Vou escrevendo meus versos,
Com eles vou-me entretendo,
Descrevo, escrevo, reescrevo,
Desescrevo sem parar;
Vou escrevendo meus versos
Para botar no jornal –
Um dia, ponto final
Nos versos que tantos fiz.
Quem sentir falta de mim
Não precisa ir até LÁ,
Pois que LÁ não estarei
Que sofro muito de insônia
Para me estender deitado
Num colchão que, por estofo,
Só tenha torrões de terra:
Serei trapo de papel
No qual estarão impressos
Os meus versos no jornal.
Redemoinharei nas ruas
No corrupio do vento,
Serei barco na sarjeta
E nas cascatas das lombas,
Serei folha de periódico
Pra não pisar no molhado
De salas que se lavou
E serei diário nas vilas
Onde, em série, se recorte,
Para fazer em fileiras
Meninas se dando as mãos
No enfeite de prateleiras;
Bonecas multiplicadas
Braços abertos em cruz
Com seus vestidos de letras;
Ciranda feita à tesoura
As silhuetas rendadas
Das marionetes suspensas
Nos frisos toscos de armários
Das casas dos arrabaldes;
Serei velho matutino
Que empacota compras feitas
Nos pobres bares dos bairros;
Terei, também, mas não digo
Serventia nas privadas,
Seja em tinta de impressão
Ou cilindros de crepom;
Serei embrulho de louças
De inquilinos que se mudam
E roto, todo amassado,
Irão me catar no lixo.
O restante que sobrar
Irá amarelecendo
Na palidez do papel,
Será roído nos pratos
De um refeitório de ratos
Até que, em mim, abras as portas
Um restaurante de traças...
(Nota: Ernesto Wayne é patrono da Cadeira nº 09 da ALB/DF)
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