Por Urda Alice Klueger (Enseada de Brito, SC)
Para
Nelson Rosembrock[1]
Tinha alguém
que dizia isto, todos os dias, enquanto eu era criança, lá na década de
sessenta. Era um radialista que viera anonimamente para Blumenau lá por volta
de 1960, e que, meses depois, em 1961, acabara sendo o herói da cidade, quando
perversa enchente tomou conta do nosso vale, deixando gregos e troianos ou
submersos, ou ilhados e sem comunicação. Foi aí que entrou em cena o nosso
radialista: ele permaneceu 72 horas ininterruptas no ar, transmitindo recados,
achando gente perdida, organizando uma campanha de ajuda aos flagelados –
enfim, era a única voz que o rádio nos trazia, uma voz que transmitia
esperança. O nome desse radialista era Nelson Rosembrock.
Ele
chegara anonimamente em Blumenau, pouco antes – depois da enchente, passou a
ser a pessoa mais conhecida da cidade. Ninguém esquecia do serviço que prestara
à comunidade, daquelas 72 horas no ar, da “língua endurecida” que resultou
daquelas 72 horas, conforme ele mesmo me contou. As homenagens foram muitas, e
seus programas diários transformaram-se em sucesso. Quem não se lembra do
“Pick-up da frigideira”, de “Conversando com o turista”, de “ A vida com
alegria é outra coisa”? Ele me contou detalhadamente sobre cada programa
desses, ano passado, quando tive a felicidade de gravar longa entrevista com
ele, para os arquivos de História do município e da FURB. Eu, criança,
era contemporânea dos programas dele, e trouxe para a minha vida uma coisa que
ele sempre afirmou: ”A vida com alegria é outra coisa”. Mais tarde, adulta,
passei a classificá-lo como o nosso filósofo blumenauense (embora tenha nascido
em Brusque) – quem mais ficara afirmando publicamente, por anos e anos, que a
vida com alegria é outra coisa?
Obrigada,
seu Nelson Rosembrock, por ter me ensinado isso! Garanto-lhe que ouvi-lo por
tantos anos, sempre a repetir tal verdade, fez-me absorvê-la, e tornou muita
coisa diferente na minha vida.
E se alguém
não conhece esse nosso filósofo caseiro, e pensa que ele já dependurou as
chuteiras (afinal, ele começou em rádio em 1948), vou dar o mapa da mina:
Nelson Rosembrock continua no ar, aos domingos, a partir das cinco da manhã, na
Rádio Nereu Ramos. Se você acordar cedo, dê uma ligadinha no programa dele.
Quem sabe, como eu, você aprenda que a vida com alegria é outra coisa.
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