sábado, 2 de novembro de 2013

D. DUARTE E A BÍBLIA

Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)

Não há, no mundo Ocidental, família que não possua, pelo menos, um exemplar da Bíblia, mesmo as que se declaram agnósticas.
A divulgação do Livro, mormente o Novo Testamento, foi de tal forma feita, que praticamente não existe quem não conheça passagens do Evangelho.
Bem sei, que a maioria das Bíblias, encontram-se guardadas nas estantes, já que a leitura Desta, ainda é rara entre católicos, apesar das recomendações constantes da Igreja, para que seja diária.
Mas, na Idade Média, não foi assim. A Bíblia era para uso exclusivo de mosteiros e palácios. Os crentes tinham conhecimento Dela, pelos sermões e homilias.
A descoberta da imprensa, facilitou a difusão.
Mesmo assim, parte da literatura medieval sofreu influência do Livro.
Na “ Arte de Bem Cavalgar Toda a Sela”, D. Duarte cita passagens do Evangelho, assim como no “Leal Conselheiro”.
Não admira, já que o rei possuía, na biblioteca, excertos do “Evangelho “, e seu pai, El-Rei D. João, chegou a traduzir “ Salmos” para a linguagem de então.
D. Duarte era, para a época, rei de elevada cultura. Fundou a primeira biblioteca real, no paço, e escreveu várias e curiosos livros. No seu reinado foi nomeado Cronista -Mor, Fernão Lopes.
Sabe-se que nessa livraria havia vários livros da Bíblia, entre eles:” Actos Apóstolos “, o “Livro dos Salmos” e “ Géneses”, todos em latim.
Há dúvidas se existia, no paço, exemplar da Bíblia completa; é de crer que não, mas que D. Duarte conhecia excertos, não há duvida, pois chega a citá-los no “ O Leal Conselheiro”.
Recomendava D. Duarte que não se devia ler muito de uma acentada, para se poder compreender e meditar melhor, e não enfartar a mente.
Recomendava a leitura do Evangelho, e esclarecia que há passagens obscuras, que nem os entendidos podem explicar, sem receio de errarem; mas, diz o rei, que se não percebermos, um versículo, passemos a outro.
Assevera D. Duarte que sempre aprendemos com a leitura do Evangelho, e se O conhecermos bem, podemos esclarecer os que não podem ou não tiveram oportunidade de O lerem.
Devido à Bíblia, a língua portuguesa está impregnada de hebraísmos e expressões desse povo.
Na opinião do rei, a leitura do Evangelho não é perda de tempo, muito pelo contrário.
Infelizmente, apesar de estarmos a séculos da Idade Média, ainda há muitos crentes que adquirem a Bíblia para engalanarem a estante.
Certa ocasião fui visitar senhora de elevada cultura. Sabendo que era católico, quis deslumbrar-me, mostrando uma Bíblia ilustrada de Doré, ricamente encadernada a couro e de vistosas folhas doiradas.
Ao entregar-ma, declarou eufórica: - “ Agora meu marido já tem uma Bíblia à sua Altura!”
Essa mulher apreciava os livros, como muitos avaliam os homens: pelas vestes e aspecto exterior.
Pensava a boa senhora, que o marido ficava mais ilustre por possuir luxuosa Bíblia.

Esses livros, de elevado custo, em regra, não são para serem lidos, apenas servem para deslumbrar as visitas.

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