Por Vânia Moreira Diniz
Hoje acordei propensa às reminiscências. Sentindo vontade de percorrer o quintal da minha casa na Rua Barata Ribeiro em Copacabana, onde na infância eu apostava corridas, tentando um campeonato de patins com minhas amigas e caindo da gangorra enquanto meu irmão pulava antes do tempo.
A bola não parava levando-se em conta que nessa época minhas irmãs não haviam nascido, os da minha idade eram apenas homens e eu gostava de disputá-la com eles , deixando muitas vezes que ela caísse na vizinha que não estava disposta a participar das brincadeiras e imediatamente fazia queixas à minha mãe.
Quando estava cansada de brincar com meus irmãos ou primos corria para dentro de casa e sentada no escritório de meu pai, procurava livros naquela biblioteca imensa e acabava descobrindo um mundo que sempre adorei,imergindo nas páginas que me deixava concentrada , esquecendo por vezes os deveres da escola. Ler era meu mundo encantado e esquecia tudo que me cercava para fazer parte do conteúdo dos livros que eu curtia compulsivamente.
Escrevia com prazer imenso em qualquer momento da minha vida. E deixava que as palavras saíssem sem censuras espargindo meu coração que precisava transmitir com veemência. Parecia que eu só tomava consciência do que escrevera algum tempo depois de concluir o texto e aí sim, entendia o que quisera dizer.
Quando estava entediada ou queria ficar sozinha ia até à praia que era pertinho da minha casa e deixava que meus pés ou meu corpo fossem molhados pelas ondas brancas e nem sempre mansas. Falava com o mar, contava meus desejos e sonhava inexplicavelmente com o infinito que se me apresentava inatingíveis .como as faixas coloridas do horizonte e sabendo da impossibilidade de alcançá-las deixava que o sol queimasse devagarzinho minha pele clara.
Muitas vezes alguém da minha casa vinha me buscar sabedoras desse passeio quase constante nos dias de sol intenso. O mar, a areia clara, e o horizonte distante sempre foram as mais encantadoras formas de poder transmitir minhas emoções. E continua a ser , só que parece-me que esse mesmo horizonte está mais perto e sinto-o como algo que se aproximou em dias subseqüentes em que aprendi a conhecer a vida e a forma de procurar sobrepujar os obstáculos. Será isso que nos faz mais compreensivos em relação à passagem do tempo?
Quando eu tinha dez anos soube que minha mãe esperava outra criança e tive certeza que seria uma menina. Estava cansada de compartilhar as brincadeiras de cinco irmãos sempre em discussão constante e sentia necessidade de olhar e amar uma irmãzinha e foi o que aconteceu. Nasceu uma mulher e fiquei entusiasmada com o rosto delicado e bonito amei-a instantaneamente , compreendi mesmo ainda muito cedo a necessidade de defendê-la levando em conta que era mais frágil do que eu. Em seguida nasceu outra menina que também foi algo muito importante para mim, mas Cristina e eu estávamos sempre juntas e apesar da diferença de idade nos compreendíamos muito. Até hoje estamos profundamente ligadas e somos confidentes inseparáveis.
Ainda revejo os tempos de criança há muitos anos quando olhava deitada num canto do jardim minhas estrelas brilhantes algumas das quais eu e meu irmão mais velho nomeávamos à noite nos dias de verão
O colégio Sacré Coeur de Marie onde estudei, foi algo que marcou tanto que até hoje me revejo e jamais poderei deixar de lembrar cada dia que passei lá. E olhe que foi um longo período desde muito pequenina.
O tempo passou, tive uma adolescência conturbada, mas o que me incentivou profundamente foram as lições que aprendi nesse caminho e a certeza que a única forma de sermos realmente felizes é saber estender a mão sempre e entender que por vezes as coisas que nos perturbam nos fazem compreender a vida , ser feliz e desenvolver um amadurecimento sadio e compreensivo.
Mana,emocionada... Bem, o que falar deste texto? Primeiro a foto da casa, já traz um impacto e me leva para bem longe. Depois imaginando, por suas palavras, quando ainda não estava aqui. Mas nasci e te encontrei. Como você bem o diz, inseparáveis. Nunca em minha vida precisei de você sem encontrar o apoio, o carinho, o amor. E viveremos assim... trocando, partilhando e eu... lendo seus escritos que me fazem crescer, amadurecer e amar cada vez mais as pessoas. bjs mana
ResponderExcluirQuerida Vânia,
ResponderExcluirQue texto maravilhoso! Apreciei-o muitíssimo. Parabéns por tanta
sensibilidade, emoções e afetos aí descritos de modo tão vivenciado e claro. Obrigado pelo carinho de me enviar tal riqueza.
Beijos da
Mère Menino Jesus
Manamiga Vaninha, a reflexão que trazes no texto sobre a influência da infância sobre toda jornada e aprendizagem, experimentação, é excelente. Tuas reminiscencias tem cheiro de mar, pude ver-te mirando o horizonte e entre as alvas ondas do verde mar de copacabana e o azul do céu sobre teus pensamentos distantes.
ResponderExcluirAgradeço compartilhares conosco que a construção de uma personalidade que atinge a maturidade inicia-se desde os primeiros passos . Tens um caráter admrável, exemplos e mãos amigas estendidas ensinaram que é este o modo de andar e perseverar.
Abraços de admiração por teu talento literário e escolhas!
Com afeto, virgínia fulber * além mar poetinha
Virgínia Fulber
Lindo, lindo, lindo... Sempre é muito bom recordar, amiga querida... uma verdadeira catarse; e escrever é uma arte que você exerce com maestria.
ResponderExcluirQue Deus continue a abençoá-la!!! Abraços
Desio Cafiero Filho
Fiscal e Consultor Ambiental
Olá, Vânia:
ResponderExcluirQue doces lembranças e que bela casa na Barata Ribeiro. Feliz e abençoado é quem pode lembrar de passagens
tão bonitas - claro que nem tudo foram flôres, tiveste também o teu quinhão de sofrimentos, as perdas mais tarde, mas parece que hoje resolveste fazer a contabilidade da felicidade. Que bom, isto me alegra, porque prova que continuas a mesma apaixonada pelos teus lugares e pelas tuas pessoas amadas.
Que sempre seja assim, Vânia!
Obrigada pela oportunidade que nos dás de rever contigo esses momentos.
Grande beijo da
Scyla
PARA ESCRITORA: VÂNIA DINIZ
ResponderExcluirCOMENTÁRIO: Vania querida, adoro seus textos com uma linguagem delicada, cheia de poesia! Clevane Pessoa e Eliane Accioly, sempre me falaram tão bem de você! Continue escrevendo mais e mais, para nosso deleite Um grande abraço de Maria J Fortuna
... Estimada Escritora Vânia Diniz, ler seu texto saudoso,
ResponderExcluirfoi um momento elevado, onde a gente volta no tempo, e realmente sente muita saudade dos tempos idos,
obrigada por tão significativo momento de suas recordações,
com admiração,
Efigênia Coutinho
Vânia , adorei viajar pela sua infância .
ResponderExcluirGostei muito do texto ,muito obrigada por compartilhar
o mesmo comigo .
Um lindo domingo e linda semana a seguir para voces .
Bjs . gezeuda
Parabéns, amiga,
ResponderExcluirBelíssimo texto!!!
Grande abraço,
Meire
Querida Vânia,
ResponderExcluirpáginas como esta devem estar juntas com outras tantas formando um volume esperando ser editado.
O passado, a infância de uma poetisa sensível como você,
uma infância muito próxima no tempo à minha, a mesma mania de escrever e de sonhar olhando o céu... Sentindo o infinito. Senti saudade por você... conheço aquela casa, que deve ser a sua de criança... conheci o Rio quando criança, as casas (havia casas) eram deste feitio...essas recordações nunca passam, fazem parte da nossa vida.
Querida amiga, receba
um grande abraço da Stella
Estimada Vânia, boa tarde
ResponderExcluirQue memória excelente e texto maravilhoso.
Fiz uma viagem com você!
Abraços e parabéns,
André
Aplausos!!! Muitos!
ResponderExcluirMeu carinho, admiração, irrestrita confiança e incondicional amizade, ao lindo casal, Paulo Diniz e Vânia Diniz.
Mário Carabajal