sexta-feira, 1 de junho de 2018

SOL (2018)

Por Paccelli José Maracci Zahler (Brasília, DF)


ABRAÇO

Por Gustavo Dourado (Taguatinga, DF)


ÁGUA


Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)


Os homens fazem fila na porta do banco

mulheres buscam a água necessária

para a lide diária e as crianças

soltas na terra traçam no ar

brincadeiras na imaginação

do momento em que falam

de sonhos: água farta

na imensidão da casa perdida

naquela terra seca de áridos

sorrisos em ressecadas almas



os homens acreditam

nas promessas de dinheiro farto

mulheres sedentas na caminhada

diária de buscar água e as crianças

alheias à realidade disfarçam

a fome a sede e a saudade

do que nunca terão.

WATER


By Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

(Marina Du Bois, English version)
  

Men line up at the bank’s door

women seek th water needed

for the daily works and the children

loose on the ground trace in air

playgames in the imagination

of the moment when they talk

abou dreams: plenty of water

in the immensity of the house lost

to the drought of dry

smiles in dried out souls



men believe

in promisses of big money

women thirsty in the daily walk

on seeking water and the children

oblivious to reality disguise

the hunger the thirsty and the longing

for what they will never have.

OPORTUNIDADES


Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)


A formiga no retorno

ao formigueiro

nada carrega: a olheira

da rainha traz informações



a formiga não esquece a missão

e a rainha não agradece: ordens

diretas e cada formiga sabe

cumprir a sua parte: partem

ordenadas na direção informada



pés amassam a fileira

que se desfaz desordenada

algumas retornam outras iniciam

suas próprias jornadas.

OPPORTUNITIES


By Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

(Marina Du Bois, English version)
  

The ant on the return

to the anthill

carries nothing: the Queen’s ant pin

brings information



the ant does not forget its mission

and the Queen does not thank: direct

orders and each ant knows

to how to fulfill its part: they leave

ordered in the informed direction



feet knead the row

which is undone in disorder

some come back others start

their own journeys.

SONHOS


Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)


     Alguns sonham o momento

                               o passado

                               o futuro



          alguns sonham o instante

                      em fulgurantes astros

                      cadentes em nuvens

                     

   alguns sonham a volta

                           na revolta

                           do mar revolto

                           amainado em brisas



alguns sonham a verdade

                             no espaço

                             das desculpas



          alguns sonham que são felizes

                                      e se realizam

                                         ao acordar.


DREAMS


By Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

(Marina Du Bois, English version)



Some dream about the moment

                                the past

                                the future



     some dream about the instant

               in flashing stars

               shooting in clouds



  some dream about the return

                                in the revolt

                                of the rough sea

                                fallen in breezes



some dream about the truth

                               in the space

                               of apologies



       some dream that they are happy

                              and it takes place

                                     upon waking.

TERRA


Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)


Em mim a terra leve da infância

permanece sob os pés

em andarilhos descaminhos

envelhecidos e quentes



no mesmo lugar me encontro

sempre onde me acendem

as luzes e esquentam águas

do banho e aquietam medos

do começo estremecido

na necessidade de ir embora

                                      e voltar



sou suficiente no que fiz da vida

e contente retorno em cantos

de letras dispostas sobre o peitoril

onde balanço o corpo sob olhar

da heroína que acompanha o gesto.

EARTH


By Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

(Marina Du Bois, English version)



In me the light earth of childhood

remains under the feet

in wanderers

old and hot mischief



I find myself at the same place

always where the lights

come on and the bath waters

are warm and the fears

from the shaken start

in the need of leave and come back

                                         are quiet



I’m good enough for what I’ve done in life

and happy I return in songs

of lyrics arranged on the still

where I swing the body under the gaze

of the heroine who follows the gesture.

CONTINENTE AO LONGE

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Para Maggie Marisol Núñez e Laura Vogler

Ao longe de tudo
E de todos
Da terra em transe
Eu vejo tudo
***
Sou eu em total êxtase
Bestificado… vitimizado
Decaído
***
Ao longe escuto as sirenes
Os apitos
Os gritos de dor
Os tamborilarem
Dos infernais tambores
***
Soou os gritos de guerra
De um combate que nunca ocorrerá
***
Sou eu caudilho
Sou eu autocrata
Sou eu coronel
Sou eu sul-americano
Sou eu brasileiro/uruguaio
Sou eu brasileiro/paraguaio
Sou eu brasileiro/argentino
Sou eu um continente inteiro
Sub-julgado



FABRIZZIA BORSARY


Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

O que vai dentro
Dos seres alheios a nós mesmos
É quase sempre minha querida
Um túrbido oceano
De infindos e abissais mistérios
***
É o amor consorte minha
O divinal amor puro
E verdadeiro
Que nasceu excelso
Pelo encantamento
Dos místicos e hialinos
Olhos verdes teu
***
Dar-te-ei um ignoto buquê
De celestiais flores alvas
De luxuriantes rosas àlgidas
Colhidas no arrebol
No meu vergel em chamas


A DOUTRINA MONROE


Por Urda Alice Klueger (Enseada de Brito, SC)


Por volta de 1820 (200 anos atrás) era presidente dos Estados Unidos um homem chamado Monroe. Nessa altura, estava-se a fazer-se as diversas independências da América, a maioria das quais tinha sido feita através de sangrentas guerras (a primeira foi a do próprio Estados Unidos, em 1783, que teve que fazer guerra com a Inglaterra; a segunda foi a do Haiti, em 1804, que teve que fazer guerra com a França). Nós, brasileiros, fizemos a nossa independência em 1822 (lembram do 7 de setembro, feriado até hoje?) e não houve guerra, mas tivemos que pagar uma altíssima indenização para Portugal – pagamos durante 150 anos, até o ano de 1972.
                                   Assim, quando esse Monroe disse que a América era para os americanos, foi um aplauso só! O que primeiro se entendeu é que a América era para nós, americanos, sem mais prestar contas aos colonizadores europeus, que eram os que mandavam aqui até então.
                                   É isto que quer dizer a Doutrina Monroe: “A América para os americanos”.
                                   (Nunca devemos esquecer que a América é muito grande, e que inclusive nós, no Brasil, somos americanos. Assim como todo o resto do continente, como Argentina, Peru, Honduras, México, etc. Aqueles que se auto intitulam americanos, na verdade, são os estadunidenses. Não é certo chama-los nem de americanos nem de norte-americanos – na América do Norte há 3 países: o Canadá, os Estados Unidos e o México). 
                                   Então o Monroe disse isso e ficaram todos felizes, até começarem a entender que não era bem assim. O que ele quisera dizer é que os Estados Unidos era a sala de visitas da América, e os demais países eram seu quintal, o lugar onde eles poderiam obter cada vez mais lucros.
                                   Até hoje a Doutrina Monroe está valendo. A cada vez que o Brasil cresce um pouquinho, que a sua população deixa de ser tão pobre, os Estados Unidos organizam um golpe de estado e nos roubam os nossos direitos e a nossa economia, para que ELES fiquem cada vez mais ricos. É o que está acontecendo neste momento, e funciona porque os ricos do nosso país não querem perder suas regalias e apoiam os golpes, mas já aconteceu outras vezes, como no governo de Getúlio Vargas e João Goulart. Os governos Lula e Dilma foram governos chamados progressistas (não confundir com comunistas ou socialistas) e porque o povo passou a viver um pouco melhor (bolsa família, créditos, minha casa minha vida, universidades em abundância, salário mínimo de cerca de 350 dólares – vale lembrar que em 1988 o nosso salário mínimo valia cerca de 20 dólares, o que daria agora mais ou menos 60 reais por mês), esse pouquinho a mais que o povo passou a ter já ouriçou de novo a Doutrina Monroe, que queria aquele pouquinho de cada um para os Estados  Unidos ficarem cada vez mais ricos. Daí o golpe que vivemos.

                                   Sertão da Enseada de Brito, 05 de maio de 2018.

                                   Urda Alice Klueger
                                   Escritora, historiadora e doutora em Geografia.