quarta-feira, 3 de abril de 2013

JADER GUADALUPE D AVILA (TIO DO PIJAMA)



Por Paccelli José Maracci Zahler

Jader D´Ávila, bajeense, radicado em São Paulo desde 1953, conhecido na Rua Augusta como o Tio do Pijama. Saberemos por quê.
A entrevista foi realizada por correio eletrônico. Agradecemos a gentileza do entrevistado.

RCC. Seu personagem nasceu de comentários a respeito do seu modo de vestir. Como se deu isso?

JD. Eu era terrivelmente molambento. Usava a mesma camiseta até sair o terceiro buraco e, mesmo assim, achava que dava para mais seis meses.

RCC. O que seus colegas de trabalho entendiam como molambento?

JD. Os colegas de trabalho achavam que a roupa iria sair andando sozinha. Era um horror.

RCC. O senhor afirmou ter buscado inspiração para as suas roupas em revistas femininas. Foi uma forma irreverente de fazer as fofoqueiras se calarem?

JD. Eu achei que, se eu ficasse igual a elas, elas gostariam. Isso aconteceu enquanto as cores eram sóbrias.


 
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RCC. Qual foi a reação das pessoas ao se depararem com o seu primeiro modelito?

JD. Foi um sucesso. Como era marrom, cor bem conservadora, foi bem aceito.

RCC. Sua chefia imediata ficou chocada?

JD. Ficou contente enquanto as cores eram sóbrias. Quando apareceram as cores berrantes e multicoloridas é que ficou difícil.

RCC. O senhor chegou a receber alguma advertência ou alguma outra sanção disciplinar?

JD. Eles tentaram, mas eu falei do meu direito à minha imagem. Uma coisa é fazer o serviço, outra é ser quem sou.

RCC. A partir de que momento as pessoas se acostumaram com suas roupas e passaram a chamá-lo de Tio do Pijama?

JD. As pessoas nunca se acostumaram. Até hoje, as mulheres ao me verem, correm de medo.

RCC. Depois do segundo modelito, a sua criatividade aflorou?

JD. Sim. Quando eu ia no comércio e via aquele monte de panos lindos, eu adotei as cores.

RCC. O senhor já pensou em criar uma grife “Tio do Pijama”?

JD. Não quero. Essa é a minha moda. Quem quiser fazer igual, que compre o pano que gostar e faça do jeito dele. Não quero ganhar dinheiro com isso.

RCC. Suas roupas têm baixo custo. Elas poderiam fazer parte de algum programa social e vestir a população?

JD. O meu estilo já é realidade no mato. No mato, a mãe compra um rolo de pano e faz tudo do mesmo pano, as cortinas, a toalha de mesa, a roupa das crianças, os lençóis.

RCC. Que tal um programa do tipo “Minha roupa, minha vida”?

JD. Shhhh! Não dá essa idéia pro PT, que eles fazem um Bolsa-Pijama na horinha (rs).

RCC. Seus modelitos poderiam se transformar em um patrimônio nacional, ou seja, um jeito genuinamente brasileiro de vestir?

JD. Não. Pelo mundo eles já usam o de baixo e o de cima do mesmo pano.

RCC. O senhor é um empreendedor nato. Modelitos para todas as estações do ano. Quantos ao todo?

JD. Eu perdi a conta. Deve estar por uns 200. Cada mês, aumenta três, fora os que me dão na rua.

RCC. O senhor já recebeu alguma proposta para a fabricação de roupas em massa e para a massa ?

JD. Sim. Mas eu não quero. Eu só joguei a idéia no ar. Eu noto que já tem gente adotando.

RCC. Suas roupas não têm bolsos. Como é possível levar documentos e dinheiro para deslocamento pela cidade?

JD. Eu adotei bolsa como mulher. A bolsa é melhor, mais prática, cabe mais, tudo em um lugar só, mais fácil de achar.

RCC. A bolseta não fica muito volumosa por debaixo da roupa?

JD. Isso eu abandonei. Nada é fixo, nada é para sempre. A bolsa fica do lado de fora.

RCC. Como começou a sua relação com a Rua Augusta?

JD. Na verdade, a minha relação é com a Avenida Paulista. A Rua Augusta me adotou porque ela quis. Nem sempre a mulher que você ama te ama de volta. Às vezes, é outra mulher que te ama.

RCC. O surgimento do bloco do Tio do Pijama foi por iniciativa de admiradores?

JD. Eu escrevi no Orkut que ia descer a Rua Augusta batendo lata e cantando antigas marchinhas. Pra minha surpresa, apareceram 30 pessoas de pijama, duas de penhoar.

RCC. O bloco do Tio do Pijama sai todos os dias do Carnaval ou em dias específicos?

JD. Saía no sábado de Carnaval,mas o bloco concorrente, da caipirinha grátis, ganhou terreno. Então, desmanchamos o nosso e nos agregamos a eles.

RCC. Qual a sua formação profissional?

JD. Nenhuma. Eu não sirvo pra nada. Meu dinheiro, estou ganhando com negócios (lícitos) que eu faço.

RCC. O senhor é casado? Tem filhos?

JD. Fui casado e tenho uma filha. Fiz vasectomia, então não nasce ninguém. Nem casar de novo. Duas vezes dentro da mesma vida, nem pensar.

RCC. Como sua família reagiu ao personagem Tio do Pijama?

JD. A filha finge que gosta. A ex-mulher só fala comigo se eu estiver de jeans e camiseta preta.

RCC. Vida de artista no Brasil sempre corre paralela a outra atividade. No seu caso foi assim?Como surgiu a sua paixão pela arte performática?

JD. Eu não sou nenhum artista performático. Isso é só uma proposta de moda, do mesmo jeito que a Chanel mostra o desfile dela. As pessoas só podem saber da minha proposta se eu mostrar.

RCC. O que o Tio do Pijama aprendeu com a vida?

JD. No que concerne à roupa, nada. As pessoas têm pavor do que não conhecem e me odeiam.

3 comentários:

  1. trabalhei com o tio de pijama.Ele é uma pessoa muito boa, não te dá prejuízo,nao te enche as paciências, não te pede dinheiro emprestado, enfim ele foi tudo que um colega de trabalho espera do outro.

    Francisco Gonçalves junior.

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    1. Trabalhei no mesmo prédio em que este cidadão dava expediente. Sujeito estranho e inoportuno, confundia o local de trabalho com um circo.

      Giordano Bruno

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  2. Eu nunca escutei a risada dessa pessoa. Deve ser triste atravessar a vida odiando tudo e todos. Anonimo: bebe veneno e morre. Tua vida não vale a pena.

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