terça-feira, 2 de agosto de 2011

CUSCO PRETO

Por Antônio Francisco de Paula

Meu velho cusco preto,
Companheiro de andanças,
Das caçadas e festanças
E gauderiadas pelos pagos,
Nos bolichos e nos tragos
Estava sempre comigo,
Protegendo-me do inimigo,
Rosnando sempre ao meu lado.

Sesteando em riba das patas,
Com as orelhas estaqueadas,
Se criou largando as pulgas,
Entreverado com a peonada,
Nos corredores de estrada,
E lá no fundo do galpão,
Escutando o resmungo da gaita
E tinido de facão.

Os retinidos de esporas,
Relinchos de redomão,
Os berros de terneiros
E do bugio lá no capão,
Estalo de relho e tropel de cascos,
Rangido de carreta no espigão,
Zunidos de argolas de laços,
Nos dias de marcação.

Assim vivia o meu cusco
De rincão em rincão,
Comendo bago na brasa
Nas lidas de castração,
Atocaiando um lagarto
Lá no fundo do chiqueiro,
Correndo pelo potreiro
Atrás de um potro gavião.

Cachorro preto teatino,
Sem raça, criado guacho,
Sempre foi guaipeca macho
Nos rebuliços de campanha,
Desde muito que me acompanha
Demonstrava inclinação
Em pegar boi pelas ventas
E fazer escarvar o chão.

Cusco preto pêlo duro
Que trás as marcas no couro
De chifradas de touro
E manotaço de bagual,
Vive hoje na porta do rancho,
Entravado sobre um baixeiro,
Na sombra de um abacateiro,
Já não pode mais pelear.

Pois, por força do destino,
O guasca foi atropelado
Por um índio desalmado
Que por pouco não lhe matou,
Mas, Cusco..., preto valente
Vai pastoreando deitado,
As lembranças do passado
Do patrão que le criou.

(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural n° 4/2009)

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