Por Leandro Bertoldo Silva (Padre Paraíso, MG)
Aquilo
que chamam “morrer” não é senão
acabar de viver e o que chamam “nascer” é começar
a morrer. E aquilo que chamam “viver” é morrer
vivendo. Não esperamos pela morte: vivemos com
ela perpetuamente.
–
Jean Baudrillard –
Ele havia lido em um livro de
Mia Couto um diálogo que o impressionou bastante:
— Pai, a mãe morreu?
— Quatrocentas vezes.
— E ela está enterrada onde?
— Ora, em toda parte. *
Ficou imaginando como isso seria possível. Quatrocentas partes de sua mãe em
quatrocentos lugares diferentes… Isso, além de impossível, era grotesco! Logo
desviou seu pensamento para algo que lhe pareceu mais apropriado: se a lei do
reencontro estivesse certa, estaria explicada a questão… Mas não acreditava
nisso! Sua igreja não permitia, e era isso, para ele, muito mais cômodo, pois
evitava mirar os espelhos de sua alma… Porém, nada disso teria importância se
uma profunda sensação de se sentir incompleto não persistisse em sua vida, como
se os mesmos espelhos, estando a quebrar, lançassem seus cacos a refletir
tempos escusos, o que lhe trouxe ainda mais angústia, pois, a partir daquele
momento, pôs-se a procurar por ele mesmo…
* Antes de nascer o mundo – Mia Couto.
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