Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Às vezes paro e penso em tudo. Custo a crê na
mulher que floresceu em mim. Foi tanta opressão de todos os lados que eu pensei
que a sociedade fosse me moldar. Pensei como seria o meu cabelo liso, se eu
seria bem aceita. Tive um período de raiva, não queria saber mais do meu
cabelo, estava difícil cuidar. Eu me sentia sozinha sem os amigos. A solidão
parecia bater na minha porta. Primeiro que namorar estava difícil.
E continua sendo. Trançar o cabelo foi a melhor
forma, preso era como se eu me escondesse e ninguém mais pudesse me ver. Eu
queria ser invisível, pelo menos a cor da pele não ia fazer a diferença, o meu
corpo fora dos padrões não ia ser julgado.
Nossa, até parece um exagero meu! Mas não é
exagero e nem lamento, a mulher preta já nasce oprimida. A boneca é branca, nos
comerciais 5 crianças brancas e uma preta como atestado de que não existe
racismo no Brasil, e sim uma democracia forte.
Nas minhas lembranças ter um diário era coisa
para menina branca. O que uma menina preta tinha para escrever de tão
importante? Eu ouvi inúmeros questionamentos quando ganhei o meu primeiro
diário. E eu só queria escrever. Acho que já ali nascia em mim essa escritora
que eu sou.
Mas quando você começa você começa sem apoio e
literalmente sozinha. É um mundo estranho para muitos principalmente para a
família. Eles entendem como trabalho aquilo que dá estabilidade e carteira
assinada para receber o seu dinheiro todo fim do mês.
Fazer a sua própria escolha seguir o seu caminho
requer coragem. Algumas vezes vem a rejeição. Aí você tem que aprender a ser
forte mais do que o normal. O tempo todo temos que nos posicionar e jamais
abaixar a cabeça pra sociedade.
Clarisse
da Costa é militante do movimento negro e poetisa em Biguaçu SC.
Contato:
clarissedacosta81@gmail.com
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