Por Paccelli José Maracci Zahler (Brasília, DF)
Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
segunda-feira, 6 de julho de 2015
quinta-feira, 2 de julho de 2015
SEM TETO (POEMA MUSICADO)
Poema: Ridamar Batista (ALB, Anápolis, GO)
Voz: Roberto Brenner (CD "Versos e Canções II)
Voz: Roberto Brenner (CD "Versos e Canções II)
ESCOLHER
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Escolho ser da geração o estigma
e da
terra o magma
na
oração do devoto
o coração se
despedaça
ao solo.
Beijo o solo
em
homenagem.
Anos passados representam
a hora da jornada. O que falta
ao espírito. O que se deduz
em luz. A escolha.
VIVER
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Vivo na ilusão
da água infinita
e da sede
saciada em goles.
vivo como intruso
destruindo o que não me pertence.
Alcanço o fruto e o desfruto.
Deixo o sumo escorrer pelas mãos.
Vivo na desilusão
de me intrometer
como abuso.
SEMPRE
Por Pedro Du Bois
(Balneário Camboriú, SC)
Na voracidade feito tempo
multiplico necessidades.
Não deixo a imagem perdurar.
Substituo feitos anteriores:
o produto recondicionado
transcende ao mito desprotegido.
A fome permanece como sempre.
EU SEI
Por
Samuel da Costa (ALB-Anápolis, GO)
Eu
sei!
Pelo
menos pensava que sabia!
Passou
da hora...
De
parar de importunar-te.
Com os
devaneios...
Quiméricos
meu.
***
Desculpas
meu sagrado amor...
Passei
de todos os limites...
Não te
aborrecerei mais...
Com o
desesperado pranto meu!
***
Peso-te
desculpas...
Amada
minha!
Vou me
exilar no silêncio absoluto.
Dos
poetas em êxtase.
E
recitar versos ignotos!
Para
ouvidos surdos.
***
Martirizar-me!
Em
meio da realidade liquefeita.
Evanescer
no contemporâneo...
Deserto
do real!
POESIA NA ÁRVORE
Por
Samuel da Costa (ALB-Anápolis, GO)
Eu
prefiro frases feitas...
Adoro
lê-las...
E
pensar que são minhas!
Dizer:
— Vou te amar para todo o sempre!
Usando
velhos clichés.
***
Finjo
ser poeta!
Às
vezes contista...
Nessas
horas uso velhos clichés.
Porque
dizer: — Eu te amo...
Não é
dizer bom dia!
***
Escuto
velhas músicas!
E
chego a pensar que a dor.
É
realmente minha.
Mas
não é!!!
É
alheia!
***
Penso
em ser prosador...
Para
voltar para a minha infância!
Onde
corro de novo.
Entre
becos e vielas...
De
braços bem abertos!
***
Mas
volta para o tempo...
Presente
mais que perfeito!
Onde
finjo ser poeta...
Na
pós-modernidade líquida!
A
ignorar regras, rimas e métricas...
A
desdenhar de antigas elegias!
Todas
as velhas fórmulas...
Prontas
e acabadas.
Velhas
formas de amar musas, virgens intocadas...
E
santas vaporosas...
***
Finjo
ser versejador...
Nos
tempos modernos!
E em
meus versos!
Sinto
que não fostes embora...
Estás
perdida entre os meus versos...
Mais
profanos...
Nos
meus versos...
Finjo
que não te perdi para sempre!
***
Às
vezes leio velhas poesias.
Mas só
às vezes!
E
penso que são meus...
Aqueles
idílios de saudade...
***
Nessa
hora eu gostaria...
De ser
um poeta de verdade.
Para
pensar que não a perdi!
Para
todo sempre...
***
Imortalizar-te-ia
minha musa sagrada
Em
meus versos mais profanos!
***
Às
vezes penso ser poeta!
Na
pós-modernidade liquefeita!
A usar
velhos clichés!
Para
poder ousar dizer:
— Te
amo, não é bom dia!
REGULARIDADE
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Habito a regularidade
dos vizinhos: levanto
em
encaminhadas manhãs.
Alimento o pássaro
encarcerado.
Alimento paixões
desenfreadas.
Aumento
o volume
do
rádio.
Almoço e janto. Tomo remédios
proscritos em visitas habituais.
VIVER
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Observo o contexto
desentranhado
sobre o construir
da casa desabo
em estruturas
no olhar da criança
creio
encontrar
o
gesto
ainda presente
observo o
estranho
mundo
vivenciado.
TUDO ALI ERA FALSO
Por
Samuel da Costa (ALB-Anápolis, GO)
O
pigarrear das gargantas...
As
conversas aparentemente normais!
Tudo
era falso...
***
Nada
era verdade!
As
cores, os sons...
Tudo
ali era manipulado.
***
As
Mentiras de última hora!
Verdades
fabricadas
Para
somente para agradar uns e outros.
***
Até as
conversas no pé-de-ouvido...
Nada
era de verdade!
Todos
ali mentiam: a idade, a situação financeira...
Pretensões
surreais...
Para afugentar os fracos...
Os
fracassados e os mentirosos!
***
Nada
ali era de verdade!
Maquinações
a luz de lampiões e lamparinas!
Como
se fossem adágios.
DARK VALKIRIAS
Por
Samuel da Costa (ALB-Anápolis, GO)
(Para
Titi Yitayish Ayanaw, Deise Nunes e Luana D'Oliveira)
Perdido!
Em um
universo de sombrio.
Diáfano
e nevoento!
Nessa
hora extrema de solidão e dor.
Ocorre
uma diáspora em mim.
***
São as
deidades...
Supremas!
Divinas!
Sãos
as negras Valquírias
Diante
de mim
Clamam
por mim
Sorriem
para mim
***
É o
inebriante olor das negras rosas...
De
Halfeti!
Que me
entorpecem!
Por
inteiro...
***
São as
negras ninfas dos bosques
Encantados!
Diante
de mim
Delicadas
Raras
Benquistas
Benditas
Diante
de mim
Sorriem
para mim
***
Estou
perdido...
Em um
universo de sonhos!
Nessa
hora suprema.
De
infinita dor e solidão...
Ocorre
uma diáspora
Em
mim...
***
Sou eu
que ascendo do chão
Subo
ao céu
Perco-me
no astro rei!
Viro
cinzas por fim
***
São as
sagradas negras Valquírias...
As
divinas deidades...
Diante
de mim!
Clamam
por mim!
Sorriem
para mim!
SAUDADE
Por
Humberto Pinho da Silva
(Vila
Nova de Gaia, Portugal)
Vivo de saudade, dos vivos e dos mortos. Dos vivos, que se
perderam no turbilhão da vida; dos mortos, que conheci…; e até das casas e
lugares que desapareceram, sinto saudade…
Saudade do menino que fui, do tempo de infância, quando
pela mimosa mão de minha mãe, ia à cidade.
Como gostava de passear pelas ruas do Porto! …As montras
iluminadas, os carros deslizando pela calçada, as pessoas, a confusão, a luz,
as cores vistosas dos vestidos … Tudo para mim, para meus olhos de criança, era
um encanto.
Certa ocasião, ao dobrar a rua das Flores – então conhecida
pelo ouro, – para os Loios, minha mãe escorregou. Quase caiu. Amparei-a.
Virando-se para mim, muito séria, disse: - “ Se não fosses
tu, tinha caído…” – Fiquei orgulhoso! …Teria seis anos. Não mais.
Saudade dos meses quentes de Verão, que passei na Vilariça,
na simpática “ Quinta do Bem “…
Dos animais, da vida agrícola, mormente do tanque de pedra,
de água corrente, toldado de densa parreira, convidando-me à preguiça; à
delícia da sonolência…nas cálidas tardes de Estio.
Saudade do Nero. Canzarrão meigo, amigo sincero, que sempre
permanecia junto de mim. De noite dormia estendido na soleira da porta, porque
não o deixavam entrar.
Saudade da velha e amiga cidade de Bragança, onde permaneci
quatro longos anos, que foram os melhores e os piores da minha existência.
Saudade, saudade que lasca o coração e se enraizou na
memória, sinto daquela que foi para mim, a melhor amiga:
Tinha nos olhos sorrisos e ingenuidade. Boca pequenina.
Lábios cor-de-rosa. Por eles saíam ternas palavras que faziam sonhar…
Por que boa fada não encantou, para sempre, num sonho
perpétuo, o quadro familiar?! … - Ela sorrindo, eu, enlevado na beleza, na
graciosidade de uma criança amorosa…
Saudade das tardes de sábado, quando visitava velhas senhoras.
Poder correr livremente ao redor do pessegueiro, sentido o perfume adocicado de
roseiras floridas, e a glicínia, de grandes e vistosos cachos roxos, espiando a
rua, debruçada em tosco muro de pedra.
Saudade de certo mês de Dezembro, que passei na Parede.
Época dolorosa, mas que despertou sentimentos que não conhecia…
Saudade do Manuel Maria, e dos amenos passeios por velhos
becos e vielas tripeiras…
Saudade de Roma. Do reconfortante silêncio do claustro,
vendo monges deslizarem pelos corredores, envoltos numa luz misteriosa e
silenciosa. - “ Aquele fraterno é um santo…como já não há!...” – Disse-me o meu
companheiro.
Saudade de Frei António, sempre prestável, sempre afável, a
mostrar-me belos rincões da Cidade Eterna.
Saudade da Pauliceia. Das pessoas que conheci, e das
figuras simpáticas que me apresentaram: - “ Você é português?! … Então é quase
brasileiro…” afirmou-me arquitecto de Porto Alegre.
Saudade de Itanhaém. Da casinha amorosa, que ficava
perdida, em verduras, na Praia dos Sonhos…
Ai, nesse bocadinho de terra abençoada, convivi com a que
se tornou companheira de jornada.
Saudade do velho prédio de alforge, que tinha quase
duzentos anos, onde nasci…e da humilde casinha de Sumaré…
Saudade dos mortos, que legaram o que sou e o que sei.
Tudo e todos vivem dentro de mim…. Neste corpo envelhecido,
que sofre dia e noite…
Todos me deixaram um pouco. Devo-lhes o que fui e o que
sou.
A todos agradeço. Todos se encontram entranhados neste
cansado coração…