A
ORIGEM DO CHIBO (Adaptado)
(De
Vagner Garcia “Seu Negro”)
Por Severino Moreira (Bagé, RS)
O "Tio Negro", como é chamado pela “parentalha inteira” é um
índio por demais conhecido nos arredores de Bagé, onde tem uma
"chacrita", ali perto do cemitério dos Azevedos, e vive, até hoje,
puchando teto de umas vaquinhas e vendendo leite na cidade.
Pois, ora vejam “que certa feita” eu estava mateando com esse vivente, à
sombra de um guabijuzeiro, ao lado da vivenda da chácara, quando começou a me
assuntar dos sacrifícios que na vida já havia passado.
Segundo o próprio há algum tempo fora dono de um pedaço de campo, de
tamanho bem regular, ali no Passo do Tigre, que na verdade é um dos galhos do
rio Jaguarão e nesse campinho criava uma média de cinqüenta a sessenta cabeças
de gado.
Acontece que o campo era praticamente improdutivo, pois as enchentes, de
quando em vez, levavam uma safra inteira água abaixo, e na região ainda havia
muita paca, cutia, capincho lebre e veados tudo bichos "flor de
roceiro" que chegavam a andar aos bandos lambendo tudo o que o vivente
plantasse, e se não bastasse o campo era virado em pajonal que fazia com que o
gado vivesse bordado de carrapatos, e para piorar a sorte tinha cada sumidouro
que, de quando em vez, achava alguma vaca só com as aspas para fora dos
atoleiros.
Resolveu, então, vender o gado e povoar o campo com umas borregas
bueníssimas, todas na casa de um ano, no máximo ano e meio. Rebanho de encher
os olhos, e como ovelha não é pra mato, e tampouco anda em banhados, estavam
livres dos carrapatos e dos atoleiros.
Dividiu o rebanho em vários potreiros, cada lote de quinze ou vinte com
um dos carneiro contrabandeado do Uruguai, bichos de raça apurada que,
certamente, se traduziriam em uma bela safra de cordeiros para esquilar no ano
seguinte.
Bueno, passou um ano e a safra de cordeiro não foi além de meia dúzia, e
no ano seguinte a coisa não melhorou muito.
Imaginou ter feito um mau negócio em contrabandear os carneiros. Tinham
boa raça, mas provavelmente fossem animais de baixa fertilidade por alguma
razão desconhecida, e por isso trocou a carneirada por borregos de procedência
conhecida, só que a produção foi ainda menor.
Desiludido capou os carneiros e
começou a carnear as ovelhas, em uma média de duas ou três por semana e foi
vendendo a carne na cidade, mas à medida que o rebanho foi diminuindo começaram
a aparecer ovelhas prenhas, e para não pecar por exagero, digo que das ultimas
trinta, não falhou nenhuma.
Era estranho, mas imaginou ter deixado algum carneiro mal capado, pois na
vizinhança ninguém criava ovelha. Assim mais por curiosidade do que por
ambição, nos cordeiros, o resto das ovelhas se livraram da faca.
Lhes conto, e acredite se quiser, nasceu uma bela cordeirada mas não
tinham lã, e sim uma certa pelagem, algumas baias, outras brancas e lhes digo o
pelo chegava a luzir quando no Sol.
Só, então, se descobriu que as ovelhas entravam no cio, mas não
emprenhavam porque os carneiros e os veados ficavam peleando pelo domínio do
rebanho, mas uma vez castrados, os carneiros perderam o interesse pelas ovelhas
e os veados assumiram definitivamente o domínio.
O problema é que nunca se viu uma cordeirada mais arisca e roceira, não
tinha cerca que segurasse, nem lavoura que durasse e como gostavam de um
lajeado aqueles bichos.
Hoje, já acostumado com a idéia, e aproveitando todo o tempo que teve
para pensar no assunto, chegou a conclusão que...
“Dessa cruza vem a origem do cabrito”.
É como diz o Tio Negro, “morro de
véio e não aprendo tudo o que o mundo tem p´ra ensinar”.
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