quinta-feira, 1 de junho de 2017

DE PRÍNCIPE A LORDE DAS LETRAS

Por Clarisse da Costa (Biguaçu,SC)

            Quem diria entre nós mortais um Príncipe Negro? Isso por volta do século XX, logo bem no início, em Porto Alegre na região de São Batista de Ajudá. São João Batista de Ajudá era uma fortaleza portuguesa no Daomé, esta fora muito povoada por negros cristãos. Construída por ordem do Rei Dom Pedro II com a intenção de proteger o importante e forte comércio que até então os portugueses faziam. Isso tudo na Costa de Mina. Bem orquestrado, pois o seu território era à beira mar do oceano Atlântico. Exatamente no golfo da Guiné. Daomé foi colônia de diversos países. Mas vamos ao que interessa. No entanto preciso relatar um pequeno detalhe, talvez fundamental para se chegar ao fato importante da história. Como havia dito, Daomé foi colônia de diversos países, porém por pouco tempo. A Grã-Bretanha comprou a parte de outros ocupantes, o que fez de Daomé propriedade inglesa. E os portugueses, considerados poderosos se contentaram com uma parte pequena da Guiné e com as Ilhas de São Tomé e Príncipe, assim cedendo suas fortalezas.
            E você me pergunta: - Onde está o Príncipe Negro nessa história? Já lhes digo. Antes da compra de Daomé, teve a invasão inglesa ao reino de Daomé, hoje atual Benin, no início do século XX. Assim surgiu o Príncipe chamado Osanielê do Sapatá Erupê. Este, para evitar o derramamento de sangue do seu povo propôs um acordo com aquela temida coroa inglesa, de simplesmente exilar-se. Mas para isso, como uma troca, a coroa britânica manteria sua família e toda sua corte no exílio. Para isso acontecer de fato o príncipe teria que escolher um lugar para onde ficar. E não deu outra, o príncipe escolheu o Brasil, em especial o estado do Rio Grande Sul. Assim levando uma vida social bem intensa, teve uma representação importante na política e religião. Agora na atualidade o negro deixou de ser príncipe pra ser o Lorde das letras. O que é difícil, pois ocupar espaço na literatura brasileira especificamente catarinense é nada fácil, ainda mais sendo negro quiçá negro e pobre.

            Mas diante de um grande número de pessoas brancas o negro, por mérito de seu esforço e trabalho, subiu mais um degrau da sua luta perante a sociedade e conquistou o título de imortal na Academia de Letras do Brasil – Seccional de Itajaí. Na representatividade de Samuel da Costa e Hang Ferrero, eis que surgiu na tarde de sábado do dia 22 de outubro de 2016, os ‘’Lordes das Letras’’. Lordes? Por que não? Chegar onde eles estão não é fácil para qualquer um. A literatura requer muito trabalho, dedicação e conhecimento. E ambos mostram que o negro é capaz de muito mais que a mente humana cria. A mente humana, mal informada e educada criou o escravo, criou toda mística do ser anormal e normal. Criou o mundo todo branco e machista, onde o negro não passa de um mero coadjuvante e a mulher um objeto sexual. O negro no Sul calou a voz dos conservadores, agora abusa da sua catimba e se afirma no mundo.

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