domingo, 5 de junho de 2011

ESCRITORES: PERIGOSOS E MALDITOS

Por Paccelli José Maracci Zähler

Para Marshall Mcluhan, teórico canadense da literatura e da comunicação (1911-1980), a arte, assim como o radar, atua como se fosse um verdadeiro sistema de alarme premonitório, capacitando-nos a descobrir e a enfrentar objetivos sociais e psíquicos com grande antecedência.
A arte literária enquadra-se perfeitamente neste conceito de Mcluhan, pois escrever é uma forma de provocar sentimentos, de criar, de descrever o mundo, de fazer as pessoas pensarem sobre o que está expresso através da palavra escrita.
Dessa maneira, a escrita passa a ser um fenômeno artístico e o texto uma obra de arte. Entre os dois, está a figura do escritor.
O escritor pode ser entendido como o artista que cria e se expressa através da palavra escrita.
Segundo Ezra Pound, poeta e crítico literário norte-americano (1885-1972), os bons escritores são aqueles que mantêm a linguagem eficiente, precisa e clara. No seu entender, os escritores podiam ser classificados em :

1. Inventores: aqueles que descobriram um novo processo ou cuja obra nos dá o primeiro exemplo conhecido de um processo;
2. Mestres: aqueles que combinaram um certo número de tais processos e que os usaram tão bem ou melhor que os inventores;
3. Diluidores: são os que vieram depois das duas primeiras espécies de escritor e não foram capazes de realizar tão bem o trabalho;
4. Bons escritores sem qualidades salientes: são os que nasceram em uma época em que a literatura de seu país está em boa ordem e seguem o bom estilo do período;
5. Beletristas: são os que não inventaram nada, mas que se especializaram em uma parte particular da arte de escrever; e
6. Lançadores de moda: aqueles cuja obra se mantém por algum tempo (décadas ou séculos) sendo, posteriormente, deixadas de lado.

Seja qual for a classificação, os escritores influenciam a sociedade por
serem formadores de opinião. Isso os torna vulneráveis à ação de governos ditatoriais, grupos conservadores, xenófobos, terroristas e religiosos fundamentalistas.
O caso mais conhecido provavelmente seja o de Salman Rushdie, escritor inglês de origem indiana, cujo livro “Versos Satânicos” foi considerado ofensivo ao Islamismo, resultando em sua condenação à morte, em 1989, pelos líderes religiosos do Irã.
Há também outros casos, como o do albanês Bashkim Shehu, que redigiu um manifesto com outros intelectuais denunciando fraudes nas eleições parlamentares de seu país em maio de 1996 e, como conseqüência, foi obrigado a emigrar para a Espanha; o do poeta vietnamita Nguyen Chi Thien, condenado à prisão por escrever poemas que denunciavam a miséria do povo; o do escritor Wole Soyinka, ganhador do Prêmio Nobel de 1986, acusado de traição em 1997 por criticar a ditadura militar da Nigéria; sem falar no poeta cubano Ricardo Alberto Perez que, desde 1995, quando publicou uma carta aberta contra a censura em Havana, foi impedido de publicar, participar de eventos ou trabalhar em qualquer entidade.
Tais fatos corroboram a afirmação feita por Ezra Pound (1990) de que "os partidários de idéias particulares podem dar mais valor a escritores que concordem com eles do que a escritores que não concordem; podem dar - e usualmente dão - mais valor a maus escritores do seu partido ou religião do que aos bons escritores de outro partido ou igreja".
O escritor não deve submeter-se, nem ser subserviente à ideologia dos opressores ou de quem quer que seja. Ele deve ser livre para se expressar através da sua arte, a qual é um instrumento para promover a reflexão da sociedade e permitir que ela encontre seu próprio caminho.
Como dizia Ezra Pound, "se a literatura de uma nação entra em declínio, a nação se atrofia e decai".

Bibliografia

1. Mcluhan, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem.
São Paulo: Cultrix, 1969.
2. Pound, Ezra. ABC da literatura. São Paulo: Cultrix, 1990.
3. Graieb, C. Fugindo do perigo. Revista VEJA, 32:136-137.1998.



(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 09/2008)

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