sábado, 1 de junho de 2013

A INVEJA E A DEMOCRACIA

Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)

Bertrand Russel, in “ A Conquista da Felicidade”, diz que Madame Roland, “ que é apresentada frequentemente como uma nobre mulher inspirada pela devoção ao povo”, tornou-se assim, porque certa vez, ao visitar um castelo aristocrático, fizeram-na entrar pela porta de serviço e não pela principal.
Para Bertrand Russel, Madame Roland, desde então, abraçou a democracia.
Nasceu, portanto, a democracia - segundo o filosofo e alguns psicólogos, - da inveja.
Não se assevera que todo o democrata é invejoso, ainda que se concorde que a raiz provem desse mal.
Estou convencidíssimo que certos republicanos, são-no, apenas porque não nasceram no seio da alta nobreza, nem foram aceites no seu meio.
Recordo, que Camilo, homem do povo, apreciadíssimo no meio literário, ao receber o título de Visconde, mandou imprimir no cartão-de-visita a coroa, seguindo: Visconde Correia Botelho. Vi exemplar, quando era menino e moço, no Museu Abade de Baçal, em Bragança.
E não escasseiam intelectuais e pseudointelectuais, que dobram letras para pensarmos que são de origem fidalga ou estrangeira. É pecado que enferma muita boa gente.
Não se duvida que a democracia é o melhor sistema, ainda que se reconheça que Jean Jaques Rousseau tinha razão, ao afirmar: “ que governo tão perfeito não convêm a homens, mas a deuses.”
Enferma a democracia de inveja, Guy Bedos, gracejando considera-a: Uma espécie de ditadura da maioria.
A política encontra-se eivada de invejosos. As facões são, em regra, constituídas por ambiciosos, muitos sem escrúpulos; por isso costuma-se dizer: Que na política não há amigos.
Mas também não os há noutras atividades.
Voltaire, em carta a Mademoiselle Quinault, lamenta-se: “ Que ganhei eu em vinte anos de trabalho? Nada, a não ser inimigos. Tal é o preço que, quase sempre, deve esperar-se da cultura das letras: muito desprezo, quando não se triunfa; muito ódio, quando se triunfa”.
Na política passa-se precisamente o mesmo, o que não admira, se recordarmos o velho adágio: “ Quem é o teu inimigo? É o oficial do teu oficio”.
Raro é o político, mesmo da mesma ideologia, louvar outro. A ambição leva-os a criticar sempre o que se encontra em lugar que cobiçam, mesmo quando, em consciência, reconhecem que elaboram em erro.
É devido à inveja e à cobiça que a democracia, sendo, a melhor forma de governo, é, muitas vezes, condenada, já que permite: o forte e poderoso dominar o fraco e indefeso; e criminoso rico, sair ileso, e o inocente pobre condenado.

Mas o defeito não se encontra na democracia, mas nos homens.

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