domingo, 1 de dezembro de 2024

OPERA MUNDI: QUANDO A ESCURIDÃO TE ABRAÇAR POR COMPLETO

Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

‘’Nem sempre, somos personagens de um teatro surreal,

 Pois a vida é tão fugaz que passa tão depressa.

Cuidemos das nossas almas!’’

Fabiane Braga Lima

 

Omar abriu os olhos e só viu a escuridão, tentou mexer os braços e descobriu que estavam amarrados nas costas. Feito prisioneiro, logo pensou ele, ao ouvir voz que murmuravam, Omar tentou gritar e não conseguiu, pois estava com a boca amordaçada. Omar tentou correr e uma mão áspera o segurou pelo ombro

— Andale... Andale cabrones? — Bradou em espanhol uma voz.

Omar tentou decifrar o sotaque e a obviedade pelo terno calculou que não era o polido espanhol europeu e sim rústico castelhano caribenho. E uma mão o empurrou para frente. E para Omar, o pior dos pesadelos era o sutil apagamento das próprias memórias, Omar estava se esquecendo de quem era, algo ou alguém estava apagando a existência de Omar. E substituindo por memórias aterradoras, fleches surgiam na mente de Omar, dois homens negro maltrapilhos estavam no chão, enquanto quatro homens chutavam os maltrapilhos. Os quatro homens musculosos e tatuados, camisas brancas, usavam coturnos e usavam suspensórios, que gritavam em alemão bávaro. Xingaram os dois homens negros de impropérios e Omar se viu, jovem, bem-vestido, à moda europeia, usando óculos escuros. Omar, se viu aos gritos, comandado o massacre, até uma luz branca envolver ele e os companheiros de agressão, tudo se apagou e acordou no estado que estava.  

Abrupta uma mão tirou o capuz que envolvia a cabeça de Omar, então um esquadrão de fuzilamento, vestido como paramilitares russos, cossacos russos usando uniformes de inverno. Omar olhou nos olhos dos paramilitares e notou as feições latinas caribenhas, eram seis, usando armamento do início do século XX. Olhos ferozes e famintos e atrás dos paramilitares, uma pequena audiência, eram homens e mulheres vestidos a rigor, também a moda do início do século XX. Uma pequena elite local, calculou Omar, que olhou para os lados e percebeu que estava ladeado dos companheiros do massacre contra os homens maltrapilhos e percebeu que estavam em um pequeno palco.

Aterrorizado Omar olhou para frente e se destacou um pequeno grupo ao fundo do salão. Era uma jovem mulher de ares monárquicos em trajes de gala espanhol, uma outra jovem mulher negra com ares de nobreza elegantemente vestida à moda afro-caribenha, um militar de alta patente da marinha soviética com um traje de gala, os olhos verdes e as feições latinas impressionaram Omar. E por um homem de meia idade, elegantemente vestido, que emanava poder, ou era um político influente ou era um alto funcionário público. Todos olhavam com desprezo para Omar e seus pares.

— Escuadrón en formación! — Bradou o capitão para a tropa, que bateu os cascos e o capitão continuou — Prepárate! — A tropa destravou os fuzis!  — Apuntar! A tropa que estava no chão e em frente ao palco! — Fuego! — Gritou o capitão e um marrom se ergueu e um estrondo de um trovão foi ouvido. Omar foi jogado para trás e ouviu os aplausos e vivas vindo da plateia, o cheiro de pólvora e de carne queimada, foram as últimas sensações vívidas, que Omar experimentou naquela hora derradeira.   

Sobre os autores:

Texto de Clarisse Cristal, poetisa, contista, novelista e bibliotecária de Balneário Camboriú, Santa Catarina.

Argumento de Samuel da Costa, poetisa, contista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.

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