Por Urda Alice Klueger (Blumenau, SC)
(Para Ivani
Butzke e para Minervina Klueger, minha mãe)
Se tivesse
tido a oportunidade, minha mãe teria sido uma geógrafa, tal o seu gosto por
saber tudo a respeito dessa ciência. Mas ela só teve acesso à escolinha rural
de onde se criou, e só pode estudar até a terceira série primária.
Ela teve uma
vida difícil: criou-se comendo do que seu pai produzia nas roças, e ganhando o
vestido novo no Natal, o único do ano.
Eu a conheci
quando ela passava dos 30 anos, e fazia tudo com suas mãos : ajudava a matar
porco, mourejava numa horta e num jardim, criava, desde o choco, as galinhas
dos almoços de domingo, fazia tachos de sabão com sebo e breu, costurava as
roupas das suas três meninas, bordava as nossas fronhas e engomava as nossas
anáguas.
O tempo
passou, o mundo mudou, e minha mãe se reciclou com a mesma velocidade do mundo.
Beirando os 80 anos, ela manda recados via Internet para os netos que moram lá longe, no
Continente Africano; ela tudo sabe sobre o que os políticos fazem em Brasília e
sobre o que os artistas fazem nos bastidores da televisão. Continua mourejando
numa horta e num jardim; produz a metade do que come, e “sem agrotóxicos”, diz
com orgulho. Ela nasceu para ser uma geógrafa, mas não deu. Só que não abandona
a sua inclinação natural. Minha mãe, acredito, é a única mãe de quase 80 anos,
do Brasil, que ganha Atlas novos, no Dia das Mães, quando a Geografia muda, e
num instante interpreta o seu Atlas e descobre os novos países e as suas
particularidades. Se ela tivesse tido a oportunidade da escola!
Quantas mães
se reciclam com a velocidade da minha?
Blumenau,SC,
09 de Janeiro de 2000.
(Obs.: Minha
mãe faleceu em maio de 2009. Neste maio, portanto, faz 8 anos.)
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