Por Dias Campos (São Paulo, SP)
Foi lendo Moby Dick que o tema para esta
crônica surgiu. Acredita, leitor amigo, que o seu autor, Herman Melville, homem
culto e habituado às agruras do mar – ele foi baleeiro –, comparou, argumentou
e concluiu em seu clássico que a baleia não era um mamífero, mas, sim, um peixe
que esguichava e tinha cauda horizontal?! Seja ou não justificável a sua
conclusão ante os rudimentares estudos acerca dos cetáceos daquela época, o
fato é que esse absurdo me saltou aos olhos.
Daí que outro disparate irrompeu em minha
mente. E voei ao computador, ávido por contá-lo.
Era um domingo frio e chuvoso, ideal para bate-papos,
macarronada fumegante, pão italiano e dois tintos encorpados.
Conforme o combinado, chegamos à casa da nonna
por volta das 13h munidos da sobremesa, um respeitável Tiramisù.
Ocorre que minha sobrinha escolheu esse mesmo
almoço para apresentar o novo namorado...
Diante dessas reticências, suponho que você
esteja se perguntando se o despropósito que anunciei estaria próximo de
acontecer?
Com efeito, depois que nos servimos do mais
caseiro dos espaguetes à bolonhesa; após o primeiro brinde, o dedicado à união familiar;
e tão logo começamos a enrolar nos garfos a deliciosa massa, passamos a ouvir
um ruído que a todos estacou.
Como não estivesse habituado com a nossa
tradição, e uma vez que minha sobrinha jamais imaginara tamanha gafe, o seu namorado
simplesmente ignorou a colher que serviria de apoio àquela etiqueta e cortava
o macarrão com a faca destinada ao frango!
Ora, para uma família de descendentes de italianos,
tradicional, essa atitude só poderia ser definida com um verdadeiro assassinato!
Com o passar dos segundos, porém, o pobre
moço percebeu o silêncio que o rodeava. E foi parando de cortar... e foi
levantando os olhos...
Acho que nunca rimos tanto quanto nesse dia!
Devidamente esclarecido pelo patriarca sobre
o absurdo que acabara de praticar, o jovem pediu milhões de desculpas e prometeu
nunca mais cortar outro punhado de espaguete, no que foi aplaudido por todos. E
o almoço prosseguiu prazeroso até o cafezinho, como deve ser a uma família que
se ama.
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