terça-feira, 1 de maio de 2012

CUIA DE MATE

Por Antonio Francisco de Paula (Brasília, DF)


Esta cuia de mate
que com carinho palmeio
pertenceu a um tropeiro
o finado meu avô
és relíquia de valor
na forma de um coração
símbolo vivo da tradição
que o tempo não sepultou

Trás gravado em teu seio
o mais lindo dos debuxos
um tosco rancho gaúcho
na sombra de uma paineira
e um galho de roseira
com uma rosa desabrochada
figura da prenda amada
a xirua companheira

Cuia morena bendita
torneada a ponta de faca
bocal de metal alpaca
curtida pelos janeiros
cálice dos arrueiros
dos tapejaras de dantes
de índios e bandeirantes
do Rio Grande altaneiro

Toda vez que te empunho
para um mate bem cevado
me vem a tona um passado
na minha imaginação
te vejo de mão em mão
saracoteando faceira
se beijando com a chaleira
numa tertulia  de galpão

E a indiada esparramada
em roda de um braseiro
sesteando sobre os baixeiros
estendidos pelo chão
degustando o chimarrão
na velha bomba prateada
entre o eco das risadas
dos causos de assombração

E um taura lá num canto
entreverado na fumaça
empapuçado de cachaça
curtida de borrachão
dedilhando um violão
num estilo bem campeiro
alegrando os companheiros
a pedido do patrão

E a cuia topetuda
que nem china querendona
se esfregando na cambona
junto a trempe enferrujada
desafiando a peonada
os gaudérios domadores
os tropeiros mercadores
para a última mateada

Velha cuia legendária
herança do tempo antigo
quisera eu ter conhecido
teus parceiros mateadores
poetas, declamadores
payadores de outrora
que forjaram nossa história
com sangue, lágrimas e dores.





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