Por Paccelli José Maracci Zahler
Jader D´Ávila,
bajeense, radicado em São
Paulo desde 1953, conhecido na Rua Augusta como o
Tio do Pijama. Saberemos por quê.
A entrevista foi
realizada por correio eletrônico. Agradecemos a gentileza do entrevistado.
RCC. Seu personagem
nasceu de comentários a respeito do seu modo de vestir. Como se deu isso?
JD. Eu era
terrivelmente molambento. Usava a mesma camiseta até sair o terceiro buraco e,
mesmo assim, achava que dava para mais seis meses.
RCC. O que seus colegas
de trabalho entendiam como molambento?
JD. Os colegas de
trabalho achavam que a roupa iria sair andando sozinha. Era um horror.
RCC. O senhor afirmou
ter buscado inspiração para as suas roupas em revistas femininas. Foi uma forma
irreverente de fazer as fofoqueiras se calarem?
JD. Eu achei que, se eu
ficasse igual a elas, elas gostariam. Isso aconteceu enquanto as cores eram
sóbrias.
RCC. Qual foi a reação
das pessoas ao se depararem com o seu primeiro modelito?
JD. Foi um sucesso.
Como era marrom, cor bem conservadora, foi bem aceito.
RCC. Sua chefia
imediata ficou chocada?
JD. Ficou contente
enquanto as cores eram sóbrias. Quando apareceram as cores berrantes e
multicoloridas é que ficou difícil.
RCC. O senhor chegou a
receber alguma advertência ou alguma outra sanção disciplinar?
JD. Eles tentaram, mas
eu falei do meu direito à minha imagem. Uma coisa é fazer o serviço, outra é
ser quem sou.
RCC. A partir de que
momento as pessoas se acostumaram com suas roupas e passaram a chamá-lo de Tio
do Pijama?
JD. As pessoas nunca se
acostumaram. Até hoje, as mulheres ao me verem, correm de medo.
RCC. Depois do segundo
modelito, a sua criatividade aflorou?
JD. Sim. Quando eu ia
no comércio e via aquele monte de panos lindos, eu adotei as cores.
RCC. O senhor já pensou
em criar uma grife “Tio do Pijama”?
JD. Não quero. Essa é a
minha moda. Quem quiser fazer igual, que compre o pano que gostar e faça do
jeito dele. Não quero ganhar dinheiro com isso.
RCC. Suas roupas têm baixo
custo. Elas poderiam fazer parte de algum programa social e vestir a população?
JD. O meu estilo já é
realidade no mato. No mato, a mãe compra um rolo de pano e faz tudo do mesmo
pano, as cortinas, a toalha de mesa, a roupa das crianças, os lençóis.
RCC. Que tal um
programa do tipo “Minha roupa, minha vida”?
JD. Shhhh! Não dá essa idéia
pro PT, que eles fazem um Bolsa-Pijama na horinha (rs).
RCC. Seus modelitos
poderiam se transformar em um patrimônio nacional, ou seja, um jeito
genuinamente brasileiro de vestir?
JD. Não. Pelo mundo
eles já usam o de baixo e o de cima do mesmo pano.
RCC. O senhor é um
empreendedor nato. Modelitos para todas as estações do ano. Quantos ao todo?
JD. Eu perdi a conta.
Deve estar por uns 200. Cada mês, aumenta três, fora os que me dão na rua.
RCC. O senhor já
recebeu alguma proposta para a fabricação de roupas em massa e para a massa ?
JD. Sim. Mas eu não
quero. Eu só joguei a idéia no ar. Eu noto que já tem gente adotando.
RCC. Suas roupas não
têm bolsos. Como é possível levar documentos e dinheiro para deslocamento pela
cidade?
JD. Eu adotei bolsa
como mulher. A bolsa é melhor, mais prática, cabe mais, tudo em um lugar só,
mais fácil de achar.
RCC. A bolseta não fica
muito volumosa por debaixo da roupa?
JD. Isso eu abandonei.
Nada é fixo, nada é para sempre. A bolsa fica do lado de fora.
RCC. Como começou a sua
relação com a Rua Augusta?
JD. Na verdade, a minha
relação é com a Avenida Paulista. A Rua Augusta me adotou porque ela quis. Nem
sempre a mulher que você ama te ama de volta. Às vezes, é outra mulher que te
ama.
RCC. O surgimento do
bloco do Tio do Pijama foi por iniciativa de admiradores?
JD. Eu escrevi no Orkut
que ia descer a Rua Augusta batendo lata e cantando antigas marchinhas. Pra
minha surpresa, apareceram 30 pessoas de pijama, duas de penhoar.
RCC. O bloco do Tio do
Pijama sai todos os dias do Carnaval ou em dias específicos?
JD. Saía no sábado de
Carnaval,mas o bloco concorrente, da caipirinha grátis, ganhou terreno. Então,
desmanchamos o nosso e nos agregamos a eles.
RCC. Qual a sua
formação profissional?
JD. Nenhuma. Eu não
sirvo pra nada. Meu dinheiro, estou ganhando com negócios (lícitos) que eu
faço.
RCC. O senhor é casado?
Tem filhos?
JD. Fui casado e tenho
uma filha. Fiz vasectomia, então não nasce ninguém. Nem casar de novo. Duas
vezes dentro da mesma vida, nem pensar.
RCC. Como sua família
reagiu ao personagem Tio do Pijama?
JD. A filha finge que
gosta. A ex-mulher só fala comigo se eu estiver de jeans e camiseta preta.
RCC. Vida de artista no
Brasil sempre corre paralela a outra atividade. No seu caso foi assim?Como
surgiu a sua paixão pela arte performática?
JD. Eu não sou nenhum
artista performático. Isso é só uma proposta de moda, do mesmo jeito que a
Chanel mostra o desfile dela. As pessoas só podem saber da minha proposta se eu
mostrar.
RCC. O que o Tio do
Pijama aprendeu com a vida?
JD. No que concerne à
roupa, nada. As pessoas têm pavor do que não conhecem e me odeiam.
trabalhei com o tio de pijama.Ele é uma pessoa muito boa, não te dá prejuízo,nao te enche as paciências, não te pede dinheiro emprestado, enfim ele foi tudo que um colega de trabalho espera do outro.
ResponderExcluirFrancisco Gonçalves junior.
Trabalhei no mesmo prédio em que este cidadão dava expediente. Sujeito estranho e inoportuno, confundia o local de trabalho com um circo.
ExcluirGiordano Bruno
Eu nunca escutei a risada dessa pessoa. Deve ser triste atravessar a vida odiando tudo e todos. Anonimo: bebe veneno e morre. Tua vida não vale a pena.
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