Por Samuel da Costa (Itajaí, SC) e Clarisse da Costa (Balneário Camboriú, SC)
Pacto selado, irmandade composta,
limites pré-estabelecidos e o primeiro caso definido, funções estabelecidas e
cronogramas acertados, tudo isso em uma noite apenas. Como soou natural e
mecânico a coisa toda, penso eu agora, como algo ou alguém sussurrando nas
nossas mentes. E não quero adentrar em detalhes atômicos sobre a nossa
aventura. Àquela hora, pensei no professor Faruk, não como um criminoso
perigoso, um facínora, não como uma vítima do sistema e sim como um erro a ser
corrigido.
Dias depois, eu e Amira,
investigamos a fundo a vida do professor Faruk, o proeminente musicista
clássico e popular, professor pesquisador universitário e outrora benquisto,
nas comunidades acadêmica e musical. Figura de trânsito fácil, em várias
camadas da sociedade, político e social, das altas esferas do poder, das
camadas mais baixas da sociedade. Dos bares das periferias, indo até as grandes
arenas da música clássica, dos grandes centros urbanos e nos interiores. Até
tudo vir abaixo, com denúncias graves de assédios sexuais. Foi isso que eu e
Amira descobrimos, percorremos os bastidores do mundo musical, a pretexto de
fazer uma pesquisa acadêmica, de grandes figuras proeminentes do universo
musical.
Pesquisa feita, o clube dos cinco
se juntou de novo e no mesmo lugar e indo direto ao ponto Samir e Natália
também fizeram as suas pesquisas, Samir no mundo do serviço de segurança e
Natália no mundo jurídico e da justiça. E Samir fez a sua lição de casa,
traçando um panorama das finanças e empresarial do professor Faruk. E para
resumir bem o caso Faruk é que não houve erros na investigação e nos processos
jurídicos que seguiu, somente a boa e velha solidariedade masculina. Policiais,
advogados, promotores, juízes e jornalistas, todos homens levaram a impunidade
do professor Faruk e sim a vida pessoal e empresarial do professor sofreu
fortes abalos.
E como foi fácil, partir para a
ação, eu e Amira nos envolvemos na associação das vítimas do professor Faruk,
um tanto elitizada e concentrada na academia das vítimas periféricas. E como
foi a campanha midiática, que começou na imprensa musical, para depois se
espalhar para a mídia de variedade e para a grande mídia. E como foi fácil,
unir mulheres musicistas e profissionais do mundo musical de várias vertentes,
para depois espalhar para outras mulheres artistas de várias áreas e
espetáculos foram realizados e notas públicas foram assinadas. Natália
mobilizou o mundo académico jurídico, o movimento estudantil, atos de protesto
foram realizados, artigos científicos foram feitos, monografias e aulas sobre o
caso Faruk. Ações que uniram vítimas, deram visibilidade ao caso Faruk.
E o passo seguinte, foram as ações
subterrâneas de Hassan e Samir, e de forma cirúrgica, detalhes da investigação
da foram vazados para a imprensa e grupos militantes do movimento feministas e
associados ocultos e conhecidos do professor Faruk foram expostos. Resultados?
Afogado em escândalos e com a vida devastada, Faruk perdeu o pouco prestígio
que ainda detinha, perdeu os contratos que tinha no meio musical. Preso
preventivamente cometeu suicido ainda na delegacia.
Eu não sei se me afundei eu um
sonho, ou perdi a minha sanidade, nesse primeiro grande caso do clube dos cinco
e que se seguiu foram casos anônimos e sem muitas repercussões. Mas a dinâmica
era sempre a mesma, eram casos passionais e crimes menores envolvendo elementos
subterrâneos do mundo do crime. E posso dizer que desde o primeiro caso as
nossas carreiras iniciantes foram impulsionadas de forma direta e indireta. Mas
como os casos de grandes sucessos em grandes empreendimentos, geralmente tem lá
as suas derrocadas.
E ressalto aqui, dois casos em
especial, foram dois elementos medianos do crime organizado, eram casos em que,
uma vez detidos, tiveram parte de suas delações foram divulgadas. E sabíamos
como eram as dessas dinâmicas, dessas delações terminavam, pois de delações em
delações, os elementos menores eram presos de forma espetaculares e os médios e
grandes elementos das grandes corporações criminosas acabam se livrando. Indo
parar presos pequenos criminosos e alguns elementos intermediários.
Pois bem, após a soltura de um
criminoso intermediário, divulgamos parte do acordo da delação e tempos depois
esse elemento morreu junto à sua esposa. Eles dois, foram atropelados um pouco
afastados da orla da praia, estavam de jet-ski e foram atingidos por um iate
desgovernado. E o outro caso similar, um outro elemento foi atropelado por um
carro desgovernado, estava ele na frente do clube Evo-85. E em ambos, os dois
casos, os condutores estavam embreados.
E que veio em seguida foi uma pausa
na nossa confraria, mas como acordamos no início da formação do clube dos
cincos, não nos reunimos todos no mesmo lugar, somente em casos especiais. Nós
nos reunimos, casualmente e em separado no dia a dia das nossas profissões e
vida pessoal e manteríamos contato virtual da mesma forma. E então, um assunto
se tornou comum entre nós, eram pesadelos e mal-estares, geralmente era na
calada da noite, durante o sono. Eram pesadelos atrozes, que a gente esquecia
quando acordávamos sobressaltados, esquecíamos e voltávamos a dormir e os
fragmentos vinham durante o dia. Eram uma criança, albina de aparência
alienígena, falando uma língua estranha.
Os pesadelos se avolumaram, não vou
aqui contar os detalhes indigestos dos pesadelos. E sim o que aconteceu a
posteriores, Natália e Samir acabaram internados em clínicas psiquiátricas, que
alternavam em catatonias e convulsões violentas. Hassan, o meu doce Hassan
sofreu um acidente de carro, foi atropelado por uma viatura da polícia, Hassan
estava de folga e o acidente até hoje não foi explicado. Amira, a boa e
fraterna irmã de alma, se foi em acidente enquanto se preparava para uma
apresentação, o caso insólito envolvendo um espelho.
Hoje, sozinha, sem a presença dos
meus irmãos e irmãs de alma, eu não sei o que fazer, e enquanto escrevo este
texto a criança albina, está ao meu lado muda, calada apontou para a janela
aberta.
Sobre os autores:
Fragmento do livro: Em perpétuos ciclos, por Samuel
da Costa, novelista, poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina.
Argumento de Clarisse Cristal, bibliotecária, contista,
novelista e poetisa em Balneário Camboriú, Santa Catarina.
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