Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
domingo, 6 de setembro de 2015
terça-feira, 1 de setembro de 2015
BORBOLETA
Por João Carlos Diehl (Joinville, SC)
Voe, mas voe raso
Bem próximo a mim
Pois quero ver o lindo colorido de suas asas
E sentir o aroma das flores nas quais você pousou.
Voe, mas voe raso
Bem próximo a mim
Pois quero ver o lindo colorido de suas asas
E sentir o aroma das flores nas quais você pousou.
BARCO
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
elixir
remédio
amargo: corpo dolorido ao tempo
delicado. A dedicação oxida
no terminar dos dias.
Observo pessoas voltando
para suas casas. O remédio
amarga a boca. O retorno
no imenso e doloroso
rio: o barco aporta
FELICIDADE
Por João Carlos Diehl (Joinville, SC)
Um dia pensei:
Algum dia serei feliz?
Hoje é um outro dia
E estou feliz,
Amanhã quem sabe...
Não importa,
Pois o que importa
É o hoje, o agora
E eu estou feliz!
ONDE E QUANDO
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Acabar com os
reinícios
deixar terminar.
Findo o espaço teimar o escopo.
Traduzir em sacrifícios
o
indolor remédio imprescritível.
Prescrever a pena e se arvorar
temas eternizados ao dia.
Acalmar as razões
e se
fazer encargo.
Após o princípio residir
a planície onde vicejam
animais da espécie.
BOM SENSO MINEIRO
Por Erivelta Diniz
(Divinópolis, MG)
UAI! MINEIRO SABE
PICAR UM SUJEITO EM
MIUDINHO SEM DEIXAR RESTO
Se tem lógica eu não sei, mas é assim: o mineiro tem sua lógica no coração muito
maior que aquela filosófica da razão. O mineiro tem “Bom Senso inigualável”.
Está sempre no meio termo, nem pra lá da razão puramente dita, e nem pra cá na doce paixão. Mineiro cheira longe, sente por antecipação,
e usa isso contra toda maldade e tapeação. Mineiro sabe ser fiel consigo mesmo.
A conduta de um bom mineiro caminha lado a lado com o bom senso, é o seu pão
realista de cada dia.
Uma grande qualidade de um mineiro é a sua sobriedade. Ele
nunca é exagerado, nunca desperdiça palavras, ou gestos. Essa profunda
característica da sua personalidade circunda todo a sua vida. Segundo frei
Bernardino Leers, o grande moralista e teólogo franciscano: “é a sua moral, o
mineiro é antes de tudo um grandioso sóbrio”.
Sóbrio para caminhar, para falar, para vestir e para comer.
Sobretudo, para viver e sentir. O mineiro nasce sóbrio, e morre sóbrio.
O interessante mesmo é a sobriedade do seu pensamento. Meu
pai era um homem mineiro de preocupação sólida. Meu melhor amigo mineiro
carimba sua solidez: detesta pensamentos vazios, divagações, sonhos fora da
realidade . Meus avós mineiros tinham a sobriedade de segurança, rotina,
conservação, equilíbrio e estabilidade.
De tal forma: eu não serei
diferente.
Voltando ao meu
melhor amigo, tudo que ele faz é
sem pressa. Parece que o tempo não conta de jeito nenhum! Mas sei que é ele
quer mesmo é firmar se para permanecer
para sempre, e não para aparecer,
ou para fazer de conta que está ganhando
tempo para alcançar seus objetivos.
Se pretendemos ouvir uma boa história, ou um bom causo será
aqui o melhor lugar. Mas percebam que há ironia em tratar as coisas sérias, e
tratam gravemente as coisas sem importância. Tudo tem um porquê dentro das
entrelinhas dos causos. Todo mineiro é bom contador de causos, não precisa ser
intelectualizado para tal. Quanto menos melhor. Quanto mais matuto mais será a
sua realidade contada, de forma
verdadeira, em forma de lição de vida. O mineiro tem esse sentido de
realidade.
O mineiro silenciosamente observa tudo que se passa, guarda
tudo sem dar sinal. Espera o momento certo , oportuno e tira as meias dos pés
do sujeito sem lhe tirar os sapatos, sem
ele perceber. É a sua grande defesa, é a sua perspicácia. Percebe tudo e não dá
um sinalzinho se quer do que sabe. Não é
nada fácil de enganar um mineiro. Ele sabe se prevenir, ninguém o faz de
“bobo”. Continua fazendo quando sabe que não sabe.
Acredite: o mistério
é do mineiro. Não se espanta com nada. Sabe ouvir, e ouve perigosamente...
É calmo, pacato, gosta do seu canto, sossegado,
sem amolação. Admira a tranquilidade.
Quando um mineiro ama , ama de verdade. Sem muitas palavras, é capaz de morrer
sem confessar. É seu jeito!
Cuidado com um mineiro ele saberá usar a sua melhor arma
contra o inimigo. Não é violento ao pé da letra, mata o sujeito com um sorriso, e com a
língua. É a sua vingança. Mineiro não
precisa andar armado. Porque quando um
sujeito cai na língua do povo aqui em Minas, ele está totalmente perdido: Morto!
Sobre a autora: Historiadora e pesquisadora da religiosidade popular do Centro-Oeste de Minas Gerais, graduanda em Direito.
ESCREVER
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Escrevo na folha
a
estrofe derradeira
condensada em palavras
de
despedida.
A folha preenchida
pede folhas sucessivas.
Escrevo histórias recontadas
em dias de mesmas palavras.
ANTI-CLÍMAX
Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
Perco-me em um labirinto virtual
De sons, cores e imagens...
Neste entre séculos!
***
Mais que de repente
Descubro que nada sou
E que não tenho
lugar!
Efetivo neste mundo...
Pós-moderno liquefeito!
***
Descubro que as minhas memórias
Foram todas clonadas
Digitalizada e coletivizadas,...
E replicas ao extremo
Curtidas, comentadas e compartilhadas!
***
Descubro sem demora
Que não tenho mais privacidade
Pois mil monóculos
digitais me vigiam
Vinte e quatro horas
***
Em plenitude
Percorro um labirinto cibernético
De sons, cores e imagens...
E mais que de repente
Procuro-me em meio
A multidão dissoluta
E não me encontro
***
Em plenitude
Corro e percorro
Nas vias congestionadas
Virtuais!
Em tempo presente
E tempo futuro
Tateio no escuro
Em meio em tanta mutação
RENÚNCIA
Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
A minha emoção excessiva
Obriga-me a olhar para trás
Rever as outrora páginas em branco...
E agora maculadas pelas minhas negras linhas
Pela minha negra dor
***
Ai eu percebo que não
sobrou
Muita coisa de mim
Nem as brumas
Nem as ninfas
Sagradas e puras
Nem pontes para trespassar o intransponível
Nem os sagrados vergéis orvalhados
Vejo arder em chamas ao longe
As belíssimas e raras rosas negras de Halfeti
Tudo se foi por fim
Com o raiar de um novo dia
***
Hoje experimento a
renúncia
Objetivada da vida cotidiana!
Dispo-me do impressionismo abstrato
Pueril e vago!
O arco-íris das dores
Dissipou-se em meia a realidade
Pura e simples
***
Hoje!
Dispo-me de todos os mistérios
Do universo infindo!
Dos sonhos mais ignotos...
De virgens santas e vaporosas
Em fim...
Não me evado do real!
***
Hoje sou simplesmente eu!
Lúcido!
Uma figura menor...
Sem eira nem beira!
O aedo?
O bardo em mim?
Sumiram!
Foram todos juntos suicidarem em meio...
As massas dissolutas
Na realidade liquefeita
***
Hoje...
A minha imaginação
Não vai para além
Da vila de pescadores
Com vias congestionadas
Em que vivo e que me verá morrer
***
Cravo as minhas guaras
No deserto do real
***
No dia de hoje
Planejo construir meus aquedutos
Incendiar meus candeeiros
Calçar ruas esburacadas
Mergulhar-me no real
***
Somente hoje
Sou dormir e acordar sendo eu mesmo
E mais ninguém
Não vou circunvagar
Nas terras dos sonhos
Nem voar para além
Do infinito
Não declaro guerra à realidade
Por fim
***
Somente hoje
Despindo-me em
palavras
Olho para cima
E vejo a cidade que se verticaliza
***
Hoje sou eu mesmo
E mais ninguém!
CORPO E LUZ
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
A luz mostra o corpo
- demonstra o pouco –
abandonado (calçada
cama
lama
estrada
casa
entrada).
A luz contempla o corpo
desacordado (acordado
no âmago intimidado).
O corpo dispensa na luz
a sombra projetada.
SÚBITA EXISTÊNCIA CONTEMPORÂNEA
Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
Experimento o
ineditismo
De não deixar me enganar
Pelos outros
***
Sinto e sofro
A pior de todas as dores
A pior de todas as solidões
A não solidão das
belas-artes
No pós-modernismo...
Das belas-letras liquefeitas
Afogo-me em saudades
Daquilo que nunca vivi
***
Hoje o meu ineditismo
Me choca!
Mais que um poema em prosa
Sem cor...
Sem sabor
Que nada diz
***
Hoje componho versos menores
Um brilho falso
Um clone imperfeito
Daquilo que eu fui ontem
Quando sentia a negra dor
E morria de amores literários
Por quem simplesmente me ignorava
Por completo
***
São nanossegundos...
De puro prazer carnal!
Para uma vida eviterna de sofrimentos
***
Repito-me em versos
E em prosa
Aquilo que escrevi ontem
Uma cópia quasimodesca
Da mim mesmo
SÚBITA INEXISTÊNCIA ENTRE SÉCULOS
Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
De repente o universo inteiro
Cabe na minha simples inexistência
Como uma mentira
Que cabe em mil palavras mecanizadas
***
Pois na minha observância
Pueril e imperfeita
Sente a súbita necessidade
De se dissolver nas massas
Dissolutas
Que se aglomerou nos burgos
Em março último
Como em um suicido coletivo
Estúpido e conservador
***
Não muito longe
Em tempo e espaço
A divina dama
virginal
Vague-a sorridentemente
Pelas ruas
Ela vai visitar uma
modista
Para lhe encomendar o enxoval
Embebecida de sonhos
E ilusão matrimonial
***
Que tombe todas as muralhas
Que tombe o universo
inteiro
Dentro de mim...
Que se consuma em tediosas horas
Inexatas e nevoentas
Todas as minhas certezas
Até não sobrar mais nada
De coisa alguma!
***
Como o escriba
Que em desesperadas horas
Esconde-se na água furtada
A sonhar com aquilo
Que não existe
***
Assim como o fadista
Toma a cistres
E chora para ouvidos mocós
Eu durmo para não
Acordar mais
Assim como possuo
A amante
Para não possuir coisa alguma
Consumido por efêmeros
Prazeres para uma
Vida toda de dores sem fim
***
Ainda tateio em meio à escuridão
Completa!
Procurando não sei o que!
Ainda procuro candeeiros
Para iluminar
O meu ser mais-que-imperfeito
LUZ
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Minha é a estrada
em derradeira trajetória:
não carrego
medos
não conduzo
saudades.
Despeço-me do horizonte
no além desencontro.
Habito o firmamento
ao me desfazer luz
e calor. Energizo o todo.
ABRIGAR-ME NA NOITE ESCURA!
Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
Vou buscar abrigo seguro
Na noite eviterna
Meu corpo incorpóreo estático na porta!
E inda orvalhado
Grito ao taberneiro:
— Quero me afogar em
vinho!
Entorpecer-me com o fumo!
Pois a embriagues não me escapa.
Hoje é noite de perder...
Todos os sentidos...
Perder todas as
razões!
Viver em estase.
***
Sento no canto mais escuro!
Da tasca
Pego a pena!
E o mata borrão
Folhas em branco
Quero ser o melhor dos poetas
Alvaresiano em verso e prosa...
***
Vou buscar um vago abrigo
Na noite eviterna
Ter a solidão como companhia
Mais que perfeita
Morrer aos poucos
Em meio ao nada
Ser esquecido
***
Evanesço no canto mais escuro!
Pego a pena!
E o mata borrão
Folhas ainda virgem
Busco abrigo nas palavras ignotas
Abrigar-me da realidade inconstante!
Quero me esconder do
mundo contemporâneo
Liquefeito!
Quero ser o melhor dos poetas
Alvaresiano em verso e prosa...
***
Ouço a opereta ao longe
O ruído sinfônico insólito
Chega-me ao ouvidos
Pego a pena!
E o mata borrão
Rabisco!
As folhas outrora virgens
Subverto a realidade
noturna
Grito ao taverneiro
Mais vinho... mais vinho
Quero perder todos os sentidos
Embriagar-me em belas letras
Em letras mortas
Mentir para mim mesmo
***
Ser o melhor dos poetas
Subverter a realidade liquida
Poeta multifacetado em mil palavras assertiva!
Ser o aedo
Ser o bardo
E passar despercebido!
Por todos!
Ser eu mesmo e mais ninguém!
ENTRE MUNDOS
Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
Minha alma indomável
Margeia o rio...
Onde vai mergulhar os
pés
Para depois voa
livremente...
Ao sabor dos ventos
alísios
***
Minha alma
Aproveita o belo dia
de sol
Sem nuvens
Desafia a realidade
Naufraga no oceano
bravio...
Ouve o canta sagrada
Da divina deidade
Abraço a Kianda
sagrada
E desaparece no
pelágio!
Sem fim
***
Minha alma livre
Corre o mundo
Dobra a esquina
E não conhece mais
limites
Desafia a tudo e a
todos
Ganha os céus
Voa pelo universo
E se perder no céu
infinito
***
Minha negra alma e
sôfrega
Vague-a o mundo dos
sonhos
E se enamora da negra
Valquíria
Se perder no
labirinto do Fauno
E encontra no olhar
da Medusa
***
Minha alma livre não
conhece limites
Vai até Arcádia e
pede a bênçãos
Aos pastores!
Entoa a Écloga em
estase!
Embriaga-se junto a
Dionísio
Arvora-se entre as
suas bacantes
***
Minha alma livre voa
Ganhas as ruas
E se perde no
infinito
Da um eterno adeus a
Musa sagrada
E parte por fim.
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