Por Arjun Singh Bhati (Jaisalmer , India )
Esta é a história de minha tia, que ficou viúva depois de 18
anos de casamento. E até a mais triste história do porquê, na Índia, as viúvas
são deixadas no ostracismo pela sociedade a que pertencem e que acredita que
elas trazem má sorte.
“Você é filho do Sr. Laxman Singh?”, o doutor me perguntou.
“Não, ele não tem filhos, eu sou o sobrinho de sua esposa”, respondi. “Então
chame alguém que tenha uma relação mais próxima com ele” disse o médico. Eu disse
a ele que todos os parentes dele viviam em
Jaisalmer, mas minha tia estava aqui [em Jodhpur] caso ele quisesse
falar com ela. O médico pensou por um momento e disse: “Lamento dizer que os rins do Sr. Laxman
Singh estão gravemente comprometidos e seria melhor que você o levasse para
casa porque não há mais chance.”
Fiquei chocado mas, com grande coragem, perguntei ao médico
novamente o que ele queria dizer com “não há mais chance”. Ele disse que o Sr.
Singh estava em seu último período de vida e que talvez tivesse mais uns quatro
ou cinco dias de vida.
Eu saí do consultório muito triste e preocupado. Fui à
enfermaria geral onde minha tia estava sentada ao lado da cama do meu tio. Ela
não tinha dormido por pelo menos duas noites e estava muito cansada. Ela me
perguntou o que o doutor havia me dito. Eu não tinha palavras, então disse que
tudo estava indo bem.
Quando saí do hospital, liguei para o meu pai e disse a ele o
que o doutor havia me dito. Ele ficou em silêncio por uns instantes, então
disse: “Filho, tome conta deles até eu chegar em Jodhpur.”
Meu pai chegou na manhã seguinte e se encontrou com o médico,
o qual disse a ele que não havia mais nada a ser feito.Mas dissemos para a
minha tia que o seu marido estava indo
relativamente bem e que estávamos voltando para Jaisalmer. As lágrimas rolaram
no seu rosto e ela entendeu que isto significava que ela iria perder seu amado
em breve.
Eu ainda me sinto culpado por ter deixado minha tia lá,
sozinha, com meu tio doente. Apesar das várias tentativas, eles não conseguiram
ter os próprios filhos. e tinham tratado minha irmã e eu como se fôssemos
seus filhos.
Uma semana depois, nós recebemos a notícia da morte do meu
tio. Eu encontrei minha tia poucos dias depois, ela me abraçou e chorou
amargurada. Nos seis meses
seguintes, ela permaneceu em sua casa. Quando ela saiu, vestida de
preto, como determinam os costumes da nossa sociedade, ela veio nos visitar.
Qual é a condição das viúvas em nossa sociedade? As viúvas
levam uma vida muito miserável aqui na Índia. A ela não é permitido casar
novamente. A ela não é permitido usar roupas coloridas ou joias. A ela não é
permitido assistir a casamentos ou festivais. A ela não é permitido participar
de certas cerimônias como amarrar o fio durante o “Raksha Bandhan”. A ela não é permitido, nem mesmo, ouvir música.She is not even allowed
to listen to music. Se ela atravessa o caminho de alguém, isso é um mau
presságio.
Por quê? A
resposta do nosso sistema social é que ela deve ser punida. Se a pessoa não
tivesse casado com essa senhora, ela não teria morrido. A má sorte da viúva vem
dos seus pais, e um pai do seus filhos. Como a agulha de uma bússola que aponta
o Norte, o dedo acusador do homem sempre encontra uma mulher culpada nesta
sociedade dominada por homens.
Minha tia sofreu a vida de uma viúva por um ano. Minha
família e eu ficamos muito tristes por ela. Então todos nós tomamos uma decisão
desafiadora. Nós a convencemos a encontrar trabalho em algum lugar. Finalmente,
após muitas objeções sociais, ela foi trabalhar em uma escola como assistente. Ela
está muito ocupada com as crianças e foi obrigada a usar roupas coloridas pela
administração da escola. Ela passa seu tempo muito bem com os estudantes e com
a equipe [da escola]. Ela está
feliz agora.
Foi difícil para a nossa família ir contra as tradições da
nossa sociedade. E eu penso que fomos
hábeis em tomar aquela decisão porque tivemos a sorte de receber uma boa educação.
Sinceramente, uma boa educação pode promover mudanças: ela pode mudar as coisas
para melhor.
(Traduzido para o português por Paccelli José Maracci Zahler)
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