domingo, 1 de junho de 2025

ABSURDOS

Por Dias Campos (São Paulo, SP)

 

Foi lendo Moby Dick que o tema para esta crônica surgiu. Acredita, leitor amigo, que o seu autor, Herman Melville, homem culto e habituado às agruras do mar – ele foi baleeiro –, comparou, argumentou e concluiu em seu clássico que a baleia não era um mamífero, mas, sim, um peixe que esguichava e tinha cauda horizontal?! Seja ou não justificável a sua conclusão ante os rudimentares estudos acerca dos cetáceos daquela época, o fato é que esse absurdo me saltou aos olhos.

Daí que outro disparate irrompeu em minha mente. E voei ao computador, ávido por contá-lo.

Era um domingo frio e chuvoso, ideal para bate-papos, macarronada fumegante, pão italiano e dois tintos encorpados.

Conforme o combinado, chegamos à casa da nonna por volta das 13h munidos da sobremesa, um respeitável Tiramisù.

Ocorre que minha sobrinha escolheu esse mesmo almoço para apresentar o novo namorado...

Diante dessas reticências, suponho que você esteja se perguntando se o despropósito que anunciei estaria próximo de acontecer?

Com efeito, depois que nos servimos do mais caseiro dos espaguetes à bolonhesa; após o primeiro brinde, o dedicado à união familiar; e tão logo começamos a enrolar nos garfos a deliciosa massa, passamos a ouvir um ruído que a todos estacou.

Como não estivesse habituado com a nossa tradição, e uma vez que minha sobrinha jamais imaginara tamanha gafe, o seu namorado simplesmente ignorou a colher que serviria de apoio àquela etiqueta e cortava o macarrão com a faca destinada ao frango!

Ora, para uma família de descendentes de italianos, tradicional, essa atitude só poderia ser definida com um verdadeiro assassinato!

Com o passar dos segundos, porém, o pobre moço percebeu o silêncio que o rodeava. E foi parando de cortar... e foi levantando os olhos...

Acho que nunca rimos tanto quanto nesse dia!

Devidamente esclarecido pelo patriarca sobre o absurdo que acabara de praticar, o jovem pediu milhões de desculpas e prometeu nunca mais cortar outro punhado de espaguete, no que foi aplaudido por todos. E o almoço prosseguiu prazeroso até o cafezinho, como deve ser a uma família que se ama.

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