Por Paccelli José Maracci Zahler (Brasília, DF)
Dispo-me de vaidades, orgulhos tolos, inveja e
esperança, e penetro nas brumas do tempo, no subconsciente, no fundo da alma.
Afasto-me do mundo, dos amigos, do trabalho e vou em
direção às montanhas em busca de respostas.
Quero entender o que se passa comigo! É claro que não
almejo a iluminação como Sidarta Gautama, apenas alguns sinais que me permitam
caminhar seguro até o final dos meus dias.
Há muito tempo sonhei, esperei e consegui o que
queria. Percebi então que meu objetivo não tinha mais o mesmo sabor. Enquanto
sonhava, enquanto lutava, sentia um sabor especial, exclusivo, um tempero feito
somente para mim. Ao atingí-lo, pareceu-me insosso, sem graça, e eu não estava
feliz. Minha felicidade estava na luta, no meio do caminho, não no final!
Por quê? Foi a pergunta que me torturou durante todos
esses anos. Por quê? E a resposta nunca chegou aos meus ouvidos.
Em vão, refugiei-me em religiões, em orações, em
sociedades secretas. Li muitos livros de Magia, de Alquimia, de Filosofia, e
nada! Procurei acumular todo o conhecimento disponível. Não encontrei a
resposta!
A leitura de muitos livros, a busca insana em
bibliotecas, não me tornou sábio. Deu-me conhecimento de muitas coisas. Coisas
que com o passar do tempo fui esquecendo. Esquecendo porque a memória foi apresentando
falhas.
Depois de muitos anos, percebi que não conhecia mais o
meu rosto. Aproximei-me do espelho cheio de expectativa e percebi rugas em
profusão, cabelos brancos, olhos tristes e cansados. Eu ficara velho! Eu estava
velho e não encontrara respostas!
Tirei a roupa com certa dificuldade. Meu corpo estava
flácido, minhas mãos um pouco trêmulas, minha coluna vertebral estava arqueada,
minhas pernas estavam finas e meus músculos estavam flácidos e atrofiados. Eu
esquecera que tinha um corpo, tal a minha sede de conhecimento. Minha vida se
resumira em carregar livros para todo o canto e esquecera de cuidar do meu
corpo. Não obtivera sabedoria e a minha saúde estava por um fio. Valera a pena?
Olhei em torno, meus livros tinham envelhecido também.
Estavam empoeirados e desatualizados.
Dirigindo-me à escrivaninha, ainda tive tempo de matar
uma lepisma que insistia em roer as páginas amareladas de um manuscrito.
Um raio de sol conduziu-me até a janela. Observando
atentamente a paisagem, uma pergunta aflorou em meu cérebro, talvez, a mais
cruel de todas as minhas dúvidas: "Teria sabido viver?"
Nenhum comentário:
Postar um comentário