quarta-feira, 4 de maio de 2011

A SAGA DE SÃO SEPÉ (poesia gauchesca)

Por Antônio Francisco de Paula

Em mil setecentos e vinte e dois
Na redução de São Luís Gonzaga
Nascia naquelas plagas
Um bugrinho iluminado
Guarani de muita fé
Conhecido por Sepé
Que em guri foi adotado

Levado pra São Miguel
A vizinha redução
Para junto de teus irmãos
Naquela terra bendita
Onde foi catequizado
Educado e preparado
Pelos padres jesuítas

Ali vivia contente
Com teu povo irmanado
Cultivando lavoura e gado
Alimentos para o sustento
Aprendendo com os missionários
Os ofícios mais raros
As construções dos monumentos

Oficinas, escolas, igrejas
Cidades inteiras planejadas
Com jardins, ruas, calçadas
Com toda a infra-estrutura
Aquela grande família
De tudo um pouco aprendia
desde música à escultura

Mas para a infelicidade
Daquela gente inocente
Surgia de repente
O tratado de Madri
De Espanha e Portugal
Pra enxotar do torrão natal
Os nativos guaranis

Determinava o tratado
Da raposa e do leão
A troca de possessão
No maldito documento
Os nossos belos rincões
Os sete povos das missões
Pela Colônia de Sacramento

José Sepé Tiaraju
Valente cacique guerreiro
Pêlo duro missioneiro
Comandou a insurreição
Peleou de peito aberto
Contra o destino incerto
Em defesa deste chão

Lutou heroicamente
De arco, flechas e lançaços
Contra arcabuzes e canhonaços
De Castela e Lusitanos
Dia sete de fevereiro
Tombou morto no entrevero
A lança e bala dos tiranos

Na refrega que precedeu
O massacre de Caiboaté
Despediu-se São Sepé
Daquela terra tão rica
E o teu sangue guarani
Escorreu no Batovi
Às margens da sanga da bica

Numa nuvem de fumaça
Seguiu o facho de luz
Na companhia de Jesus
Para estância grande do céu
Bradando com entono
Esta terra tem dono
Foi dada por Deus e São Miguel


E os potentados do além-mar
Imbuídos pela ganância
Invadiram as estâncias
Para saquear nossas riquezas
Sanguinários desalmados
Que nunca foram julgados
Pelas terríveis proezas

Sepé partiu para o além
A duzentos e cinqüenta anos
Mas continua vivo lutando
Inspirando teus guerreiros
Clamando por liberdade
Igualdade e fraternidade
Aos povos do mundo inteiro.

(Publicado originalmente na Revista CERRADO CULTURAL nº 08/2008)

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