terça-feira, 1 de setembro de 2015

BOM SENSO MINEIRO

Por Erivelta Diniz (Divinópolis, MG)


UAI!  MINEIRO SABE PICAR UM SUJEITO EM MIUDINHO SEM DEIXAR RESTO

Se tem lógica eu não sei, mas é assim:  o mineiro tem sua lógica no coração muito maior que aquela filosófica da razão. O mineiro tem “Bom Senso inigualável”. Está sempre no meio termo, nem pra lá da razão puramente dita,  e nem pra cá na doce paixão.  Mineiro cheira longe, sente por antecipação, e usa isso contra toda maldade e tapeação. Mineiro sabe ser fiel consigo mesmo. A conduta de um bom mineiro caminha lado a lado com o bom senso, é o seu pão realista de cada dia.
Uma grande qualidade de um mineiro é a sua sobriedade. Ele nunca é exagerado, nunca desperdiça palavras, ou gestos. Essa profunda característica da sua personalidade circunda todo a sua vida. Segundo frei Bernardino Leers, o grande moralista e teólogo franciscano: “é a sua moral, o mineiro é antes de tudo um grandioso sóbrio”.
Sóbrio para caminhar, para falar, para vestir e para comer. Sobretudo, para viver e sentir. O mineiro nasce sóbrio, e morre sóbrio.
O interessante mesmo é a sobriedade do seu pensamento. Meu pai era um homem mineiro de preocupação sólida. Meu melhor amigo mineiro carimba sua solidez: detesta pensamentos vazios, divagações, sonhos fora da realidade . Meus avós mineiros tinham a sobriedade de segurança, rotina, conservação, equilíbrio e estabilidade.  De tal forma:  eu não serei diferente.
Voltando ao meu  melhor amigo,  tudo que ele faz é sem pressa. Parece que o tempo não conta de jeito nenhum! Mas sei que é ele quer mesmo é firmar se  para permanecer para sempre,  e não para aparecer, ou  para fazer de conta que está ganhando tempo para alcançar seus objetivos.
Se pretendemos ouvir uma boa história, ou um bom causo será aqui o melhor lugar. Mas percebam que há ironia em tratar as coisas sérias, e tratam gravemente as coisas sem importância. Tudo tem um porquê dentro das entrelinhas dos causos. Todo mineiro é bom contador de causos, não precisa ser intelectualizado para tal. Quanto menos melhor. Quanto mais matuto mais será a sua realidade contada, de forma  verdadeira, em forma de lição de vida. O mineiro tem esse sentido de realidade.
O mineiro silenciosamente observa tudo que se passa, guarda tudo sem dar sinal. Espera o momento certo , oportuno e tira as meias dos pés do sujeito sem lhe tirar os sapatos,  sem ele perceber. É a sua grande defesa, é a sua perspicácia. Percebe tudo e não dá um sinalzinho se quer do  que sabe. Não é nada fácil de enganar um mineiro. Ele sabe se prevenir, ninguém o faz de “bobo”. Continua fazendo quando sabe que não sabe.
Acredite:  o mistério é do mineiro. Não se espanta com nada. Sabe ouvir, e ouve perigosamente... É calmo, pacato, gosta do seu canto, sossegado,  sem amolação. Admira a tranquilidade.  Quando um mineiro ama , ama de verdade. Sem muitas palavras, é capaz de morrer sem confessar. É seu jeito!

Cuidado com um mineiro ele saberá usar a sua melhor arma contra o inimigo. Não é violento ao pé da letra,  mata o sujeito com um sorriso, e com a língua. É a sua vingança.   Mineiro não precisa andar armado.  Porque quando um sujeito cai na língua do povo aqui em Minas, ele está totalmente perdido:  Morto!

Sobre a autora: Historiadora e pesquisadora da religiosidade popular do Centro-Oeste de Minas Gerais, graduanda em Direito.

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