(para um pai chamado José)
Por Manoel Ianzer
você nasceu nos anos noventa
parece que foi ontem
veio para minha alegria
minha realização
e para ser o meu segmento
tronou-se um homem
na minha correria
não percebi
o seu crescimento
pouco me envolvi
no seu desenvolvimento
imaginei o seu sucesso
você determinou
o seu insucesso
tudo foi tão rápido
e sorrateiro
levei uma rasteira
senti a dor da desilusão
e o amargor da minha alma
depois que provou a droga
pela primeira vez
sentiu-se realizado
sem medo
de ser infeliz
com satisfação
jogou-se de corpo inteiro
pelo prazer
da fascinação do agito
do barulho
e do estrago
que fez a si mesmo
e aos que estavam a sua volta
a sua vontade era pura
beleza
sentia enorme alucinação
que o tornava
mais dependente
você escapava das minhas
mãos
escorregando como um peixe
simulado
jogando fora a ajuda
do seu amado pai
que era o seu respaldo
a sua degurança
o seu suporte
traiu o seu único amigo
fui tragado pela ilusão
tudo ficou curto
a grana
a paz
e aquele sentimento
de alegria
foi desmoronando
virando escuras mágoas
e refinado fel
não foi fiel aos princípios
os seus gastos
um rombo
um estouro
um tombo
me derrubou financeiramente
os seus gestos
um estrondo
a sua mente
um assombro
me arrasou sentimentalmente
portas trancadas
caminhos fechados
sem calor humano
saudade da sua infância
que vontade de te abraçar
tive minhas falhas
meus erros
mas nunca deixei de amá-lo
enquanto sonhava
para o seu bem
você navegava
para o seu mal
alucinado pelas farras
de entorpecentes
continuava com os seus
deslizes e subtrações
te procurei dia e noite
não reagiu
faltou dignidade
faltou caráter
usou maconha
colheu vergonha
comprou erva
vendeu merda
sofri...
...sofri
MUITO
quase não aguentei
esse tormento cruel
que abalou minha base
minha estrutura
fui derrotado
e por pouco não sucumbi
S.O.S.
acabou
pelos desvios da vida
em desvairados
caminhos de delírios
chorei...
...chorei
MUITO
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