terça-feira, 1 de maio de 2012

XXIV


Por Luiz de Miranda

Tu tens que tentar
tocar as estrelas,
destina toda a tua
vida para esta sorte.
Não fiques somente em vê-las.
Acorda-as com o brandir do verso,
que sobe do amor, antes imerso,
e vai luzir com elas
no esplendor da eternidade.

Olho lasso diante da amplidão,
dou mil passos além da solidão.
Meia lua gris, morte e incêndios,
ao esmeril do vento.
O tempo dorme e é inútil,
enorme é a dor que me assedia,
e não estanca esta sangria.
Rosa branca, rosa branca,
és meu mistério e missão,
és quando abril assume
o tendal alto das estrelas.

Aí estou coberto do que amo,
sirvo a mesa e proclamo
que o amor reina mil anos,
e um pouco dele, talvez muito pouco,
passa por nossa alma,
que é lavada no orvalho da manhã
e resplandece na sombra branca
da minha mão magra,
que escreve, dolorosamente, o poema,
esse dilema de uma vida inteira.

Minha covardia é amar demais,
e depois chorar a perda de quem se ama.
Mas sem isso a vida não bate na alma.
Melhor amar e ir morrendo nos seus sulcos,
do que deixar para outro dia o que é diamante,
mar, azul, manto de pérolas, ramo de flores,
que nos envolvem por dentro do corpo.
Sou às vezes navio sem porto,
mas navego os milagres da paixão.
Canto de Sesmaria



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