Por
Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)
Em 1891, dois anos após o falecimento de
Cruz e Silva, foi editado em Paris “O Hissope”, obra-prima do poeta.
No Canto V, narra a visita que o deão da
Sé de Elvas, José Carlos de Lara, fez ao Convento dos Capuchos.
Ao percorrer a cerca do mosteiro, deparou
com espanto com estatueta. Na base havia o nome de alguém, antecedido de Monsieur.
Interrogou curioso a padre jubilado, que repousava no claustro, se tal
individualidade era francesa.
Responde-lhe, solicitamente o
padre-mestre:
“ (…) Não se
admire.
Que isto está
sucedendo a cada passo:
Ao pé de cada
esquina, hoje, sem pejo,
Se trata de
monsieurs os Portugueses.
Isto, senhor,
é moda; e, como é moda,
a quisemos
seguir; e sobretudo
mostrar ao mundo que
francês sabemos.”
Passaram mais de duzentos anos e a mania
do estrangeirismo, agora anglicanismo ou americanismo – será complexo de
inferioridade?! – continua. A diferença é que o francês deu lugar ao inglês.
Treinador de futebol é mister;
fotografia tirada pelo retratado, é selfie; ama é baby-stter;
filme publicitário, é trailer; camisola de algodão, é T-shirt;
vaporizador, é spray; atraente, é sexy; passatempo, é hobby,
e por ai adiante…
Ao deambular pela minha velha cidade,
encontro tantas palavras estrangeiras, que chego a duvidar que esteja em
Portugal! … Em breve serei estrangeiro na minha própria pátria…
Outrora éramos afrancesados. Eça dizia que
a nossa cultura – inclusive a dele, – era francesa. De Paris vinha: a língua, a
moda e a civilização.
A obra do genial escritor está enxameada
de galicismos. Eça foi excelente estilista – o maior da literatura portuguesa,
– mas não purista da língua.
Ninguém consegue aprender a escrever,
correctamente, a nossa língua, lendo obras queirosianas.
A tendência de macaquear o que vem de
fora, é característico do povo português e brasileiro - ou não fossem irmãos…
Jovem paulistano pediu-me para comprar, na
Europa, relógio de marca. Os que eram fabricados em Manaus, não
prestavam…Segundo sua opinião. Eram feitos por brasileiros…
Em 1862 A .A. Teixeira de Vasconcelos, em crítica
ao livro “ Coração, Cabeça e Estômago “ de Camilo, afirmava:
“ Já não há portugueses. Essa gente que
por ai anda que elege e é eleita, que faz leis no parlamento, e que cumpre ou
se insurge conta elas, é gente estrangeira
“Pois são lá portugueses esses senhores
que dormem em camas de molas, cobertas com édradon, que almoçam chá peko e
uchon, que luncham paté de foie gras e sardinha de Nantes, que janta sopa à
julienne, boeuf à la mode, salmis de perdreaux auz truffes, e não sei quantas
outras francesices; (…)
Agora, para se ser culto, na nossa terra,
basta falar fluentemente o inglês; e dizem-me que será analfabeto, no futuro,
quem não aprender o mandarim! …
Vai o brasileiro em visita à Argentina, e
logo tenta balbuciar palavras castelhanas. Visita o Brasil, o argentino, e
exprime-se na sua língua pátria.
Parece haver vergonha de falar português.
Há emigrantes de língua portuguesa, em países europeus, que proíbem os filhos
de falarem a língua dos avós. Asseveram que é para não sofrerem vexames, na
escola! …
Futebolista, jornalista, escritor,
cientista, político, que visite ou viva no
estrangeiro, afadiga-se para aprender a língua da terra; todavia raros são os
estrangeiros, que residem em Portugal, que aprendem a nossa língua. Há
ingleses, que vivem há mais de vinte anos, no Algarve, e só falam inglês! …
Ao abordar este tema, num hotel de
Badajoz, com professora reformada, declarou-me: que é devido ao facto de sermos
mais inteligentes e mais capazes a aprender línguas! …
Sendo assim, por que somos tão
complexados?...
Quando chegará o dia, em que os
portugueses e brasileiros, sentirão orgulha na sua língua?
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