprio corpo deitado no leito de olhos fechados com o rosto contraído. Era
como se sentisse dores atrozes.
— E ele? — Ele estava falando em dialeto trentino e
apontando para si mesmo. Fazia tempo que não ouvia e nem falava em italiano.
Olho para as roupas que estava vestindo, era um terno caro, no pulso um
relógio, feito sob medida por um relojoeiro suíço. Nos pés confortáveis,
sapatos feitos de couro de crocodilo.
— Chefe é hora de partir e deixá-lo para trás! —
Disse como um soldado em combate. O homem
africano estava falando em italiano no polido sotaque de Roma.
— Temos que ir! — Disse em tom militar.
O homem negro assentiu com a cabeça e ambos
partiram, outros dois homens negros estavam no lado de fora do leito
hospitalar.
Ao passar pelos corredores do hospital que estava
vazio queria fazer mil perguntas, queria parar, mas não conseguia.
— Onde está o raptor de almas? — Por fim perguntou
— Está no conclave anual! Em um prédio a poucos quilômetros
daqui, já identificamos todos os elementos que estarão no conclave!
Ao passar pela recepção também vazia, notou um
outro homem negro também bem vestido, mas parecia um professor universitário e
uma mulher loura de uns trinta anos. Estavam na porta de saída do hospital e
olhavam para o quarteto.
Saíram do hospital, uma limusine estava esperando,
a porta se abriu e ele foi tragado pela escuridão luxuriante do carro de
luxo.
Samuel da Costa é contista e funcionário público em Itajaí,
Santa Catarina.
Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br