sexta-feira, 1 de novembro de 2024

HINO NACIONAL BRASILEIRO EM GUARANI


Executado pelo Cacique Robson Miguel e por Karai Basílio.

POR QUE SE USA ESTILO ESCURO?

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)

 

Os que se dedicam às letras, normalmente principiantes, mosqueiam a prosa de palavras "difíceis", rebuscadas no dicionário, e frases enigmáticas, para impressionarem o leitor.

" Turvam a água, para parecer profunda", como disse Nietzsche.

Porém os mestres, ensinam que se deve escrever, como se fala, desde que se fale bem.

                   Na " Enfermaria do Idioma", João de Araújo Correia, assevera: " A maior parte dos portugueses, principalmente os portugueses que escrevem, não amam a simplicidade. Todos os dias inventam palavrões, redundâncias de frases, verbos especiais para definir complicadamente coisa, que são a própria singeleza."

Karl R. Popper, aconselha que se deve expor com simplicidade: " Quem não for capaz de se exprimir de forma clara e simples, deve permanecer calado, e continuar a trabalhar, até conseguir a clareza de expressão." - " Contra as Palavras Grandiloquentes" - " Em Busca de um Mundo Melhor".

Ao ler tais pareceres lembrei-me de quase tudo que é didático e cultural, que se publica no nosso país, e na maioria das vezes, só é entendido por especialistas, visto serem apresentados de modo que o simples mortal, dificilmente consegue digerir.

O mesmo hermetismo se revela, muitas vezes, em lições proferidas por professores e conferencistas, ansiosos de deslumbrarem o auditório.

Acontece o mesmo, infelizmente, em homilias de sacerdotes, recheadas de citações latinas, com o fim de demonstrarem erudição, e deslumbrarem os ouvintes, deixando os fiéis em jejum.

Em vez de tornarem a cultura acessível., embrulham-na em opaca couraça.

Será assim? Ou estou enganado?

Nas " Confissões" -lº-12, Santo Agostinho, escreveu: " A pobreza da inteligência humana, manifesta-se na abundância de palavras."

É como dizia Nietzsche: " Turvam a água, para parecer mais profunda".

MÚSICA INDÍGENA CONTEMPORÂNEA: BRÔ MCs


Rap indígena composto por Bruno "New", Charles, Clemerson e Kelvin.
Reserva Jaguapiru, Dourados, MS.

UM BALDE DE ÁGUA FRIA

 

Por Dias Campos (São Paulo, SP)

 

          Quem já não teve uma ambição perseguida com ardor, um ideal por que valesse a pena lutar, uma paixão a que se entregasse por completo?

E quem já não acabou sendo surpreendido com um balde de água fria derramada sobre tudo isso?

Pois esse infortúnio também aconteceu comigo.

Mas antes de contar o que houve, quero abrir um parêntese para afirmar que esse tipo de reviravolta tem raízes tão antigas que até os gregos já sentiram o seu amargor.

Neste sentido, todos já ouviram falar da guerra de Troia, narrada na Ilíada por Homero. Depois que a bela Helena foi seduzida e raptada por Páris, Menelau, o soberano de Esparta, resolve investir contra aquele reino para salvar a esposa. O cerco dura nove anos! E os gregos (Aqueus) acabam tomando e saqueando a cidade no ano seguinte, graças a um ardiloso presente – um gigantesco cavalo de madeira, que continha soldados em seu interior e que foi transposto para aquém de suas fabulosas muralhas.

Ocorre que, no início da guerra, Zeus, o senhor dos deuses, ainda apoiava os troianos. Ora, sua divina vontade jamais poderia ficar submetida à dos gregos, simples mortais. Deste modo, usa do seu poder para insuflar Heitor, o filho do rei de Troia, a combater com muito mais valentia. E o príncipe toma a frente das falanges e luta como um leão, o que elevou a moral dos soldados e os estimulou a avançarem contra o inimigo.

E como concluiu Homero, Zeus “Deu a vitória aos Troianos e aos Aqueus pôs em fuga.”

Foi ou não foi um balde (olímpico) de água fria despejada sobre as pretensões iniciais gregas? E como foi!

Fechado esse parêntese, passo a contar os meus casos; pelo menos os baldes que mais me marcaram. Só que vou me prender à fase da adolescência, uma vez que a água que me jogaram na madureza não me esfriou tanto assim.

Mas como seria trivial se eu simplesmente narrasse os próximos episódios – uma dupla relativa ao coração –, que tal se eu os indicasse por meio da literatura? Afinal, quanto mais interessante for esta crônica, melhor.

Daí que, em Os sofrimentos do jovem Werther, Goethe conta a história de um amor não correspondido. Werther está apaixonado por Carlota, mas a moça já está comprometida com um nobre. Apesar desse obstáculo, ainda sopra no espírito do rapaz um filete de esperança. E ele vai ao seu encontro, e começam a conversar. Lá pelas tantas, a jovem resolve acabar com esse desconforto e o aconselha a procurar outra mulher. E recomenda que faça uma viagem a fim de se distrair.

Seria de se imaginar, leitor amigo, que Carlota já teria vertido sobre Werther toda a água fria do seu balde. Que nada! Veja o arremate que ele ainda teve que engolir: “Procure e encontre um objeto digno do seu amor; depois, volte e gozemos todos juntos a felicidade que só uma verdadeira amizade pode dar!”

          E não é que esse trecho indica o que se passou comigo na puberdade?

Posso garantir, no entanto, que não fui viajar, que demorei a procurar outro amor, e que, sobretudo, recusei a amizade daquela que me desprezou. – O orgulho ferido tem dessas coisas...

          Mas este outro caso foi o mais traumático. E o indicarei por meio de A divina comédia.

          Dante Alighieri, então com nove anos, está brincando com seus amiguinhos na rua. De repente, para o que fazia e fica boquiaberto. É que seus olhos encontraram os de Beatriz, que contava a mesma idade. Depois de vencer a timidez, vai ao seu encontro. E após algum tempo sem conseguir abrir a boca, pronuncia poucas palavras, que são correspondidas. Ambos estão apaixonados! – infantil e puramente, é claro.

Mas a menina de olhos esverdeados não se unirá a ele, vindo a falecer aos vinte e quatro anos.

Mesmo passado bastante tempo, e já casado com outra mulher, Dante ainda sofre muito pela morte de Beatriz. E cai em perigosos desregramentos.

          Para reerguê-lo, alternativa não teve Beatriz senão a de mostrar as penas que no inferno aguardam os pecadores. E roga ao poeta Virgílio para que o guie nesta cruzada.

Não será preciso mencionar as cenas indescritíveis desta viagem. O fato que nos interessa, entretanto, acontecerá quando Dante, depois de ter peregrinado pelo inferno, passa pelo purgatório e alcança um planalto. E antes de chegar ao paraíso, consegue entrever, através de uma nuvem de flores, “formosa dama envolta em verde manto, trajando vestes cor de fogo.” Logo após, sem que seus olhos pudessem reconhecer quem era, o viajante começa a perceber a sua profunda influência. Por fim, ele pensa em compartilhar o que se passava com seu guia, que já tinha partido: “Não me resta nas veias uma só gota tranquila de sangue, eis que me sinto arder nas chamas do amor antigo!” Sim, depois de testemunhar horrores inimagináveis, ele finalmente reencontra a sua alma gêmea!

          E quais seriam as palavras que deveriam ser trocadas entre pessoas que se amam, que foram separadas por imposição do destino, e que conseguem se reencontrar depois de tantas décadas? Pelo que transcrevi até o momento, você já teria condições de deduzir quais seriam as de Dante. Mas, e as de sua musa? Pois veja o que ela falou, e qual foi a consequente reação: “‘Não te enganas: sim, sou eu, eu, Beatriz! Como ousaste subir até aqui, ao monte? Não sabes ser sítio reservado ao homem ditoso?’ Baixei os olhos para o rio, mas, vendo minha imagem refletida nágua, volvi-os para a relva, tanta vergonha me havia tomado.”

          Haverá de concordar comigo, amigo leitor, que não era bem essa a recepção que Dante tinha em mente... Ou, dizendo de outra forma, não um, mas, sim, dezenas de baldes de água polar foram entornados sobre suas esperanças!

          Pois assim aconteceu comigo.

Há, porém, um lado positivo. Depois que reencontrei o primeiro amor, e a chama do desejo reacendeu, a invertida que tomei foi suficiente para que eu abandonasse para sempre todo e qualquer platonismo. – Menos mal que não precisei estagiar no inferno...

          Mas sejam nos amores adolescentes, sejam nos assuntos bem mais sérios, o fato é que ninguém jamais gostou de levar um balde de água fria.

          Pudera! Às vezes saímos tiritando!...

Só que esses reveses, por mais doídos que sejam, têm, sim, a sua função educativa – são eles os verdadeiros aguilhões do nosso amadurecimento.


(Integra a Coletânea do I Prêmio "Ruth Guimarães" - Crônicas Selecionadas)

A ARTE POÉTICA DE VALÉRIA GURGEL

 Por Valéria Gurgel (Nova Lima, MG)


X ENCONTRO INTERNACIONAL DE ACORDEONS DO RIO DE JANEIRO



Por Ieda Thomé (Guaratiba, RJ)

Realizou-se nos dias 19 e 20 de outubro, no Centro de Referência da Música Carioca Artur da Távola, na Tijuca, o X Encontro Internacional de Acordeons do Rio de Janeiro, sob a coordenação de Iêda Thomé, tendo como Diretor Geral Morais do Acordeom e Diretora Musical Cris Morais.

O Encontro Internacional de Acordeons do Rio de Janeiro, teve início em 2015, sempre no terceiro final de semana de outubro.

Se apresentaram músicos da República Tcheca (Igor Barboi); Itália (Mario Toscano); Uruguai (Maria Del Huerto, Jorge Terra e Sergio Gomez); Venezuela (Jesus Suárez) e Suiça (Fritz Meyer). Tiveram oportunidade de mostrar suas aptidões os acordeonistas brasileiros: Camelo do Acordeon (Ceará), Jorge Provietti (Natividade, RJ), Josevaldo (Duque de Caxias, RJ), Francisco Soriano (Teofilo Otoni, MG), Sussuca (Rio de Janeiro, RJ), Paroara do Acordeon (Caiçara, PB); Nélio Torres (João Pessoa) e Alan Cardec (Caratinga, MG).

Como atração extra tivemos Sueli Faria e seu Sax Barítono, Jesus Suárez com sua harpa Venezuelana, Nelio Torres com violão, rabeca e pandeiro, Morena Flor com sua voz e Vida Feliz com o Grupo de dança apresentando o Caboclinho, Maracatu, Frevo e Samba.

Também houve um momento de descontração no Centro de Tradições Nordestinas, em São Cristóvão com apresentação no palco.

Como apresentadoras do evento contamos com a colaboração de Morena Flor e Gina Teixeira.

O Grupo de Dança da Vida Feliz, organizadora do Encontro Internacional de Acordeons do Rio de Janeiro, é formado por pessoas da terceira idade e pessoas especiais, que o professor de educação física Rafael Rocha treinou para este momento.

A dança do Caboclinho é uma manifestação cultural popular brasileira que representa cenas de caça, combate e colheitas.

O maracatu é uma dança folclórica brasileira que combina música, dança e elementos de referência a cultos religiosos. É uma manifestação cultural de origem africana, que surgiu no estado de Pernambuco no século XVIII, durante o período de escravidão. 

O Frevo nasceu no Recife, no final do século XIX, a partir da mistura de ritmos como a marcha, o maxixe, o dobrado e a polca, e de elementos da capoeira. Em 2012, a UNESCO considerou o frevo Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. O frevo é uma manifestação cultural que conta a história do povo e do estado de Pernambuco, e é celebrado em eventos culturais como o Carnaval do Recife e o Galo da Madrugada. 

O samba é uma dança e um gênero musical brasileiro que se originou na região do Rio de Janeiro, no início do século XX. É um dos símbolos da cultura brasileira e um patrimônio cultural imaterial do país. 

A missão da Vida Feliz é difundir atividades educativas, esportivas, sociais e culturais, ecológicas e científicas, informatizadas ou qualquer outra que facilite a difusão da cultura e do conhecimento. Criar assessoria técnica nos campos: social, educacional, ecológico, esportivo e cultural respeitando os preceitos da lei brasileira e acordos internacionais. Estimular a parceria, o diálogo local e solidariedade entre os diferentes segmentos sociais, participando junto a outras entidades de atividades que visem interesses comuns.

O acordeom no Brasil foi muito difundido, na década de 1950 era comum encontrar até 2 acordeons na mesma casa. Esse instrumento com várias configurações se adaptou com a cultura de todos os povos, quer seja em sua música popular folclórica ou erudita. Nos anos 60 com o advento do rock o acordeom perdeu muito de sua força. Hoje o instrumento está difundido e apreciado em todas as classes sociais sendo apreciado em festas populares e em teatros com orquestras, executando belíssimas peças de concerto por exímios acordeonistas amadores e profissionais. Assim sendo se quer com esse evento a preservação cultural do acordeom. Vida Feliz – associação de atendimento, apoio, valorização e orientação à terceira idade, dedicada a atenção de idosos, sem fins lucrativos, administrada por um Conselho Diretor integrado por voluntários, tem a missão de reunir pessoas acima de 60 anos de idade, sem qualquer discriminação, para convivência, realizações, criações, aprendizado com pessoas de mesmos interesses, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade, em que desenvolvem as atividades físicas, culturais, lúdico-recreativas e educacionais. As atividades, além de proporcionar momentos prazerosos e retirar o idoso da ociosidade, envolvem questões importantes como estímulo dos mecanismos cognitivos (memória, atenção, percepção, raciocínio, julgamento, criatividade), integração intra e interpessoal, e possibilita, dependendo da atividade proposta, o estímulo dos movimentos motores. Os idosos têm a necessidade e o direito de sentirem-se bem e importantes no meio em que vivem. Para isso as ações devem ter como objetivo maior a integração do idoso ao seu meio, procurando mantê-lo com o máximo de capacidade funcional e independência física e mental, na tentativa de evitar ou minimizar as consequências das doenças crônicas sobre o organismo. Desta forma que a organização do Encontro Internacional de Acordeons está plenamente justificada com nossa missão, na perspectiva de garantia de acesso a atividades que propiciem qualidade de vida, disponibilizando atividades socializadoras, informativas e recreativas, através de sua inclusão em programas e projetos sociais. Portanto, a proposta de realização deste evento vem de encontro à necessidade desta demanda, bem como das expectativas levantadas com diagnostico da realidade, enquanto instrumento de relevância para a melhoria dos serviços prestados e consequentemente melhoria da qualidade de vida de nossos cidadãos e à construção de políticas públicas de inclusão direcionada a terceira idade, na qual se justifica o projeto.

 

Sobre a autora: Ieda Thomé é Bacharel em Enfermagem e Pós-graduada em Gestão da Saúde da Pessoa Idosa. É fundadora e editora do “Informativo da Vida Feliz”.  Acadêmica Imortal (cadeira 096, patronesse Branca Azevedo) da Academia de Letras de Piracicaba, desde novembro de 2006. Recebeu Moção de Honra ao Mérito da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em 2003; tendo sido agraciada com o Prêmio Lions de Cultura em 1998 e em 2006. É fundadora e coordenadora de projetos da Associação “Vida Feliz” (Associação de Atendimento, Apoio, Valorização e Orientação à Terceira Idade).

 

 

UM RAIO DE SOL À NOITE

Por  Elroucian Motta  (Porto Alegre, RS)

  

A voz traz um resquício de verdade

Um gesto sutilmente elaborado

E inda que de tal sorte deserdado

Um esboço, uma brisa de saudade.

 

Quimeras se imiscuem na paisagem

Deixando um rastro de luz e desgosto

Nos olhos um lirismo de Ariosto

No peito um verso triste de Bocage.

 

Tão grande, tão profuso sentimento

A curvatura azul do firmamento 

Lança ao olhar vazio do caminhante.

 

Um facho de sol cruzando o horizonte

Carrega um lastro de esperança e fonte

Sobre a vida em seu pulsar incessante.

 

 Sobre o autor: Escritor, poeta, revisor de textos e tradutor.

 


 

REFLEXO

Por Elroucian Motta  (Porto Alegre, RS)

 

Quando, de fato, me vejo

– Não no espelho de um quarto 

ou de um banheiro – 

Mas no autorretrato invisível dos sonhos

No paradigma de mim mesmo

Revelo-me por inteiro

– E ainda assim incompleto – 

Na finitude do que não compreendo.

 

 Sobre o autor: Escritor, poeta, revisor de textos e tradutor.

 


POESIA

Por Elroucian Motta (Porto Alegre, RS)

 

A poesia é à toa 

A poesia é ateia

 

A poesia entoa

Um cântico silente

 

Dorme na ideia

De uma dor ausente.

 

 Sobre o autor: Escritor, poeta, revisor de textos e tradutor.


SONHO

Por Elroucian Motta (Porto Alegre, RS)

 

Num sonho breve

Numa noite imensa

A velha casa de madeira

Incrustada na periferia do mundo.

 

Via-me à mesa da sala em penumbra.

Na parede, um quadro apagado.

Um grilo cricrila ao longe

E um vento frio perpassa meu corpo.

 

Dorme a velha casa.

Eu, mais um pouco.

 

 Sobre o autor: Escritor, poeta, revisor de textos e tradutor.

 

HOMEM IDEAL PARA MIM

 Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


O homem ideal para mim.

É aquele que ama a Deus.

Que serve e tema a Deus.

É busca Deus comigo.

 

O homem ideal para mim.

É aquele varão paciente.

Bondoso e calmo.

Romântico e humilde.

 

Suas ideologias são as

mais inteligentes.

Suas palavras não

são palavras em vão.

São sábias e doces.

 

É sábio e calmo.

Tem Deus no centro,

da sua vida.

Princípios e valores ele tem.

 

Esse homem é para mim.

Sua fé é como um grão de mostarda.

Esse homem está no Canadá.

Ou no Caribe ao mar.

 

Esse homem ama a Deus.

Esse homem serve a Deus.

Esse homem é para mim.

Esse homem estar destinado a mim.

SELETIVA OU EXIGENTE?

 Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Seletiva ou exigente?

Não sei que tipo de moça

eu sou no amor.

Não vou aceitar migalhas.

 

O cavaleiro tem que ser:

Extremamente romântico,

cristão apaixonado e fiel.

Amar a cristo.

 

Inteligente e respeitoso.

Amar a Deus acima de tudo.

Servir á Deus acima de mim.

Viver para cristo.

 

Romântico e criativo.

Fiel e meu amigo.

Manso e humilde.

Sou seletiva ou exigente?

 

Ah! Não sei.

Migalhas não aceito.

Seletiva um pouco.

Exigente sou talvez.

 


PAROLE: A MULHER DRAGÃO (1ª PARTE)

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

‘’Quando bater na minha porta...

 Quando me pedir...

...para ser sua!

É amor? É desejo?

Amor doce

Doce amor correspondido

Soa como um grito.

Meu amor, como em um conto,

Mas é pura realidade.’’  

Patrícia Raphael

 

Elas atravessaram a via, movimentada, como se fossem duas crianças travessas. Caminhavam de mãos dadas, parecia que não se importavam com os olhares furtivos de reprovação, de alguns transeuntes, que apreciavam a cena matinal. Uma tinha a pele alvíssima, de quem raramente experimentava ver a luz do dia. De cabelos louros bem curtos, seios fartos, olhos vívidos e verdes e uma pequena tatuagem verde, no pulso esquerdo, ladeado de duas estrelas da mesma cor. Estava escrito em fonte manuscrita e em itálico: Agnes. Usava um vestido floral visco, usava uma delicada tiara artesanal amarela na cabeça, calçava sapatilhas Ires florida e seu rosto não possuía maquiagem alguma. Apesar de estar na meia idade, ainda mantinha o frescor primaveril, de quem estava descobrindo a vida naquele exato momento.       

A outra mulher ao lado, era a antítese da outra, com a pele amendoada, seios pequenos, cabelos longos, negros e finos, que iam até a cintura, olhos castanhos claros e ligeiramente puxados, o rosto levemente maquiado. Ela possuía também uma tatuagem tribal colorida que começava no ombro esquerdo que ia até o cotovelo e vestia nos pés, um sapato Poeme floral. Usava um par de brincos feitos de penas sintéticas coloridas, que imitavam a pena de pavão. E estampava um sorriso radiante, no seu belo rosto, que denunciava os seus vinte anos de idade. Usava um vestido esvoaçante, vaporoso, transparente e muito colorido.

 As duas mulheres, tomaram o caminho do Bar-café Garibaldi, não muito longe de onde as duas moravam. Caminhavam sem muita pressa, como se o tempo estivesse ali, então somente para servi-las. Alcançaram o Bar-café Garibaldi rapidamente, e lá defrontaram a seguinte cena. O recinto estava quase vazio naquele começo de manhã de sol outonal, havia ali poucos frequentadores. Na parede dos fundos do recinto, réplicas dos quadros de Salvador Dali, Picasso e Matisse que pareciam querer brigar entre si. Assim como o cardápio em português brasileiro, espanhol europeu e em inglês britânico, publicado na parede lateral esquerda do recinto, e distribuído nas mesas. As cores: vermelha, verde e branca, em diferentes tons, reinavam de forma absolutas, em toda parte, estavam presentes do teto até o piso. As mesas metálicas, contrastavam com as sofisticadas cadeiras de plástico. Uma caixa registradora antiga, estava em destaque no balcão, uma peça genuína e decorativa, pois não funcionava há anos. Havia também um pequeno grupo de jovens funcionários, todos e todas, devidamente uniformizados, sonolentos e apáticos, eles e elas estavam sentados, em um silêncio absoluto, atrás do balcão a esperar da clientela. Na cozinha, o barulho alto de risadas parecia não incomodar ninguém, que ali estava. No canto direito, havia uma moderna jukebox, tocava um sucesso ocasional e descartável do momento, em volume bem baixo.

Quando as duas ‘’criaturas’’, adentraram de mãos dadas, porta adentro, os frequentadores habituais, fizeram cara de muxoxo. Já os clientes acidentais, pouco se importaram com a presença das duas ‘’criaturas’’, que chegaram uns minutos antes da duas. Então a morena, de pele amendoada, desfilou de forma sensual, foi até o fundo do Bar-café Garibaldi, colocou uma nota na jukebox, chamando atenção de todos para si, até mesmo do pequeno grupo de jovens funcionários. A morena, delicadamente, dedilhou alguns números na tecla da máquina, não disfarçando a impaciência de quem procurava alguma coisa, mas não encontrava. Então a máquina, passou a reproduzir um sucesso obscuro, uma música romântica antiga e cantada em francês, para alegria da morena que nessa hora, era toda sorrisos. A música, era executada bem alto e tomou conta do lugar por inteiro. A teuta, ficou parada na porta, apreciando os trejeitos da amiga, ela procurava se conte, mas em vão, um pequeno sorriso que brotou na face da loura. A morena, era só sorriso, enquanto retornava à porta de entrada. As duas, se entreolharam e decidiram de comum acordo tácito, ocupar uma mesa perto da porta de entrada. Então se sentaram e aguardaram para serem atendidas e servidas.

E lá fora carros, ônibus, motocicletas, carroças, bicicletas e transeuntes desavisados, circulavam na via rápida, estavam alheios ao que ocorria dentro do Bar-café Garibaldi. Na embaúba, que cresceu ao lado esquerdo do Bar-café Garibaldi, onde o Bem-te-vi fêmea fizera o seu ninho, um pouco acima dos fios de alta tensão. O pássaro silvestre, alimentava as suas duas crias, nascidas há poucos dias. Elas estavam famintas, naquele começo de manhã de sol outonal. Também estavam alheios de tudo e de todos, seguiam as suas existências primitivas, sem se importar com nada, para além das suas próprias existências selvagens.

Fragmento do livro: A casa de teto verde, de Samuel da Costa, contista, cronista, poeta e novelista em Itajaí, Santa Catarina.

 

OPERA MUNDI: O CLUBE DOS ASSASSINOS (1ª PARTE)

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

‘’Mesmo com o coração machucado,

Escrevo, escrevo porque preciso

Preciso nutrir a minh’alma.’’

Fabiane Braga Lima

 

            Omar estava cansado, fartamente cansado, pois fazia tempo que um sentimento devastadoramente ruim, o atingira no seu âmago mais que profundo. Não era vergonha, muito menos culpa, não eram antigas dívidas, lhe cobrando as suas contas. Era algo bem pior, era uma infâmia, um opróbrio, algo aterrador, que circundava o bem-sucedido empresário nonagenário. O homem idoso e muito rico, se angustiava e debatia em si, em perdidas horas impróprias.

            Naquele início de manhã outonal, Omar abriu os olhos e fixou o olhar turvo, para cima, estou vivo, disse o angustiado Omar para si mesmo. E ele sentiu uma presença perturbadora, ele ergueu a cabeça lentamente e procurou em volta algo, no amplo quarto de dormir. O homem idoso, não procurava alguém, sim algo, alguma coisa e lá estava o que tanto procurava, que estava afastada do pé da cama.

           Era uma criança pequena, uma menina magérrima, de braços mirrados, lábios finos, os fundos e vazios olhos amarelos rasgados. O olhar, parecia de uma juíza severa e cruel, a condenar Omar, a uma pena longa, no pior das masmorras. A pequena menina alva, de leves vestes alabastrinas, com ares de nobreza, traços negroides, longos e lisos cabelos brancos, dentes nevados e serrados à mostra, em um sorriso tétrico, lhe davam uma aparência alienígena. A menina usava uma suntuosa bata cerimonial, intercalado com detalhes em temas africanos e a indumentária lhe cobriam do pescoço aos pés. Os delicados colares no pescoço, ricamente ornados, pareciam vir de outra realidade, de um outro plano astral.  

            A criança pequena sorrindo, lentamente se deslocou ao lado da cama e alcançou a cabeceira da cama, ela chacoalhava as pulseiras de marfim e foi com dificuldades que Omar percebeu que ela flutuava. Aterrado e paralisado em retrospectiva que iam a viam, Omar via a criança chegar mais e mais perto. O nonagenário, tentou fechar os olhos, não conseguiu e tentou pedir ajuda e não conseguiu. A menina, chegou bem perto e ao pé do ouvido de Omar e ela sussurrou em um idioma desconhecido, era um som alto, melodioso, metálico e cheio de ira, que não eram terrenos.

            O som alto e estridente, acordou o rico empresário, apavorado Omar levou a mão direita ao lado, procurando a esposa e encontrou o vazio, pois Matilde, a companheira da vida toda, de Omar, havia falecido há décadas. Omar fechou os olhos e dormiu novamente, era um sono profundo e permeado por pesadelos atrozes, em lugares perdidos, desolados e inóspitos cenários abissais extraterrestres.         

         E foi assim, se passaram as manhãs de Omar, foram dias, meses e anos em um ciclo que parecia não ter fim.

 

Fragmento do livro: Em perpétuos ciclos, por Samuel da Costa, novelista, poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina.