quarta-feira, 6 de abril de 2011

A MINHOQUINHA TRISTE (conto infantil)

Por Maria Moraes Miranda

Era uma vez uma minhoquinha muito triste que vivia sozinha em um terreno baldio. A única coisa boa que existia nesse lugar era uma árvore grande e verde, abrigo predileto dos passarinhos que vivem sempre alegres, cantando e festejando a Natureza.

Mas, a festança das avezinhas não alegrava a minhoquinha nem um pouco. Ela ficava mais triste ainda por não ser igual aos passarinhos, que podem voar alto e para bem longe; sabem cantar e se divertem brincando nos parques, bosques e prados.

Pobre minhoquinha! Às vezes, ela ficava tão triste que até queria morrer.

Em um lindo dia de sol brilhante, ouviu-se um barulho de pancadas no chão, por ali onde estava a pobrezinha. Ao som das pancadas, a terra tremia em volta dela. A minhoquinha ficou apavorada e teve tanto medo! Se fosse uma criança parecida com algumas crianças que eu conheço, teria aprontado uma gritaria mais ou menos nesses termos: "Meu Deus, a terra está tremendo! O que está acontecendo? Será que o mundo está acabando? Estou com medo, tenho medo de morrer! Eu não quero morrer! Socorro, Papai do Céu, socorro!"

E as pancadas continuavam abalando cada vez mais. Sabem o que estava acontecendo?

Era um rapaz forte e corado que estava cavando o chão. E cavou, cavou, até que se desprendeu do solo um pedação de terra que se espatifou todo. Foi terra pra lá e pra cá, e• nessa confusão surgiu a minhoquinha se contorcendo desesperada, querendo fugir. O moço cavador falou contente:

- Oba! Achei uma minhoca! É mais uma operária que vai trabalhar na minha empresa. - Esse rapaz era um entusiasmado criador de minhocas.

(As minhocas desempenham uma atividade muito especial na formação do húmus, adubo orgânico que, misturado à terra, torna-a fofinha e fértil. Elas ingerem terra porque se alimentam de matéria orgânica. Seu tubo digestivo funciona como um laboratório bioquímico. Dejetam húmus elaborado com perfeição - rico em alimento para as plantas).

O jovem da nossa estória comercializava esse adubo natural. Juntando o útil ao agradável, ganhava honestamente o seu dinheiro. Esse fato explicava o seu empenho numa criação esquisita e sua alegria quando aumentava o número de suas auxiliares.

Impedindo a fuga da minhoquinha, ele pegou uma porção de terra, envolvendo-a com todo cuidado para não machucá-la, pondo-a em um balde que fazia parte dos seus apetrechos de serviço. Logo após, soltou-a no meio de uma quantidade enorme de minhocas.

Quando a minhoquinha se achou entre aquele número incontável de companheiras, recuperou as forças. Sentindo VIDA NOVA, começou a se mexer e a se virar e revirar junto com as outras.

Chegou então um primo do rapaz. Esse não criava minhocas, mas tinha um emprego na cidade e gostava muito de ler bons livros. Chegou e logo foi fazendo suas considerações:

- As minhocas continuam trabalhando para você, hein, seu folgado! Caramba, como você é esperto!

- Não sou esperto nem folgado! - Foi a resposta com voz altiva. Sou um ecologista preocupado com o meio ambiente, com a saúde da terra e com o nosso bem-estar. Não é só para mim que essas minhocas trabalham. Fique sabendo que elas estão trabalhando para o bem da Natureza.

Um tanto embaraçado, o moço afirmou:

- Tudo bem, tudo bem, já entendi! Eu não sou burro! Depois continuou:

- Primo, eu sei que sou inteligente como você, mas gosto muito de pensar. Às vezes, fico pensando durante horas e horas ... Agora me ocorreu um pensamento que parece ter lógica. Estou até comovido! Essas minhocas, insignificantes e desprezíveis aos olhos de muita gente, que valioso serviço prestam à humanidade! Enquanto se mexem e se reviram, estão cooperando com o homem no preparo da terra, ajudando as plantas a crescerem bonitas. Plantas que produzem legumes, verduras e frutos, que fazem bem à saúde, que produzem flores variadas, belas e multicores, que alegram os nossos olhos e a nossa vida ...

Se essas minúsculas trabalhadoras da terra exercem uma função específica, auxiliando a Natureza, elas estão servindo ao Criador, o Grande Autor das Leis da Criação.

Nosso planeta está enfermo. A Natureza sofre e se desequilibra porque os homens desrespeitam suas leis, agredindo o meio ambiente.

Não sei se você pode me entender, mas não consigo separar a Natureza do Reino de Deus. Lembro-me de ter lido numa página do Novo Testamento, a seguinte afirmação de Jesus: "O Reino de Deus está dentro de vós!" Existe tanta coisa boa e formidável neste mundo que muitos sabichões ignoram. E eu me comovo pensando no quanto é grandioso o Reino de Deus! Mas, para dar certo, depende também de coisas pequeninas, como por exemplo, uma simples minhoquinha.

Se cada componente do Reino de Deus, por menorzinho que seja, estiver no seu devido lugar, cumprindo sua verdadeira função, TUDO DARÁ CERTO! .

O jovem apaixonado pelo seu empreendimento, que ouvia, boquiaberto, todas aquelas reflexões, exclamou:

- Você está certo, certíssimo! Puxa, primo, você é filósofo, um grande pensador! É isso aí, primo! E eu acho que se as minhocas tivessem entendimento como os seres humanos, teriam um belo motivo para viverem sempre alegres e felizes.

Pois é, amigos da Sabedoria e da Verdade, esses primos eram mesmo muito sabidos. Porém eles nunca ficaram sabendo de um segredo que só eu sei e vou contá-lo agora para quem quiser saber. Foi fazendo o seu importante serviço no maravilhoso Reino da Natureza que a minhoquinha ficou alegre. Minhoquinha triste, já era!


Sobre a autora:

Maria Moraes Miranda é natural de Araçoiaba da Serra, SP,(16.maio.1921) escritora, poetisa, foi regente do Coral da Primeira Igreja Presbiteriana de Taguatinga e está radicada em Brasília, DF, há 46 anos. Faleceu em Brasília, DF, em 27.maio.2010.


(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 07, em 2008)

Nenhum comentário:

Postar um comentário