Paccelli José Maracci Zahler
"E conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará"
João, 8:32
"Só aquele que possui uma fé profunda pode se dar ao luxo do ceticismo"
Friedrich Nietzche
Há cerca de 2.000 anos, estuda-se e discute-se a vida de Jesus Cristo. Apesar da quantidade de livros e artigos escritos a repeito estar próximo dos 100.000, nada se sabe sobre a vida do nazareno no período compreendido entre os 12 e os 30 anos de idade.
Por serem os evangelhos um testemunho de fé ensinado a todas as crianças de forma dogmática, somando-se a isto o medo da morte e do castigo divino, fica muito difícil, depois de adultas, vencer o paradigma de que os fatos lá relatados podem não ter acontecido da forma como foram descritos.
Hoje, a ciência e a tecnologia estão mais evoluídas e têm permitido um estudo mais aprofundado dos fatos históricos, particularmente daqueles citados na Bíblia. Assim, as pesquisas recentes têm concluído que os reis magos, o presépio e a estrela de Belém são invenções dos evangelistas para identificar o nascimento de Jesus com a vinda do Messias, anunciado no Velho Testamento; e que Jesus nasceu no ano 7 a.C. em Nazaré, na Galiléia ( e não em Belém, na Judéia), não se sabendo ao certo em qual mês pois o dia 25 de dezembro foi estabelecido pela Igreja no ano 525 d.C. para coincidir com as festas pagãs do Oriente e de Roma.
O presente artigo tem por objetivo trazer à luz algumas pesquisas que têm indicado a passagem de Jesus pela Índia, indo de encontro com o pouco que se sabe até agora.
O PROFETA ISSA
Tudo começou em 1887, quando o historiador russo Nicolai Notovitch visitou um mosteiro budista na Caxemira, norte da Índia. Buscando informações sobre a região, ouviu que o "Filho de Deus" dos cristãos era venerado por lá como um grande profeta de nome Issa e que havia manuscritos a respeito nos grandes mosteiros da Índia e do Nepal.
Interessado no assunto, Notovich foi até Leh, capital de Ladakh e de lá até o mosteiro de Hemis, onde teve acesso aos documentos, encontrando incríveis semelhanças entre a vida do profeta Issa e a vida de Jesus Cristo.
Segundo os manuscritos, o profeta Issa nasceu em Israel e foi levado para a região de Sindh (Indo) na puberdade, em companhia de mercadores, fixando-se entre os arianos. De lá, foi para Jagannath onde, através de sacerdotes brâmanes, aprendeu a ler e a interpretar os Vedas (livros sagrados indus), porém, desagradou-os ao dedicar-se a instruir as castas inferiores dos sudras.
Durante seis anos, o profeta Issa viveu entre Puri, Rajgir e Varanasi, partindo para o Nepal onde se dedicou ao estudo das escrituras budistas, difundindo-as para os fracos e oprimidos, o que também acabou desagradando a classe sacerdotal. Passou pela Pérsia e retornou à Palestina.
Quando perguntado sobre seu país de origem, respondeu: "Sou israelita (...). Ainda criança, deixei o lar paterno para viver entre outros povos mas, ao ter notícia do sofrimento de minha gente, retornei à casa de meus pais para reconduzí-la à fé de nossos ancestrais".
Nicolai Notovich, ao retornar à Europa, procurou os altos dignitários da Igreja para comunicar-lhes a descoberta. Como não tinha meios para prová-la cientificamente, não foi levado a sério, entretanto, apresentou-a no livro "A vida desconhecida de Jesus Cristo".
NOVOS INDÍCIOS
Em 1908, foi publicado nos Estados Unidos da América o livro "O evangelho aquariano de Jesus Cristo", de autoria do médico, pastor e pesquisador Levi H. Dowling. Este, depois de 40 anos de pesquisa, relata que o príncipe indiano Ravana de Orissa encontrou e ouviu Jesus aos 12 anos de idade no templo e levou-o para a Índia para que pudesse aprofundar seus estudos na escola do templo de Jagannath, aprendendo as leis de Manu e os Vedas. Lá, Jesus surpreende seus mestres com sua inteligência e atrai a ira dos brâmanes pela sua postura crítica.
No livro, há referências da viagem de Jesus pelo Himalaia até chegar ao Tibete, onde estuda os manuscritos dos mestres do templo de Lhasa, retornando posteriormente à região do Sindh e ao Oriente Próximo.
Mais tarde, em 1973, o semanário alemão Der Stern nº 16 publicou uma reportagem ilustrada com fotografias, onde um professor afirmava ter descoberto o túmulo de Jesus Cristo em Srinagar, capitar da Caxemira. Segundo ele, Jesus teria passado a sua juventude na Índia e, mais tarde, após sobreviver à crucificação, voltara àquele país para viver como guru até a sua morte em idade avançada.
Tomando por base estes indícios, o teólogo alemão Holger Kersten foi para a Índia em 1979 com o objetivo de estudar os manuscritos encontrados por Nicolai Notovich e localizar o túmulo do profeta Issa. Percorreu ainda o Afeganistão, o Oriente Médio e Israel. Sua pesquisa foi comparada com a análise do Santo Sudário, resultando no livro "Jesus viveu na Índia", publicado na Alemanha em 1983.
Segundo Kersten, no período em que estudou na Índia, Jesus atingiu o mais alto grau de ascetismo, o que lhe possibilitou a realização de milagres e a levitação. Devido ao controle total que possuía sobre sua mente e seu corpo, foi capaz de sobreviver ao suplício da crucificação e ir para a Índia.
Uma coisa que chamou a atenção de Kersten foi o molde em relevo das pegadas do profeta Issa encontrado no túmulo localizado no centro da cidade antiga de Srinagar. Nelas, foram esculpidas as marcas da crucificação!
Se tudo não passa de mera coincidência somente o tempo dirá. Os conhecimentos evoluem diariamente e aquilo que até pouco tempo se tomava como verdadeiro, hoje já está superado. Com a história de Jesus Cristo não vai ser diferente e dentro de alguns anos o mistério de sua vida estará esclarecido.
(Publicado na Revista BRASÍLIA nº 71, julho/ago 1996, p. 8-9)
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