Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Dizem
os entendidos, nas ciências sociais e políticas, nas suas muitas ramificações,
que o estado nasceu com o fim nomadismo e o início de sedentarismo, de parte de
algumas tribos. Em suma, alguns seres humanos, deixaram de andar de lado para o
outro e resolveram se assentar em lugares, com abundância de águas e viveres. E
assim nasceu a necessidade de organizar a sociedade, que se urbanizou, assim
nasceu o Estado centralizado, na figura de ser absoluto, assim nasceu os
códigos de leis, aparatos repressivos e outras estripulias burocráticas.
Pois
bem, o espaço é pequeno e também não sou lá o suprassumo em entendimentos de
geopolíticas e geoeconomia e seus derivados e somente dizer que o tal estado
centralizado, em figuras agraciadas com poderes divinos. Com os lentos andares
das carruagens civilizatórias, os poderosos e poderosas Querubins e Querubinas,
agraciados por divindades astrais, sedem os seus poderes a figuras menores. E
volto a dizer que, a ideia, não é se debruçar sobre um tema tão complexo e
vasto, que ocorreu e que ainda ocorre na humanidade.
E
indo ao que interessa, lá estava eu, o guardinha ali da esquina, na minha
atribuição de agente efetivo do aparato repressivo do estado. Eu devidamente
uniformizado, com todos os poderes atomistas, que sábios e sábias querubins e
querubinas, a sim me consideram. Estava eu, no meio do segundo decênio do
século XXl, em um aparelho estatal colegiado, que dividia o espaço, com um
aparato estatal de saúde. O espaço em si, localizado em uma zona industrial e
comercial, à beira de uma movimentada rodovia federal.
E
lá estava eu, no subsolo do aparato e uma querubina enfermeira, que também era
presidenta do sindicato dos servidores públicos local e a querubina-mor assim
me confidenciou. Que ela estava no centro da cidade, em um dia de folga, quando
presenciou, uma pequena turba de curiosos que olhavam para o chão, era um
acidente de trânsito, um motociclista, estava no chão. Então a querubina-mor,
não pensou duas vezes, parou o carro de qualquer jeito e foi socorrer o
acidentado, imobilizando a coluna serviçal do paciente. E para os muitos
ridículos da vida e de outras vidas, uma vez agachada, um popular, avisou a
querubina-mor. Avisou que um guarda de trânsito, o tal metafórico guardinha ali
da esquina, um agente de trânsito, devidamente uniformizado e identificado.
Ele, o agente efetivo do aparato repressivo do estado, municiado com uma caneta
cheia de tinta em uma mão e com a outra mão um bloco de multas em branco,
pronto para ser preenchido. O todo poderoso agente do aparato de trânsito,
estava notificando o veículo automotor da querubina-mor, veículo automotor
esse, que não estava devidamente estacionado como manda as normativas do código
de trânsito então vigente. Ao invés que organizar o trânsito, para facilitar a
chegada da ambulância, que não tardaria a chegar para socorrer o
motociclista.
Em
suma, o todo poderoso deus estado, para a sobrevivência própria, se adequando a
sociedade atomizada, então retirou parte do poder absoluto de divinais e
sacrossantos querubins e querubinas. E gerou pequenos e pequenas tiranetes,
semideuses e semideusas e munidos de canetas cheias de tintas, blocos de multas
e outros aparelhos burocráticos físicos e
digitais.
Fragmento do livro: Dos
ridículos da vida. Texto de Samuel da Costa, contista, cronista, poeta e
novelista em Itajaí, Santa Catarina.
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