domingo, 1 de dezembro de 2024

OPERA MUNDI: O CLUBE DOS ASSASSINOS! EPÍLOGO: DO DIÁRIO DE ESMA (2ª PARTE)

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC) e Clarisse da Costa (Balneário Camboriú, SC)

            Pacto selado, irmandade composta, limites pré-estabelecidos e o primeiro caso definido, funções estabelecidas e cronogramas acertados, tudo isso em uma noite apenas. Como soou natural e mecânico a coisa toda, penso eu agora, como algo ou alguém sussurrando nas nossas mentes. E não quero adentrar em detalhes atômicos sobre a nossa aventura. Àquela hora, pensei no professor Faruk, não como um criminoso perigoso, um facínora, não como uma vítima do sistema e sim como um erro a ser corrigido.

            Dias depois, eu e Amira, investigamos a fundo a vida do professor Faruk, o proeminente musicista clássico e popular, professor pesquisador universitário e outrora benquisto, nas comunidades acadêmica e musical. Figura de trânsito fácil, em várias camadas da sociedade, político e social, das altas esferas do poder, das camadas mais baixas da sociedade. Dos bares das periferias, indo até as grandes arenas da música clássica, dos grandes centros urbanos e nos interiores. Até tudo vir abaixo, com denúncias graves de assédios sexuais. Foi isso que eu e Amira descobrimos, percorremos os bastidores do mundo musical, a pretexto de fazer uma pesquisa acadêmica, de grandes figuras proeminentes do universo musical.

            Pesquisa feita, o clube dos cinco se juntou de novo e no mesmo lugar e indo direto ao ponto Samir e Natália também fizeram as suas pesquisas, Samir no mundo do serviço de segurança e Natália no mundo jurídico e da justiça. E Samir fez a sua lição de casa, traçando um panorama das finanças e empresarial do professor Faruk. E para resumir bem o caso Faruk é que não houve erros na investigação e nos processos jurídicos que seguiu, somente a boa e velha solidariedade masculina. Policiais, advogados, promotores, juízes e jornalistas, todos homens levaram a impunidade do professor Faruk e sim a vida pessoal e empresarial do professor sofreu fortes abalos.

            E como foi fácil, partir para a ação, eu e Amira nos envolvemos na associação das vítimas do professor Faruk, um tanto elitizada e concentrada na academia das vítimas periféricas. E como foi a campanha midiática, que começou na imprensa musical, para depois se espalhar para a mídia de variedade e para a grande mídia. E como foi fácil, unir mulheres musicistas e profissionais do mundo musical de várias vertentes, para depois espalhar para outras mulheres artistas de várias áreas e espetáculos foram realizados e notas públicas foram assinadas. Natália mobilizou o mundo académico jurídico, o movimento estudantil, atos de protesto foram realizados, artigos científicos foram feitos, monografias e aulas sobre o caso Faruk. Ações que uniram vítimas, deram visibilidade ao caso Faruk.

            E o passo seguinte, foram as ações subterrâneas de Hassan e Samir, e de forma cirúrgica, detalhes da investigação da foram vazados para a imprensa e grupos militantes do movimento feministas e associados ocultos e conhecidos do professor Faruk foram expostos. Resultados? Afogado em escândalos e com a vida devastada, Faruk perdeu o pouco prestígio que ainda detinha, perdeu os contratos que tinha no meio musical. Preso preventivamente cometeu suicido ainda na delegacia.

            Eu não sei se me afundei eu um sonho, ou perdi a minha sanidade, nesse primeiro grande caso do clube dos cinco e que se seguiu foram casos anônimos e sem muitas repercussões. Mas a dinâmica era sempre a mesma, eram casos passionais e crimes menores envolvendo elementos subterrâneos do mundo do crime. E posso dizer que desde o primeiro caso as nossas carreiras iniciantes foram impulsionadas de forma direta e indireta. Mas como os casos de grandes sucessos em grandes empreendimentos, geralmente tem lá as suas derrocadas.

            E ressalto aqui, dois casos em especial, foram dois elementos medianos do crime organizado, eram casos em que, uma vez detidos, tiveram parte de suas delações foram divulgadas. E sabíamos como eram as dessas dinâmicas, dessas delações terminavam, pois de delações em delações, os elementos menores eram presos de forma espetaculares e os médios e grandes elementos das grandes corporações criminosas acabam se livrando. Indo parar presos pequenos criminosos e alguns elementos intermediários.

            Pois bem, após a soltura de um criminoso intermediário, divulgamos parte do acordo da delação e tempos depois esse elemento morreu junto à sua esposa. Eles dois, foram atropelados um pouco afastados da orla da praia, estavam de jet-ski e foram atingidos por um iate desgovernado. E o outro caso similar, um outro elemento foi atropelado por um carro desgovernado, estava ele na frente do clube Evo-85. E em ambos, os dois casos, os condutores estavam embreados.

            E que veio em seguida foi uma pausa na nossa confraria, mas como acordamos no início da formação do clube dos cincos, não nos reunimos todos no mesmo lugar, somente em casos especiais. Nós nos reunimos, casualmente e em separado no dia a dia das nossas profissões e vida pessoal e manteríamos contato virtual da mesma forma. E então, um assunto se tornou comum entre nós, eram pesadelos e mal-estares, geralmente era na calada da noite, durante o sono. Eram pesadelos atrozes, que a gente esquecia quando acordávamos sobressaltados, esquecíamos e voltávamos a dormir e os fragmentos vinham durante o dia. Eram uma criança, albina de aparência alienígena, falando uma língua estranha.

            Os pesadelos se avolumaram, não vou aqui contar os detalhes indigestos dos pesadelos. E sim o que aconteceu a posteriores, Natália e Samir acabaram internados em clínicas psiquiátricas, que alternavam em catatonias e convulsões violentas. Hassan, o meu doce Hassan sofreu um acidente de carro, foi atropelado por uma viatura da polícia, Hassan estava de folga e o acidente até hoje não foi explicado. Amira, a boa e fraterna irmã de alma, se foi em acidente enquanto se preparava para uma apresentação, o caso insólito envolvendo um espelho.

            Hoje, sozinha, sem a presença dos meus irmãos e irmãs de alma, eu não sei o que fazer, e enquanto escrevo este texto a criança albina, está ao meu lado muda, calada apontou para a janela aberta. 

 

 Sobre os autores:         

Fragmento do livro: Em perpétuos ciclos, por Samuel da Costa, novelista, poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina.

Argumento de Clarisse Cristal, bibliotecária, contista, novelista e poetisa em Balneário Camboriú, Santa Catarina.

 

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