Por Humberto Pinho da
Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)
Que grande parte do
mérito de cada um depende dos amigos que tem, e da cor política que defende,
todos nós sabemos.
Assim como sabemos que
prémios e concursos, sejam literários ou científicos, mesmo quando são
atribuídos com justiça, escondem, quase sempre, interesses e amizades.
Acabo de ler a “Carta
do Canadá”, que a jornalista Fernanda Leitão, envia periodicamente desse país,
onde vive. A determinado passo, a conhecida jornalista, assevera: “ Jorge Amado
devia ter sido o primeiro Prémio Nobel da língua portuguesa, e não foi. Ele
mesmo disse o porquê numa entrevista na tarde da vida: “ Eu nunca neguei ter
recebido da União Soviética a Ordem de Estaline e outras distinções, não
escondo nada, mas abandonei o comunismo, por isso eu acho que o Nobel vai para
o Saramago.” - “ O Inesquecível baiano” - “ A Ordem” 27/Set./2012.
Não se enganou o grande
mestre da literatura portuguesa, de facto Saramago viria a receber o maior
prémio de literatura do mundo.
Ao ler isto recordei a
conversa que meu pai teve na livraria Guimarães, em Lisboa, com certo escritor,
seu amigo:
Lamentava-se o prosador
da dificuldade que há em editar uma obra. E a propósito contou que certa
ocasião foi apresentado a célebre escritor, para que avaliasse o mérito de
manuscrito.
Decorrido semanas de
ansiedade, apareceu a desejada carta. Aberta com sofreguidão, e lida de jacto,
ficou dececionado:
Após palavras elogiosas
ao estilo e desenrolar do romance, a missiva declarava que teria muito gosto de
o apresentar ao editor, mas que o livreiro só editava se fosse militante de
determinado partido.
Meu pai, que era
jornalista, viu muitas crónicas rejeitadas pelos diretores de empresas, apenas
porque era conectado como homem da direita, ainda que fosse mais de esquerda, que muitos que se dizem esquerdistas
Houve até chefe da
redação, de diário lisboeta, que lhe disse que gostaria muito de publicar seus
artigos, que taxava de brilhantes, mas para isso teria que deixar de publicar a
coluna no periódico “X”.
Essa recusa não foi por
motivo de ética, porque o jornal em questão, era editado a centenas de
quilómetros de distância.
Assim se mede o mérito
em Portugal, e infelizmente não é só neste país. Dá-se mais valor à filiação
política, ao cargo que ocupa, e até à crença que professa, que ao mérito.
Mas isso não são
modernices. Sempre assim foi e por certo assim será.
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