Por Paccelli José Maracci Zahler
Fátima D’Ávila, pedagoga, artista plástica, fotógrafa,
designer de jóias, arte-terapeuta. A talentosa bajeense concedeu entrevista
para a coluna PERFIL da Revista Cerrado Cultural, edição de março de 2013.
RCC. A senhora nasceu
em Bagé, RS, porém, muito cedo, radicou-se em São Paulo. Que
lembranças guarda de sua infância em Bagé?
FD. Muito poucas. Eu morava na cidade por isso não tenho
lembranças "gaúchas" de cavalos, rebanhos e coisas parecidas. Só duas
ou três amigas de escola, brincadeiras no pátio de casa e bonecas.
RCC. Como foi a transferência para São Paulo?
FD. Foi antes do meu 3o. irmão nascer. Fiquei maravilhada com a
árvore de Natal no aeroporto de Congonhas. A adaptação foi um pouco difícil,
mas rápida. Cheguei lá no 4o. ano primário e tive que voltar para o segundo .
Naquele tempo se escrevia com pena.Talvez, aí, tenha começado o meu trabalho com arte. Vou
explicar: uma professora me ensinou que quando eu borrava o caderno (porque a
pena pingava), podia aproveitar aquele borrão e fazer uma flor! Não precisa
dizer que meu caderno era cheio de flores, né?
RCC. A vida cultural da capital paulista motivou a sua
dedicação às artes plásticas?
FD. Acho que sim, mas eu tinha mais contato com música,
literatura e teatro. Era o tempo das fotonovelas, o que era proibido lá em
casa. Nós ganhávamos livros, todo o Monteiro Lobato e muitos outros. Mais
tarde, o Teatro Brasieliro de Comédia - TBC abriu uma campanha para sócios e eu e meu irmão nos associamos.
Assim vimos tudo que foi apresentado, até Dercy Gonçalves e Grande Otelo. Vi
também O Balcão, mas não lembro se ainda era TBC. Eu também gostava muito de
moda, criava muita coisa. Fiz um pedaço de várias faculdades, até que fui fazer
um teste vocacional e aí foi que começou formalmente.
RCC. Na adolescência, a senhora tomou contato com o cinema.
Como isso se deu?
FD. Foi muito pouco. Meu pai fazia fotografia de cinema e
produção na Vera Cruz, mas eu não frequentava o set.
RCC. Sentiu vontade de dedicar-se ao teatro?
FD. Não, eu sou dos bastidores. Ainda tenho vontade de fazer
cenários, vestuário, iluminação, essas coisas.
RCC. Como o movimento hippie influenciou a sua vida?
FD. Ah! os hippies! os hippies abriram as portas do mundo. Mas
eu não era exatamente hippie. Eu gostava das
roupas,do artesanato, da paz e amor e viajar. Mas não tomava nenhuma
droga e nem sei exatamente o que eles faziam. Mas a música era boa.
RCC. Naquela época, a proposta de uma vida alternativa mudou
a sua maneira de ver a sociedade?
FD.Viver em comunidade me parecia uma boa, mas a vida me levou
por outros caminhos e eu não era tão alternativa assim. Há alguns anos visitei
o que restou de uma comunidade hippie na Bahia e fiquei
apavorada.
RCC. A senhora trabalhou na Rede Ferroviária Federal S.A. e
no Banco do Brasil.
Como foi essa experiência?
FD. Era só trabalho pra ganhar um salário. Sem recompensas
emocionais. "Educação bancária", como disse Paulo Freire, "nunca deu
certo". Pra mim, muito menos!
RCC. Foi muito difícil conciliar trabalho com a
formação em artes plásticas?
FD. Foi. Não recebi apoio de lugar nenhum, nem de
ninguém. Ao contrário, arte sempre foi considerada brincadeira, que não
"serve" pra nada ou decoração. É triste.
RCC. A senhora se dedica à pintura, à gravura,
à fotografia e à joalheria. Qual a que expressa melhor o seu sentimento?
FD. No meu caso a joalheria saiu da escultura.
Curto muito escultura. Pintei muito também. São todas "disciplinas"
da faculdade que procurei aperfeiçoar.
RCC. A senhora tem participado de várias
exposições não apenas no Rio Grande do Sul como fora dele. Como a senhora
avalia a receptividade dos seus trabalhos por parte do público?
FD. Acho que fiz poucas exposições, não tinha tempo
para acompanhá-las e ás vezes não tinha dinheiro. É difícil aparecer em Bagé
alguém com trânsito livre, que leve o trabalho para os lugares certos.
RCC. É possível viver da arte no Brasil?
FD. É possível, mas é difícil. Tem que fazer
concessões, tem que amar a arte acima de todas as coisas, tem que arrumar um
marchand etc etc é muito pra minha cabeça!
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